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A maior bolha da bolsa brasileira que você não ouviu falar
Teve charrete de zebra a IPO de funerária
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Texto originalmente publicado na CompoundLetter, a newsletter do Market Makers. Inscreva-se na newsletter gratuitamente deixando o seu e-mail aqui!
por Beto Saadia, economista e sócio da BRA Investimentos
Aos que leem coisas do tipo “brasileiro tá aprendendo a investir agora” – eu rebato: o brasileiro investe em bolsa há séculos. Desde o início da monarquia (1822) já havia uma bolsa organizada por aqui.
Barão de Mauá foi o pioneiro no Brasil ao perceber o poder da congregação de capitais em produzir negócios e gerar riqueza. O “poder associativo”, nome mais elegante que partnership, “é a alma do progresso”, dizia.
Na metade do século 19, nossas empresas listadas eram verdadeiramente abertas, todas com direito a voto e sem barreiras ao capital estrangeiro. Havia intensa participação de acionistas na vida das empresas e nas assembleias que constituíam evento econômico, social e político. A explicação para a presença nas assembleias era a vida quotidiana pacata.
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A bolsa principal era a do Rio de Janeiro e se tratava apenas de um lugar, não existindo como personalidade jurídica. No início dos anos 1800s funcionou no finalzinho da Rua Primeiro de Março, quando encontra a igreja da Candelária, onde hoje é a Casa França-Brasil. Não por acaso, é colado ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – outro espaço de pregão que se tornou sede do Banco do Brasil bem depois, em 1930.
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Para títulos de menor valor, penny stocks, as negociações eram livremente feitas a céu aberto nos arredores da Rua da Candelária. Por conta disso, a arquitetura do saguão central do CCBB é arredondada, facilitando uma barreira física à entrada de corretores menores da rua para dentro do pitch.
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A organização não cartorial, diferente dos dias atuais, permitia liberdade de horário no troca-troca de títulos, adaptando as negociações na ausência de eletricidade. Veja o estatuto da bolsa do rio em 1834.
A praça do comércio estará aberta ao público todos os dias que não forem
domingo, dias santos, das 9 da manhã até ao pôr do sol.
Mas uma boa história financeira só existe com bolhas e crashes. São como Copas do Mundo, não dá pra contar a história do futebol sem elas.
Em 1888 começa a faísca pro maior crash do país. Não foi o maior da história somente até aquele momento. Foi o maior de TODA a história do país até os dias atuais. Nada comparável se repetiu.
A abolição dos escravizados seguida da nova república sinalizavam uma economia livre e produtiva. O ‘Posto Ipiranga’, Ruy Barbosa, ligou a impressora de dinheiro como país de primeiro mundo. E a bolsa de valores seria a principal locomotiva do país. Aliás, locomotivas eram blue chips na bolsa. O título da ação mais negociado naquele ano de 1888 foi da Estrada de Ferro Leopoldina valendo 100 mil réis em janeiro. E não demoraram 6 meses pra marcar 190 mil réis – boataria de aquisição gringa. Hoje, o prédio da estação está de pé, abandonado ali na praça da bandeira (RJ).
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Bolhas de euforia penetram nas diversas camadas sociais como fenômeno de psicologia das massas enriquecendo ingênuos e outsiders. Assim escreve o jornalista Veridiano de Carvalho em 1890.
Todos jogaram, o negociante, o médico, o jurisconsulto, o funcionário público,
o corretor, o zangão e os com pouco pecúlio e os com muito pecúlio.
Este outro trecho, do Visconde de Taunay, descreve a especulação democrática na esquina da Rua da Alfândega com a Candelária no Rio de Janeiro.
Todas as classes da sociedade misturadas, confundidas, um mundo de
desconhecidos, outros infelizmente demasiadamente conhecidos. Gente
recém-chegada do interior com a feição ainda tímida e acaipirada.
A ostentação máxima coube a Henry Lowndes. Ao invés de cavalos, uma parelha de Zebras importadas da África puxava sua Landau, suntuosa charrete de capota dupla que desfilava de sua casa do Catete ao pregão.
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Ofertas Públicas? Temos! A maior de toda a história. Entre julho de 1888 a março de 1891 foram, em média, 17 novas ofertas por mês. A bolsa ostentou 456 empresas listadas no auge do boom. Hoje a B3 tem por volta de 400.
No início da euforia, ferrovias, fazendas. No auge, padarias, armazéns de costura e – funerária! Era a Companhia Empresa Funerária que adquiria terrenos e prometia “fornecer serviço perfeito à sua última morada” – dizia o anúncio, além de “carros asseados de primeira ordem para transportar suas donzelas”.
A demanda por ofertas públicas ultrapassava duas, três vezes a oferta. Só subiam. No último dia de subscrição, vinha gente de toda a cidade arrear o cavalo na sede da corretora e registrar sua intenção de investimento.
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Oferta prioritária era pros mais fortes, escrevendo assim o Visconde de Taunay sobre o último dia de subscrição das ações do Banco Construtor do Brasil na sede da corretora.
Pretendentes invadiram o edifício, tal a aglomeração, pessoas
tiveram síncopes, sendo resgatas pelos braços. […] Não era possível
entrar ou sair do prédio. Os que estavam na escada atiravam dali
mesmo os envelopes na sala de subscrições com as quantias
que desejavam reservar.
A alavancagem é enredo padrão no percurso dos desatinos especulativos e aqui foi direcionada às ofertas públicas como instrumento de alavancagem inusitado até para os dias atuais. O investidor subscrevia uma oferta sem precisar dispor de todo dinheiro da reserva, sendo integralizado posteriormente em prestações mensais com a ação já em negociação. Na falta de qualquer prestação, o pretendente perdia todas as ações já subscritas que eram revertidas à empresa.
Como toda injeção infinita de dinheiro, uma inflação desenfreada lambeu o país. Sai Ruy Barbosa, entra Alencar Araripe, jurista sem traquejo algum pra coisa econômica, “Macaco em loja de porcelana”, escreve o historiador Ney Carvalho.
A eclosão da bolha ocorreria inevitavelmente, mas Araripe se encarregou de furá-la pessoalmente decretando imposto de 3% em qualquer transação. O jurista quebrou a bolsa num só dia, porque corretores entraram em greve. As empresas recém-chegadas, ainda não totalmente integralizadas dependiam do contínuo pagamento das parcelas acordadas no ato da subscrição. Sem o fluxo de financiamento, preços despencaram. E o fatality foi o quadro de companhias reveladas pelo Jornal do Commercio em 16 de março de 1891. Das 456 empresas, listadas apenas 74 tinham o capital totalmente integralizado. Ou seja, quase 84% eram empresas zumbi. Tudo fumaça.
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Essa história retrata o período conhecido como Encilhamento no seu palco principal que foi o Rio de Janeiro, mas a euforia teve desdobramentos em São Paulo, degolando a bolsa Paulista que mal completara 6 meses de vida.
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