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5 pontos sobre…como investir em ações de bancos
Um breve manual sobre como analisar as instituições financeiras na hora de investir

“A questão não é ‘o que é que vamos fazer?’, a questão é ‘o que não vamos fazer?’”
Essa frase é do filme Curtindo a vida adoidado, de 1986, um daqueles clássicos da Sessão da Tarde. Mas qualidades à parte, a frase em si traz um sentido importante: parte das nossas escolhas passa por aquilo que não escolhemos, não fazemos e decidimos abrir mão.
Investir é sobre escolher onde colocar suas fichas, mas também onde não colocar. E nosso papel aqui tem sido contribuir para que você faça essa escolha com inteligência e invista como um profissional.
Por isso, nossos 5 pontos de hoje são sobre como investir em ações de bancos. Vamos a eles?
1. Como os bancos ganham dinheiro?
Ao olharmos o balanço patrimonial de um banco, vemos que os menos endividados têm 80% do seu passivo em dívida.
Por isso, é importante você saber para quem ele está emprestando dinheiro (ativo) e de quem ele está pegando esses valores emprestados. Este último se refere aos
clientes que depositam dinheiro na instituição. Esse dinheiro que ela usa para se financiar, pode ser de:
- pessoas físicas;
- empresas;
- entes institucionais;
- todos esses.
Tem banco que se financia com depósito à vista, que é a conta corrente, em que o cliente deixa o dinheiro parado e a instituição pega esse dinheiro para emprestar a terceiros. Mas o banco também pode se financiar com depósito a prazo, que são os CDBs.
Ela pode comprar títulos de outras empresas ou emprestar esse dinheiro para alguém com um spread (que é a diferença entre o quanto que ele empresta e o quanto que ele capta).
Imagine que um cliente deixa o dinheiro no banco a uma remuneração de 10%. Se o banco pegar esse dinheiro e emprestar a 20%, essa diferença de 10 pontos é o quanto que o banco vai ganhar. Esse é o spread.
Portanto, o passivo do banco é como que ele se financia. O ativo do banco é para quem ele vai emprestar, seja através de um financiamento imobiliário, automotivo, cartão de crédito ou outros produtos.
2. Como um banco gere seus riscos?
Quando falamos em investir em ações de bancos precisamos responder a essa pergunta. E para isso é necessário abordá-la em três tópicos:
- O banco sabe emprestar dinheiro?
- Como está a liquidez?
- Qual a estrutura de capital do banco?
E aí vamos nós.
Para responder à primeira pergunta, temos que ter em mente: se uma pessoa não paga o banco, ele vai ter prejuízo e aumentará sua inadimplência. Para entender a inadimplência de uma instituição financeira, você precisa saber a qualidade do crédito que ela está ofertando, para quem ela está emprestando e se ela vai receber esse dinheiro de volta.
Portanto, olhar a inadimplência por si só não é correto. É necessário saber a qualidade dela.
Para isso, um indicador importante é a Provisão para devedores duvidosos (PDD), uma estimativa das perdas que a empresa provavelmente incorrerá devido a clientes que não pagarão suas dívidas. Com o PDD, ela reconhece possíveis perdas e evita grandes impactos nas demonstrações financeiras.
Para responder sobre a liquidez, temos que pensar que: ao deixar o dinheiro em conta corrente, o cliente, na verdade, está fazendo um empréstimo para o banco usar o seu valor em linhas de negócios, como financiamento imobiliário.
Vamos supor que ele pegue esse dinheiro das contas correntes e faça um empréstimo de 30 anos para alguém que vai comprar uma casa. Logo, o banco vai travar a remuneração em 30 anos. Só que os clientes do banco que emprestaram dinheiro podem resgatar os valores que constam em sua tela a qualquer momento. Se todo mundo decidir resgatar o dinheiro ao mesmo tempo, o banco corre o risco de não conseguir devolver esse dinheiro para os correntistas. O Silicon Valley Bank quebrou nos Estados Unidos, em 2023, justamente por conta disso. Houve uma corrida bancária e o banco não conseguiu dar conta.
