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29% ao ano investindo em empresas chatas

Rafael Maisonnave, sócio e gestor do fundo de ações TARPON GT FIC FIA, acumula um retorno de 810% em 9 anos, com um ganho anual médio de 29%.

Por caio.nascimento

09 Jan 2025 18h01 - atualizado em 09 Jan 2025 06h01

É comum o brilho muitas vezes recair sobre empresas inovadoras, tecnológicas ou com crescimento acelerado. É corriqueiro também vermos investidores olharem para as “tendências do momento”.

Mas a verdade é que investidores que sobrevivem por muitos anos no mercado não são assim. 

Um exemplo disso é Rafael Maisonnave, sócio e gestor do fundo de ações TARPON GT FIC FIA, que acumula um retorno de 810% em 9 anos, com um ganho anual médio de 29%. 

Maisonnave, também conhecido como “Paraná”, participou do episódio #138 do Market Makers e foi bem direto ao falar a chave do seu sucesso: investir em “empresas chatas”, ou seja, previsíveis, com recorrência, solidez financeira e sem glamour. 

Ele explicou que esse tipo de empresa oferece menos surpresas negativas e maior segurança para quem quer compor capital ao longo do tempo. Segundo o gestor, o retorno do ativo e da ação tendem a convergir ao longo dos anos: “Se você quer um retorno bom, invista numa empresa com ativo bom. Vai ter um momento de divergência entre o NAV [valor patrimonial líquido] da empresa e o preço de mercado. Mas, uma vez que você convergiu o preço de mercado para o NAV ou valor econômico, o retorno da ação e da empresa serão o mesmo.”​

Exemplos de “chatice”: Wilson Sons (PORT3) e Fras-le (FRAS3)

Paraná destacou dois exemplos que ilustram sua filosofia: Wilson Sons e Fras-le, ambas empresas com longa trajetória de sucesso e previsibilidade. 

Com 187 anos de história, a Wilson Sons é o maior operador de logística portuária e marítima do mercado brasileiro e permanece forte apesar de já ter enfrentado inúmeros desafios econômicos na história do Brasil, desde o império de Dom Pedro II. “Ela já aguentou tudo… e está indo super bem. Cresce, tem um time de gestão espetacular e um controlador super equilibrado,” avalia Maisonnave.

Outra empresa de destaque no portfólio da Tarpon é a fabricante de autopeças Fras-le, que impressiona por sua consistência. A Fras-le tem 70 anos de existência e sempre lucrou. Isso mesmo: nunca teve prejuízo no Brasil, nem na pandemia de 2020. 

A solidez dessas empresas as torna valiosas, mesmo quando o mercado está em busca de tendências mais modernas ou “excitantes”.

Para Maisonnave, o importante é compor capital com previsibilidade e segurança, ao invés de seguir tendências passageiras: “Quer dopamina? Compre um videogame, óculos 3D… mas com gestão de capital, nosso estilo na Tarpon é previsibilidade, confiança e expectativa ajustada.”

Mas como encontrar empresas chatas assim? Pelo filtro da qualidade

Maisonnave explica que investir em empresas “chatas” não significa investir em qualquer empresa previsível. Elas precisam passar por um filtro rigoroso que a Tarpon desenvolveu para avaliar a qualidade do negócio

Três critérios principais definem o que ele considera uma empresa de alta qualidade:

  1. Retorno sobre o capital investido: “pra compor capital, precisa de reinvestimento. Muitas pessoas olham para compounding pela cota, mas você pode olhar pelo viés da empresa: essa empresa é capaz de crescer capital ano após ano?”. Maisonnave cita Warren Buffett, que usou por décadas o patrimônio líquido para medir o compounding de suas empresas;
  2. Crescimento: um ativo barato por si só não é suficiente. É preciso que a empresa tenha capacidade de gerar valor continuamente. “Todo mundo já deve ter investido num ativo barato que não valoriza: o famoso value trap. Então, só barato não é suficiente, tem que ser barato e compor valor ao longo do tempo,” diz o gestor;
  3. Previsibilidade dos resultados: empresas com baixa dispersão de resultados operacionais indicam maior estabilidade, o que é fundamental para quem quer minimizar riscos. “Se você pega uma empresa cíclica, a dispersão de resultado é muito grande. Eu invisto em empresa cíclica, mas sei que ela é cíclica, então trato ela diferente de uma empresa mais previsível, como as de saneamento.”


O rótulo de Small Caps


Embora a Wilson Sons e Fras-le sejam gigantes com muitos anos de existência e todas qualidades que se encaixam no filtro da Tarpon, elas são classificadas como small caps por serem pouco líquidas.

“A Wilson Sons deve fazer um EBITDA de mais de R$ 1 bilhão este ano. Muita da rotulação de small caps tem a ver com a liquidez, Não tem a ver com a escala da companhia,” explica ele. 

Por fim, Maisonnave reforça a importância do valuation: “valuation são todas qualidades da companhia num preço certo. Não adianta a empresa ser boa se não está precificada corretamente.” 

Para Rafael Maisonnave, investir em empresas estáveis, previsíveis e com histórico de crescimento contínuo é uma estratégia de longo prazo que traz segurança e bons retornos, mesmo que não seja o tipo de investimento mais “emocionante”. “Às vezes ser chato é legal,” diz ele.

Assista ao episódio #138 clicando no botão abaixo. Ao longo de 2h20, Paraná destrinchou suas estratégias de investimento e visões de mercado.

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