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Aéreas fora da Bolsa podem ser realidade no mercado brasileiro
O que as mudanças na Gol dizem sobre o setor e o mercado

Por Leopoldo Rosa
Nessa reportagem você verá:
- O que está acontecendo com a Gol
- Qual o cenário das aéreas no Brasil hoje
- A verdade sobre investir em empresas aéreas
- Qual o método validado para decidir sua participação em empresas da Bolsa
O Brasil pode ter, em breve, menos uma empresa aérea listada em bolsa. A Gol anunciou nesta semana uma mudança em sua estrutura societária que deve retirá-la de vez da B3. Será o desfecho da empresa que vem agonizando no mercado há alguns anos – num movimento agravado pela pandemia em 2020 e que nunca foi plenamente restabelecido.
Segundo o plano da Gol, a ideia é incorporar a Gol e a Gol Investment Brasil S.A. (GIB) pela Gol Linhas Aéreas S.A. (GLA), que é uma empresa de capital fechado controlada integralmente pela Gol. Para a empresa, essa operação deve simplificar a estrutura do grupo, gerar sinergias que vão reduzir os custos operacionais e fortalecer a governança corporativa.
O ponto no subtexto é que, com isso, a empresa sairá de vez da B3, reduzindo a opção de áreas para investidores. Atualmente, a GOL (GOLL54) tem cerca de 100 mil investidores pessoa-física na B3. Esses investidores vão poder trocar os papéis se o fechamento de capital se confirmar.
No mercado de capital aberto, vai restar a Azul, igualmente mal das pernas. Aliás, o possível fechamento de capital da Gol vem menos de um mês depois do fim de um longo namoro entre ela e a Azul para uma possível fusão.
Mas será que investir em aéreas é um bom negócio? Thiago Salomão, criador do Bússola do Valor, um guia que ensina investidores a mapear empresas sólidas para investir na Bolsa, responde:
“É um setor fadado a sofrer mais do que todos os outros em momentos cíclicos e tem muitas variáveis que ele não tem controle, o que torna a operação muito difícil de você ter visibilidade.”
No Bússola do Valor, Thiago Salomão e Matheus Soares desenvolvem um método sofisticado a partir de investidores reconhecidos no mundo todo para avaliar empresas que valem a pena investir. Salomão não faz recomendações, mas traz um alerta sobre o setor aéreo.
“A natureza do setor é complicada e ele está sempre precisando de ajuda do governo ou de injeção de capital”, diz.
A ajuda governamental é, de fato, uma realidade no setor aéreo. Embora ainda reclame da falta de apoio por parte da federação, só no início deste ano o governo fechou dois acordos para diminuir em cerca de R$5,8 bilhões as dívidas de Gol e Azul com a União.
Juntas, as duas somavam R$7,8 bilhões em dívidas.
Por que o setor não para em pé?
O segmento de aéreas não é pequeno no Brasil. Em 2024, segundo dados da Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil, foram 925 mil decolagens e mais de 118 milhões de passageiros transportados.
Mas apesar desses bons números, a crise do setor aéreo já vitimou diversas empresas brasileiras ao longo dos tempos. Da falência da icônica Varig – decretada oficialmente em 2010 – aos pedidos de recuperação judicial de Gol, Latam e Azul nos Estados Unidos, conforme mostrou esse gráfico do jornal Folha de S. Paulo.

A dificuldade é multifatorial: o câmbio é um deles, afinal, as companhias vivem com boa parte dos custos em dólar, mas sua receita é em reais. O preço do querosene de aviação é outro ponto, ele representa muito na conta (cerca de 40%) e ainda sofre impostos como ICMS e PIS/Cofins.
Um outro problema oculto que assola as aéreas é a alta judicialização no Brasil, como traz essa manchete de O Globo em setembro:

Segundo a Abear, que representa o setor, os processos contra empresas do segmento aumentaram 200% nos últimos quatro anos.
“Isso afeta segurança jurídica, investimento, desenvolvimento e também a integração nacional. O setor aéreo é um setor que conecta. O principal benefício do setor aéreo não é o desenvolvimento econômico e empregos que ele gera, mas sim os que ele induz. Há estudos que mostram que o que se investe no setor aéreo volta de 3 a 5 vezes mais como PIB para aquela localidade”, disse Juliano Noman, presidente da Abear, em matéria publicada pelo site especializado PanRotas.
Nesse contexto, Thiago Salomão, um dos criadores do Bússola do Valor, diz que é factível pensar que o Brasil acabe sem aéreas listadas.
“A gente não consegue vislumbrar, claro, um Brasil sem empresas aéreas. Mas podemos sim ver um cenário em que a gente não tem nenhuma delas listadas na Bolsa”.