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Americanas: a única saída é os bilionários do 3G ajoelharem no milho
Ex-sócio do Garantia explica o rombo bilionário da Americanas e como resolvê-lo
Texto originalmente publicado na CompoundLetter, a newsletter do Market Makers. Inscreva-se na newsletter gratuitamente deixando o seu e-mail aqui
Luiz Cezar Fernandes foi, por muitos anos, sócio do banco Garantia, de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Quando veio ao Market Makers pela primeira vez, ele contou que deixou a sociedade porque, diferentemente dos seus sócios, achava que deveriam vender as Lojas Americanas, comprada anos antes.
“Nunca foi uma empresa lucrativa e o investimento já tinha se pagado”, disse.
Luiz Cezar Fernandes também é fundador do Pactual, hoje BTG Pactual, o quarto maior credor das Lojas Americanas e o primeiro a ir à Justiça contra a empresa depois que seu então CEO, Sérgio Rial, revelou inconsistências nos balanços.
O BTG é credor de R$ 3,5 bilhões da rede.
Não custa lembrar que Luiz Cezar Fernandes também é especialista em reestruturação de empresas em dificuldades.
O erro
Por esses três excelentes motivos resolvemos perguntar a ele qual sua opinião sobre o caso Americanas. E para ele, o erro da empresa foi não conversar com os bancos do jeito mais efetivo.
“Houve um erro de abordagem com os credores. Se houvesse sido feita a correção no balanço, só ia acontecer uma coisa: uma alavancagem muito alta. Era o caso de chegar em cada banco e dizer que essa alavancagem seria reduzida, assim não aconteceria esse caos”, explica.
A abordagem da empresa sobre o problema foi muito diferente dessa. No dia 11 de janeiro a companhia divulgou um fato relevante informando que seu balanço tinha inconsistências e que seu CEO e CFO renunciavam ao cargo que haviam assumido dias antes.
“O grande erro foi colocar na mesa todos os bancos. Eu que fiz um montão de reestruturações, sempre sento individualmente com os bancos. E em 90% das vezes eles querem a mesma coisa. Só muda da cor da chita. Um quer a chita verde, o outro vermelha”, conclui.
A solução
A dívida das Americanas passa dos R$ 40 bilhões, sendo os maiores credores o Deutsche Bank (R$ 5,2 bi), Bradesco (R$ 4,5 bi), Santander Brasil (R$ 3,6 bi), BTG Pactual (R$ 3,5 bi) e Votorantim (R$ 3,2 bi).
Mesmo assim, Luiz Cezar acredita que o problema pode ser resolvido, pois a empresa estava solvente antes do imbróglio e não é conveniente para os próprios bancos um processo litigioso, pois perderiam muito mais que o necessário. “Mas eles precisam ajoelhar no milho”, diz.
Eles, no caso, seriam os bilionários do 3G e acionistas de referência da Americanas Sicupira, Lemann e Telles. E ajoelhar no milho “buscar os bancos, humildemente, pedir desculpas, reduzir a alavancagem em um período de dois ou três anos e aumentar o capital”, resume Luiz Cezar.
Em um comunicado ao mercado, o 3G alega não ter ciência dos problemas da empresa e que, inclusive, o próprios banco foram incapazes de percebê-los.
“Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.”
Apesar de a solução ser simples, na visão de Luiz Cezar, não parece ser esse o andar da carruagem. Ou o comunicado soa como alguém ajoelhando no milho para você?
Para ouvir a entrevista completa, clique aqui.