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A frase que eu mais gosto de ouvir na Faria Lima

Esta frase pode revelar as maiores oportunidades

Matheus Soares

Por Matheus Soares

08 Aug 2023 14h16 - atualizado em 08 Aug 2023 02h18

A frase que eu mais gosto de ouvir na Faria Lima

O episódio #55 com o Daniel Goldberg ainda não saiu da minha cabeça. Os dois tipos de investidores apresentados por ele me trouxeram uma longa reflexão e trarei aqui como ambos podem coexistir.

Existe a turma do “o quê”, que seriam os investidores que escolhem um ativo, entendem tudo sobre ele, projetam seus fluxos de caixa, trazem a valor presente e chegam a um veredito sobre aquela empresa; e a turma do “porquê”, que apesar de também fazer isso, foca a decisão em outra questão: por que essa oportunidade existe? 

De acordo com Goldberg, o excesso de retorno nasce com o segundo investidor.

De bate e pronto, eu diria que sou mais sou da turma do “o quê”. Porém, nenhuma tese de investimento entra na Carteira Market Makers sem que a gente tenha uma resposta para a pergunta do “por que essa oportunidade está se apresentando para mim?”.

Essa pergunta, inclusive, está no nosso processo de investimento:

Goldberg assume que toda e qualquer informação pública sobre um ativo está incorporada aos preços e que, portanto, seria errado (ou mesmo arrogância) assumir que você está comprando algo porque sabe mais desse negócio do que o seu colega.

Essa teoria está associada à hipótese dos mercados eficientes que diz que os preços dos ativos financeiros refletem todas as informações do mercado e da economia. E o preço dos ativos representa, em qualquer momento, o real valor daquele ativo em face de todas as informações existentes.

Eu concordo – em partes.

Analisando apenas o mercado de ações, eu até acho que essa teoria é válida para empresas como Vale, Itaú, Bradesco, Weg, que são companhias amplamente cobertas por diversos analistas do Brasil e do mundo. 

Se pegar o caso da Vale então, tem analista que acompanha na ‘unha’ a quantidade de navios transportando minério para os portos chineses para tentar antecipar algum número relevante. Aqui eu concordo que é difícil ter algum grau de diferenciação – o próximo resultado já está na planilha de muita gente – embora eu acredite que é possível arbitrar o humor do Sr. Mercado.

Agora, eu não acho que essa premissa seja verdadeira para todas as empresas da bolsa.

Existe um grupo de empresas denominadas como small caps, que carregam esse ‘apelido’ por serem empresas relativamente pequenas quando comparadas às grandes que eu falei e que, justamente por terem esse tamanho, têm alguma probabilidade de se tornarem bem maiores no futuro.

Por serem menores, os grandes investidores têm restrições. Um fundo de investimento de R$ 1 bilhão sob gestão vai demorar semanas para comprar 10% das ações de uma empresa que tem R$ 1 bilhão de valor de mercado e que negocia o volume de R$ 5 milhões por dia (isso se só ele comprar durante dias). Se um fundo de R$ 1 bi tem dificuldades, imagina um multimercado de alguns bilhões sob gestão?

Se os grandes investidores não olham de perto, não há incentivo para um analista sell side acompanhar no detalhe. Afinal, qual a graça de cobrir algo que ninguém quer saber?

Se tem menos gente olhando, tem menos gente fazendo conta. Se tem menos gente fazendo conta, tem menos gente atribuindo algum valor à empresa. E então, voilá: a oportunidade se apresenta.

Eu perdi a conta do número de vezes que tentei apresentar algumas teses de empresas pouco ou nada cobertas para alguns amigos de mercado e a resposta deles para mim – embora se mostrassem genuinamente interessados – foi quase sempre a mesma: “empresa com esse tamanho eu nem olho.”

Apesar de dar mais trabalho começar a estudar uma empresa que pouquíssimas pessoas olham de perto, essa é a frase que eu mais gosto de ouvir na Faria Lima. Esse tipo de resposta quase sempre significa uma oportunidade ainda inexplorada pela maioria. 

E não tem jeito: a grande oportunidade está naquilo que ainda não é consensual, mas que pode vir a ser um dia.

Portanto, ainda que eu diariamente vá em busca do “o quê” comprar, é o “porquê” que me mostra onde está o retorno em excesso. 

Apesar de concordar com o Goldberg, eu acredito que ambos os investidores podem coexistir.

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br