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6 perguntas que todo investidor deveria se fazer

Analisar a governança corporativa é fundamental

Matheus Soares

Por Matheus Soares

24 Jan 2024 11h54 - atualizado em 24 Jan 2024 11h55

6 perguntas que todo investidor deveria se fazer

Quem assistiu aos últimos dois episódios do Mercado Aberto percebeu a importância da governança corporativa dentro de uma empresa. Enquanto na Gafisa, vimos que a empresa fez 10 aumentos de capital e diluiu os acionistas minoritários em mais de 90% desde 2019, na Gol os controladores da empresa historicamente desenharam operações em benefício próprio, como no caso do fechamento de capital da Smiles, por exemplo.

Dá pra falar que a governança das duas será assim para sempre? Não. Mas se Mark Twain estava certo ao dizer que ‘a história não se repete, mas rima’, o passado é o insumo mais importante que temos para avaliar a possibilidade de o mesmo acontecer no futuro.

Não à toa, na seleção de ações da carteira do Market Makers, dedicamos bastante tempo buscando conhecer as pessoas que exercem algum tipo de influência nos rumos da empresa, sejam aqueles envolvidos diretamente na operação – gerentes, diretores e executivos – sejam aqueles envolvidos no planejamento estratégico – acionistas e conselheiros.

Vou listar a seguir, pelo menos 6 perguntas que você deveria se fazer (e que nos fazemos diariamente aqui) para avaliar a governança corporativa de uma empresa:

1) A empresa tem dono ou é uma corporation?

Uma empresa de dono é aquela que tem a figura de um controlador, que pode ser um acionista ou um bloco de acionistas. Ele é detentor da maioria das ações ordinárias (com direito a voto) de uma empresa e tem poder para decidir diretamente nos rumos da companhia.

Já uma corporation é uma empresa de capital pulverizado, em que não existe essa figura do dono que decide ‘sozinho’ sobre o futuro da empresa.

Não é uma regra, mas empresas de dono tendem a ser mais conservadoras em suas decisões estratégicas. Enquanto as corporations dependem de acionistas minoritários engajados que olham pelo futuro da empresa como “se” fossem donos.

No Market Makers, preferimos empresas que têm a figura de um controlador, mas não excluímos corporations da nossa seleção. Até porque nada garante que o controlador não promova políticas visando os próprios interesses, como é possível puxar no histórico da Gol.

2) Os controladores acreditam que a empresa é deles ou dos acionistas? 

Caso a empresa tenha controlador, será preciso entender se os interesses dele podem se sobrepor aos interesses dos acionistas minoritários.

No ano passado, as ações da Mitre chegaram a cair 16% em um dia após a empresa ter anunciado a compra de um terreno de 10 mil metros quadrados em Trancoso do seu controlador.

Não entrarei no mérito da transação, mas se questione: o negócio é bom para a empresa ou bom apenas para o controlador?

3) Os interesses dos executivos estão alinhados com os interesses dos acionistas minoritários?

Uma das tarefas mais difíceis de um investidor de ações é entender se os incentivos financeiros dos executivos de uma empresa estão alinhados com os interesses do acionista minoritário. A última coisa que um acionista espera de um sócio executivo é que ele se aproprie oportunisticamente do dinheiro gerado pelo negócio, seja – citando apenas dois exemplos – aumentando o próprio salário sem um motivo claro para isso, seja enganando o acionista com ‘maracutaias’ financeiras quase imperceptíveis sem um olhar cuidadoso sobre os números.

É preciso entender se o pacote de remuneração recompensa o desempenho de longo ou curto prazo. Por exemplo, se o CEO possui R$ 100 milhões em ações e recebe R$ 100 mil por ano, é mais provável que tome decisões de longo prazo. Por outro lado, se o CEO recebe R$ 5 milhões por ano e possui R$ 1 milhão em ações, ele provavelmente valorizará seu trabalho mais do que o valor das ações da empresa. 

4) Como o atual CEO subiu a ponto de liderar a companhia?

Ao construir uma cronologia da carreira de um CEO, será possível entender como ele subiu na hierarquia das empresas em que trabalhou. Ao fazer isso, saberá se ele tem histórico de fazer negócios, se lida bem com finanças, marketing ou criação de novos produtos. Por exemplo, se o CEO construiu carreira em empresas investidas por private equities pode ser que ele tenha uma mentalidade de mais curto prazo e focada na redução de custos ou fusões e aquisições.

5) A administração da companhia está comprando ou vendendo as ações?

Para ser um sinal útil, a compra ou venda por um insider deve ser significativa em comparação com o patrimônio dele – por exemplo, representando 15% ou mais da sua fortuna. A menos que sejam compras relevantes, aquisições ou vendas de ações são apenas ruídos e você precisa ter cuidado para não considerá-las como indicadores úteis.

6) Como o CEO age com todos os stakeholders?

Como a empresa trata todas as partes interessadas do seu negócio? Dentro de uma empresa é necessário equilibrar o interesse de todos os grupos de interesse, incluindo clientes, funcionários, fornecedores e parceiros comerciais.

Gerar valor para o acionista é consequência da forma como a empresa trata os seus clientes, funcionários e parceiros.

Se a empresa lança bons produtos, se importa com seus clientes, proporciona um ambiente de trabalho feliz, cuida dos fornecedores e da comunidade que a cerca, é provável que alcance lucros consistentes no longo prazo.

Assim como a felicidade, o lucro é alcançado não querendo conquistá-lo diretamente.

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br