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A Arte de Escolher Ações

Os modelos mentais de Charlie Munger

Por Matheus Soares

28 mar 2024 10h56 - atualizado em 28 mar 2024 10h56

Após muitos meses fechada, ontem foi dia de reabrir a Comunidade Market Makers. Conseguimos juntar mais de 600 pessoas em uma lista de espera de interessados na reabertura e até segunda-feira que vem (1º de abril) quem estiver na lista poderá embarcar nessa com a gente. Um fato curioso é que interagindo com as pessoas que demonstraram interesse em fazer parte da Comunidade, a maior parte delas disse ter um objetivo em comum: investir em ações que nem um profissional do mercado.

Com 17 meses de cota, 220 cotistas e R$ 7,5 milhões sob a gestão do Market Makers FIA, fundo de ações inspirado nas minhas recomendações, eu poderia assumir o papel de investidor profissional e listar um passo a passo para você se tornar um, mas nenhum outro texto resume tão bem a profissão de investidor de ações quanto esse escrito por ninguém menos que Charlie Munger cujo título é The Art of Stock Picking”.

Se você investe em ações, mas ainda não sabe quem foi Charlie Munger, considere ler os ensinamentos dele antes de se arriscar nesse mundo. Ele infelizmente nos deixou no ano passado, mas seu legado será lembrado eternamente.

No mercado de ações, é muito mais fácil dizer-se um investidor fundamentalista profissional do que explicar (ou, às vezes, entender) o que exatamente isto significa.

Para Munger, o domínio de todas as técnicas de análise de empresas é uma condição necessária para fazer um bom investimento. Entender informações contábeis, acompanhar a evolução de balanços, estudar a indústria, conhecer os acordos de acionistas das empresas, acompanhar a política de remuneração dos executivos, traçar uma direção para o futuro dos negócios, tudo isso cria parâmetros para a decisão de investir. Mas está longe de ser suficiente para se tomar esta decisão. 

Longe de ser uma ciência exata, investir, manter o investimento e desinvestir são escolhas imersas em múltiplas subjetividades. É essa a parte que mais interessava ao Munger. 

A organização de dados e informações, além da destreza em interpretá-los analiticamente, exigem grande esforço investigativo, mas dependem mais de um raciocínio lógico afiado. Já as ações humanas formam um outro campo de entendimento, muito mais próximo da psicologia do que das ciências exatas.

Para isso, Munger considerava indispensável a formação de modelos mentais que levem ao conhecimento de situações reais. 

Se você tiver apenas um ou dois [modelos mentais] que está usando, a natureza da psicologia humana é tal que você vai distorcer a realidade para que ela se encaixe nos seus modelos, ou pelo menos você vai pensar que sim. […] E os modelos têm que vir de múltiplas disciplinas porque toda a sabedoria do mundo não está em um único departamento acadêmico.”

Para Munger, para se tornar um especialista na escolha de ações, o investidor precisa dispor de uma formação generalista e interdisciplinar (a qual ele próprio se orgulhava de ter acumulado) que lhe permita o acesso à pluralidade de modelos. Mesmo porque, sem ela, ficamos reduzidos ao que Munger chamava de maldição do homem do martelo, para quem, qualquer problema se parece com um prego.

E esses modelos mentais que Munger acreditava que todo investidor deveria ter, podem ser encontrados na matemática, na engenharia, na microeconomia, na contabilidade, na biologia e, principalmente, na psicologia. 

Munger não cansava de explanar em seus pronunciamentos a importância fundamental da psicologia dos ‘maus julgamentos’ porque é a partir dela que se pode chegar na excepcional situação, para um investidor, onde todos estão errados e ele está certo. A psicologia também explica o fato de não ficarmos felizes com pessoas que nos comunicam algo que não gostaríamos de ouvir. 

E o mais curioso é que apesar de ter sido um defensor do conhecimento multidisciplinar, ele também falava da importância da especialização. Ele dizia que o jogo do investimento é o de fazer, melhor do que os outros, predições sobre o futuro. Como? Uma das maneiras seria limitar sua área de competência. Se você quiser prever coisas demais vai acabar errando muito por falta de especialização. Esta contradição tem uma explicação que resume bem a filosofia Munger: para ele era fundamental saber muito (daí o conhecimento geral) para poder fazer muito bem, poucas coisas muitas vezes (daí a especialização). 

O texto é um must read para todos aqueles que desejam entender melhor como se tornar um investidor profissional e os ensinamentos ali repassados por aquele que foi o arquiteto da Berkshire Hathaway nos inspiram diariamente em nossa Comunidade.

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Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br