Notícia

7min leitura

icon-book

2025: o que eu aprendi e o que eu NÃO aprendi

As reflexões e aprendizados que este ano me trouxe

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

22 Dec 2025 11h04 - atualizado em 22 Dec 2025 11h07

Fim de ano chegou e junto vem aquele momento de notar as reflexões e aprendizados que este ciclo nos trouxe.

Mas por conta da minha inquietude cerebral e meu tédio em fazer o que todos fazem, resolvi incluir na minha lista também tudo aquilo que NÃO aprendi em 2025.

Refleti sobre coisas que ainda vejo muita gente fazendo e que eu não segui a manada – o que pode ser bom ou ruim, dependendo da situação.

Serei apenas o mensageiro. O senso crítico sobre as lições eu deixo com todos os 3 leitores que me seguem na CompoundLetter:

1- NÃO aprendi a ignorar ruídos políticos um ano antes das eleições

Pois é… lembra que o Paulo Hartung disse em nosso podcast que “mercado é ansioso demais e não adianta se estressar por que nada de relevante na política acontece antes de abril? Fez muito sentido no dia que ele falou mas eu não segui a lição.

Enquanto escrevo, nós já vimos a candidatura de Flávio Bolsonaro ser chancelada e contestada umas 20 vezes por diversos políticos. A reação no mercado a gente já viu: forte queda da bolsa e alta do dólar, não só por essa candidatura afastar a chance de um nome como Tarcísio, mas também pelo mercado entender Flávio como alguém que pode ser vencido pelo Lula.

Como o mercado todo se movimentou por causa disso neste final de ano, já deixo o convite: a nossa última live de 2025 será nesta terça (23/12) às 18h com meu amigo Richard Back, analista político com passagens pelo governo e pela XP e agora vai reforçar a equipe da Necton. Assunto não vai faltar – infelizmente.

2- Aprendi que uma medida ruim (ou uma surpresa negativa) pode ser boa para os mercados

Se fosse resumir em uma palavra o movimento dos mercados em 2025, eu escolheria “desdolarização”. E esse movimento surgiu após Donald Trump decepcionar investidores, eleitores e líderes políticos com o anúncio do tarifaço.

Assim, todo aquele otimismo com a eleição do Trump no final de 2024 tornou-se apreensão e incerteza após o anúncio.

E a “má notícia” teve como consequência uma leve diminuição da gigantesca posição dos investidores em ativos dos EUA. Mas como um dinheiro que parece pequeno nos EUA pode ser muito grande em outros mercados, vimos uma festa nas bolsas mundo afora, principalmente de emergentes, assim como no ouro.

Ou seja: todo pânico gerado com a bagunça geopolítica das tarifas do Trump teve como consequência prática um empurrãozinho na diversificação global daquelas carteiras muito concentradas em EUA.

3- Aprendi que falha de governança corporativa não vem só de estatal, mas também de investidor “de mercado”

Em 2025, sentimos na pele um evento grave de governança corporativa. A Tupy, uma empresa com uma boa participação do governo na composição acionária, anunciou uma repentina troca de CEO, retirando um técnico com décadas de casa por uma pessoa com baixíssima experiência no setor e em gestão.

Até aí você pode argumentar “mas Salomão, com BNDES e Previ no bloco de acionistas, como não esperar uma coisa dessas?”. Acontece que tal movimento foi chancelado também por investidores “de mercado” (gestores de fundos de ações não ligados ao governo).

Aí é que o problema torna-se mais difícil de reverter. Se um acionista que parece ter o mesmo alinhamento que o seu mas, no momento de tomar uma decisão difícil, ele se isenta ou age como o “Estado” agiria, aí não tem jeito. Sorria, você foi lesado.

Felizmente, conseguimos deixar o investimento na empresa muito antes das quedas que ela acumulou ao longo de 2025 – e mais felizmente ainda: o que compramos com a venda das ações TUPY3 subiram demais no ano!

Mas fica a lição de aprendizado: falha de governança corporativa não se restringe apenas a estatal. Ou melhor: quando ela vem de um player não estatal, o impacto tende a ser mais doloroso ainda.

