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Aché, Florian e o preço
Como desvender fraudes e encontrar boas empresas na bolsa?
O Market Makers nos fez amadurecer como investidores e analistas, e o motivo disso está em colocarmos o “skin in the game” naquilo que fazemos. Ter um fundo que investe na nossa carteira recomendada de ações (e tendo os sócios do Market Makers como os maiores cotistas individuais do fundo) quase nos obriga a, em cada interação com profissionais do mercado, extrair algum aprendizado ou conhecimento que podemos aplicar no nosso dia-a-dia.
Sempre foi uma vontade nossa colocar nossas teses e convicções a prova, mas eu sequer imaginava o quanto isso iria me transformar como comunicador, como analista e até como ser humano.
O último episódio do MMakers foi um daqueles que poderíamos contar vários aprendizados deste tipo. Afinal, trouxemos Florian Bartunek (da Constellation) e Guilherme Aché (da Squadra), dois gestores com mais de 20 anos de estrada na bolsa e cujas aparições públicas têm sido cada vez mais raras. O resultado foi excelente.
No episódio, entendemos não apenas a filosofia de investimento deles, mas também por que eles pensam 10 vezes antes de comprar uma estatal, por que evitam small caps, por que não gostam de IPOs (embora tenham caído na tentação de entrar em alguns).
Mas o trecho que mais me tocou foi como eles enfatizaram a importância do preço na hora de investir (ou de evitar o investimento) em uma empresa.
Vou deixar na íntegra essa troca de ideias que Aché e Florian tiveram sobre se eles levam em consideração fatores macros para investir em uma ação:
Guilherme Aché: Tenho 35 anos de bolsa e cada ano que passa eu acredito menos em projeções macro (…) isso é uma armadilha, vale pouco projetar macroeconomia de uma forma diferente do que está hoje. Qual macroeconomista acertou de forma recorrente alguma disrupção? Nenhum. O que importa é o preço daquele ativo que você está comprando ou shorteando na bolsa, principalmente se você souber o que você está fazendo, se você não sabe não vai aguentar a volatilidade. São poucos investidores macros que são bons mesmo e estes não acreditam no que eles mesmo dizem, porque sabem que a margem de erro é relevante.
Florian Bartunek: Concordo, o macro te tira do jogo e te atrapalha. Mas como diz Howard Marks, o futuro é imprevisível, mas é preciso saber onde estamos no ciclo: se o juros está 14%, ele até pode subir, mas a chance maior é de cair. Eu nem percebi que bolsa caiu vários dias seguidos [foram 13 pregões seguidos de queda do Ibovespa na época da gravação], não ligo se a Selic vai cair 0,25 ou 0,50 ponto na próxima reunião, o que importa é que os juros vão cair e os valuations estão abaixo da média. Eu mesmo lembro que liguei para Aché em março pra falar que ia comprar bolsa porque estava barata, não porque estava pensando no ciclo. As questões macro são perecíveis e daqui um ano mudam, mas aqui estamos falando coisas que continuarão sendo importantes para quem for assistir daqui dez anos. As empresas são melhores do que você imagina, não se assuste por causa do macro.
Ouvir uma conversa dessas logo após o Ibovespa ter caído 1,53% (a maior queda diária desde 22/jul/23) e índice de small caps recuar quase 3% é um excelente exercício para entender o que de fato caiu com motivo ou o que pode ter seguido a onda de um dia ruim.
É óbvio que explicar os movimentos de curto prazo é mais difícil e mais improdutivo do que se atentar aos movimentos de longo prazo. Mesmo assim, somos ávidos por querer saber quanto da queda de 5,46% das VIVA3s ontem foram por piora de fundamento ou por uma piora generalizada de cenário.
Essa conversa já está disponível no Youtube e no Spotify. Consuma sem moderação.
ps: estarei na ExpertXP hoje. Se você estiver lá, me pergunte qual é a novidade que eu tenho para anunciar e te darei esta notícia em primeira mão.