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Aplicando o método Scuttlebutt no Brasil
Esse método tinha como pilar central a investigação das companhias a partir de conversas com os próprios consumidores que faziam uso do produto ou serviço ofertado pelas empresas, ex-funcionários que haviam construído carreira na companhia, atuais funcionários, fornecedores, especialistas setoriais e mesmo governantes
Foi ao ar, em 9 de janeiro, o episódio #170 do Market Makers, que eu e o Salomão gravamos com Marcello Silva, sócio-fundador da Aster Capital. Sempre que eu converso com o Marcello eu aprendo MUITA coisa e esse episódio não foi diferente: falamos muito sobre competição.
Aliás, quem assistiu ou escutou o nosso papo com o Cristiano Souza deve se lembrar dele falando que o maior inimigo do investidor de ações é a competição e, assim como o Cristiano, o Marcello deu uma aula sobre o tema falando sobre como as empresas que a Aster investe vencem a competição.
Uma empresa que entra na carteira da Aster tem dois grandes atributos: qualidade e crescimento. E dentre essas empresas estão nomes como: Equatorial, Nubank, Raia Drogasil e Smart Fit. Ao longo da conversa e destrinchando cada um desses negócios, o Marcello contou como cada uma dessas empresas “conquistou o direito de ter lucro econômico”.
Para explicar como uma empresa conquista esse direito e como a Aster faz para encontrá-las, ele usou como exemplo dois livros: (i) ações comuns, lucros extraordinários, do autor Philip Fisher, e (ii) a estratégia competitiva desmistificada, de Bruce Greenwald.
Coincidentemente estou relendo Philip Fisher, que para quem não sabe influenciou a maneira de investir do Warren Buffett, que, inclusive, leu o livro por recomendação de Charlie Munger. O livro foi escrito em 1958, mas é impressionante como os ensinamentos de Philip Fisher podem ser aplicados ainda hoje. O próprio Marcello falou: “como a gente encontra essas empresas? Está ali, explicado no livro”.
No capítulo 3 do livro, Fisher traz as 15 questões que todo investidor deveria se fazer antes de investir em uma empresa, mas mais importante do que as questões em si era o método que ele usava para encontrar as respostas, batizado por ele como scuttlebutt.
Esse método tinha como pilar central a investigação das companhias a partir de conversas com os próprios consumidores que faziam uso do produto ou serviço ofertado pelas empresas, ex-funcionários que haviam construído carreira na companhia, atuais funcionários, fornecedores, especialistas setoriais e mesmo governantes.
Na página 75 da versão traduzido do livro, Fisher explica do que se tratava:
“Vá a cinco empresas de determinado setor industrial, faça a cada uma delas perguntas inteligentes sobre os pontos fortes e fracos das outras quatro, e terá um retrato apurado e surpreendentemente detalhado de todas as cinco.” Philip Fisher
Veja que a ideia do método scuttlebutt é entender o que uma empresa faz melhor do que a outra e, como bem sabemos, competição é o combustível que alimenta o capitalismo. Para uma empresa conquistar o direito de ter lucro econômico é necessário que ela vença a competição.
E para entender como algumas empresas vencem a competição, a resposta está no livro “A estratégia competitiva desmistificada”, de Bruce Greenwald. O autor, que durante muitos anos foi professor da Columbia Business School, modernizou o value investing. Ele, basicamente, destrinchou como Warren Buffett pensa sobre empresas, combinou com os estudos de Michael Porter e integrou dentro de um processo de análise.
No livro, Bruce fala sobre como uma empresa constrói uma barreira de entrada aplicando os exemplos práticos da sociedade americana, como Walmart e Cisco.
Absorver o conhecimento do Marcello foi como ter uma aula com Philip Fisher e Bruce Greenwald sobre empresas brasileiras e os casos de Raia Drogasil e Smart Fit foram os que mais me chamaram atenção. Uma tem como estratégia crescer no seu próprio mercado, enquanto a outra tem como estratégia crescer com a expansão do seu mercado endereçável.