4- NÃO aprendi a aceitar que meu dinheiro está mais seguro na renda fixa do que na bolsa

Muita gente ainda está de fora da bolsa – ou seja, muita gente não pegou parte destes 31% de alta da bolsa. Nosso fundo, o Market Makers FIA, rendeu 45% até o momento, para a alegria minha de dos mais de 400 cotistas.

Um dos motivos para ficar de fora é a crença de que a renda fixa vale mais a pena do que a bolsa. Nas palavras do sr. Senso Comum: “pra que correr o risco de até perder dinheiro na bolsa se eu posso ganhar 15% ao ano com ativos isentos de IR, liquidez após um breve curto de tempo e em alguns casos proteção do FGC?”

Pois é, mas sabemos que esse juro de 15% não é sustentável e, cedo ou tarde, vai começar a cair. 

Se isso não acontecer, é porque as coisas então descambaram de vez e isso pode bater em cheio na inflação (via alta do dólar), diminuindo o ganho real da renda fixa.

Agora se acontecer dos juros começarem a cair, além do reinvestimento na renda fixa ficar menos interessante, poemos ter também uma forte e rápida alta do mercado de ações. Isso vai beneficiar principalmente quem já está posicionado em bolsa. 

“Ah, mas se começar a subir, eu pulo pra bolsa antes”.

Vou repetir: Ibovespa subiu 31% em 2025 e quase ninguém pegou. E o fundo do Market Makers, assim como outros fundos, conseguiram ganhar muito mais do que isso. 

Eu sigo preferindo ser sócio de bons projetos, bem tocados e com “preço de entrada” baixíssimo, do que me apaixonar por um número fixo que parece eterno, mas não é.

5- NÃO aprendi a levar a sério decisões de investimento baseadas no “estômago”

Essa lição começou em 2024 e desembocou em 2025. Foram anos que eu não aprendi a defender uma decisão de investimentos “no grito”, subindo o tom de voz desnecessariamente, usando muitos adjetivos passionais e falando com muita raiva (ou muita excitação, dependendo do lado).

Já contei a história do gestor que nos confrontou num almoço pois ele estava “short” em Vulcabras. Ou dos gestores que estavam verborrágicos ao explicar por que venderam Vivara quando o Nelson Kaufmann voltou à empresa…

Eu sigo preferindo a tese que fala baixo e aguenta pergunta chata.

Porque a narrativa e a emoção ajudam bem a explicar movimentos de curto prazo. Mas no longo prazo, prevalece o fundamento.

6- NÃO aprendi a comprar ação só pelo valuation

De Sylvio Castro, CIO da estratégia de FoF (Fundos de Fundos) da Itaú Asset: usar o termo valuation para justificar um investimento é a melhor forma de ganhar uma discussão e perder dinheiro.

7- NÃO aprendi a vender ação só porque está subindo

Nossos melhores ganhos em 2025 foram justamente nas empresas que, apesar de já terem tido uma boa performance nos anos anteriores ou em boa parte deste ano, nós seguimos carregando.

Ação só fica cara quando sobe se o valor de mercado cresceu muito mais do que seus resultados. Tão simples quanto isso. Mas em momentos tão duros de mercado, parece que os investidores ficam menos confortáveis em carregar posições tão lucrativas e já querem vender no primeiro sinal de cansaço.

Reciclamos muita coisa da nossa carteira e alguns papéis vencedores hoje já são bem menores do que outrora. Mas acreditamos muito na inércia positiva das boas empresas – em português: uma companhia que surpreende positivamente o mercado em sequenciais trimestres tende a continuar reportando resultados positivos. 

8- NÃO aprendi a odiar o Abel Ferreira e a Leila Pereira

Esse aqui é só pra cutucar aqueles que são palmeirenses que nem eu mas que, diferente de mim, acreditam que a temporada de 2025 foi um fiasco por que a Leila é uma péssima presidente e o Abel Ferreira já deu o que tinha como treinador.

Discordo veementemente. O Palmeiras tem um planejamento claro para seguir ainda mais forte nos próximos 10 anos. Não ganhar um título em um ano é horrível, mas só porque nos acostumamos a ganhar sempre e também porque chegamos muito perto (foram 3 finais no ano).

Ano que vem estaremos nas cabeças novamente. Que a sorte esteja do nosso lado, assim como Abel e Leila.

Que venha 2026!

Compartilhe

Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br