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Brasil: eu já vi esse filme antes

Todo dia é Dia da Marmota

Por Renato Santiago

08 nov 2023 11h34 - atualizado em 08 nov 2023 11h34

Depois de uma semana muito bem aproveitada na praia de Santo André, Bahia (também chamada de praia do 7 a 1 por ter sido local de hospedagem da seleção alemã em 2014), voltei nesta segunda-feira a acompanhar as notícias e ler portais e jornais.

Não se ofendam, caros três leitores, mas confesso que ainda não estava com saudades. Uma semana é pouco para uma verdadeira desintoxicação laboral.

A volta às notícias me pareceu também uma volta ao passado, na verdade, uma repetição do passado, aos moldes do que acontece no filme Feitiço do Tempo, no qual o protagonista vive sempre o mesmo dia, o que é celebrada a festa do Dia da Marmota (se você não assistiu a esse clássico da Sessão da Tarde, recomendo que o faça). 

A julgar pelas notícias de Brasília, os dias de hoje são os mesmos que os do ano passado. 

No fim de 2022 tínhamos o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva criticando o mercado financeiro e o Banco Central pelos juros altos.

Com isso, o mercado ficava nervoso, duvidava da responsabilidade fiscal do governo e derrubava a bolsa. 

Hoje temos um presidente remando contra as metas de seu ministro da Fazenda ao declarar que o déficit fiscal “não precisa ser zero no ano que vem”, conforme vem pondo como meta Fernando Haddad.

O mercado, assim, questiona a responsabilidade fiscal do governo, e a bolsa cai. 

Tudo igualzinho, como se estivéssemos vivendo mais uma espécie de Dia da Marmota político e fiscal.

Em novo discurso, o presidente diz que vai usar os bancos públicos para “oferecer alternativas e oportunidade de crédito a juros mais baratos, a juros de longo prazo para que a indústria brasileira se transforme definitivamente em indústria competitiva”.

Sim, aparentemente o presidente do Brasil está falando sobre crédito subsidiado à indústria. 

Agora a sensação de Dia da Marmota é substituída por uma de déjà vu. Já vimos isso antes em um governo do PT, mais precisamente no primeiro governo Dilma Rousseff, e o resultado foi lamentável.

A notícia do dia, no entanto, é a de que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou o relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre a Reforma Tributária e agora o texto vai a plenário.

O texto simplifica, e muito, o sistema tributário brasileiro, mas mantém regimes de exceção para 13 setores da economia, que produzem desde dispositivos médicos a produções jornalísticas, passando por itens totalmente vagos, como artigos que garantam a soberania nacional.

Agora a sensação é de que eu já vi esse filme, o do eterno aluno nota seis, aquele que faz apenas o suficiente para passar de ano e só estuda mesmo na véspera da prova.

Ser investidor no Brasil é isso: tentar conseguir bater o CDI enquanto vive Dias da Marmota, déjà-vus e assiste a filmes repetidos. Acho que preciso de férias.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br