Respondamos então à terceira pergunta: os bancos são alavancados por definição. Em média, apenas 15% do passivo de um banco é patrimônio líquido. Então, imagine que um banco tenha R$100 bilhões em ativos e R$15 bilhões em patrimônio líquido. Se por algum motivo esse ativo sofrer uma correção de preço de 15%, ou seja, de R$15 bilhões, o patrimônio líquido da instituição vai a zero.
Para cada ativo que a instituição empresta, o Banco Central exige um certo nível de adequação de patrimônio líquido. Por isso é importante sempre gerar lucro. Quanto mais lucro o banco gera, maior o patrimônio líquido dele e mais ativos vai conseguir gerar. Por outro lado, se ele tiver um prejuízo, menor vai ser o patrimônio dele. Isso acaba atrapalhando a estrutura de capital.
3. Qual o modelo de negócio do banco?
Investir em ações de bancos demanda entender seu modelo de negócio. Há opções variadas: é um negócio tradicional com agências físicas? É digital? É focado em pessoas físicas ou corporações?
Cada instituição financeira vai ter as suas especialidades. Por exemplo: Itaú é um banco forte no segmento de pessoa física. Já o banco ABC é focado em atender as grandes empresas. São estratégias diferentes.
Se for um banco de agências físicas, a estrutura de custos e despesas dele será muito maior do que a de um banco digital. Além disso, muitos bancos são grandes conglomerados com diferentes setores, como o de seguros. Então, além de você entender como analisar o banco, muitas vezes será necessário olhar para outros nichos de mercado.
4. Qual a rentabilidade do banco?
Existem dois principais indicadores para você entender qual a rentabilidade de um banco e se ele está caro ou barato: o ROE e a margem financeira.
O ROE é o retorno sobre o patrimônio líquido de um banco. Para calcular o ROE, basta pegar o lucro líquido de um banco e dividir pelo patrimônio líquido. O resultado será a taxa que ele remunera os acionistas. Quanto melhor ele emprestar dinheiro e realizar a gestão de ativos, maior será o ROE. Portanto, o ROE resume tudo que um banco faz de bom ou de ruim dentro de um negócio.
Se ele tem um ROE de 20%, certamente é um banco muito bom. Se tem um ROE de 5%, com certeza está fazendo alguma coisa errada, como: emprestando muito mal o dinheiro; está com uma gestão de risco ruim; ou está com uma estrutura de capital que não é das melhores.
O segundo indicador de rentabilidade é a margem financeira, que é de fato quanto que a instituição ganha de dinheiro. Se este indicador for bom, certamente o ROE dele também será adequado.
Margem financeira é: juros recebidos – juros pagos pelo banco.
5. Ações de bancos: o preço está caro ou barato?
Então chegamos ao nosso último ponto sobre ações de bancos. É, talvez, o que você mais espera. Mas acredite, os outros são igualmente importantes na hora de tomar sua decisão de investimentos.
Agora, para entender se o preço da ação está bom, há 3 principais fatores que o mercado usa bastante:
Preço por ação dividido pelo valor patrimonial por ação: se um banco é muito bom, se ele tem um ROE alto, o mercado provavelmente vai pagar por ele um valor acima do seu patrimônio. Logo, essa relação vai ser acima de 1x. Existem bancos que chegam a ser até 3x. Ou seja, se você está comprando o banco que está negociando a 3x o valor patrimonial, isso significa que o mercado tem uma expectativa alta em relação a ele.
Dividend yield: representa quanto o banco vai pagar de dividendos para os seus acionistas. Esse é um indicador que mostra quanto a instituição vai gerar de dinheiro e quanto desse montante vai entrar no bolso do acionista. Quanto maior o ROE, maior a expectativa que ele gera por um dividend yield maior.
Fluxo de caixa descontado: esse indicador mostra quanto o banco vai gerar de dividendos ao longo de vários anos, trazendo o montante para o valor presente. Em seguida, você divide o valor pelo número de ações. O resultado mostrará quanto que uma ação deveria custar ou não.
Resumo da ópera:
Investir em ações de bancos demanda aprendizado e atenção – assim como em todos os outros tipos de ação. Pode ser um excelente investimento, mas é preciso estar atento às variáveis que impactam esse tipo de negócio.
E por último, mas não menos importante…
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