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Bull Market ao som de “Pelados em Santos”

Rali da bolsa com cara de anos 90?

Por Thiago Salomão

04 mar 2024 12h17 - atualizado em 04 mar 2024 02h33

O que você lembra dos anos 90?

Se os três leitores desta newsletter nasceram na mesma época que eu, certamente viveram a adolescência/juventude nos anos 90. E desculpa o saudosismo exagerado, mas que delícia de época! 

A primeira Copa do Mundo que eu lembro de todos os jogos foi justamente o tetra de 1994. Ainda no futebol, que década pra ser palmeirense: ganhamos tudo que disputamos, dos paulistões e brasileirões até a inédita Libertadores. A única exceção ficou com o mundial de 1999. O que o São Marcos me fez chorar naquele 30 de novembro de 1999…

Chorei muito também no dia 2 de março de 1996, praticamente 28 anos atrás, com o acidente aéreo com os integrantes do Mamonas Assassinas. Sabia cantar todas as músicas de cor e assistia tudo sobre eles. (aliás, que horrível o filme sobre a história do Mamonas, nem perca seu tempo. Melhor ver esse vídeo de 15 minutos que explica por que não ver o filme).

Tive todo esse momento saudosista após ler um relatório recente da consultoria canadense Alpine Macro. Ele aponta que o momento atual dos mercados está bem parecido com o que vimos na segund

metade dos anos 1990. O título do relatório entrega isso: “History Does Repeat” (A história se repete).

O que aconteceu naquela época? Vamos por partes:

O relatório começa dizendo que 1994 foi a única vez da história que o Federal Reserve subiu agressivamente os juros sem causar uma recessão. E muita coisa que era o contexto da época parece estar se repetindo hoje (lembrando que desde 2022 o Fed já subiu o juro em 525 pontos-base). Dentre as semelhanças, a Alpine ressalta que em ambos momentos tivemos um fenômeno tecnológico que ajudou a aumentar a produtividade do mundo – nos anos 90, foi o boom da internet; hoje é a inteligência artificial.

Mas vamos primeiro ver a semelhança do aperto monetário e a reação dos mercados. O gráfico abaixo à esquerda mostra a força do movimento de alta dos juros em 1994 e em 2022. No gráfico da direita, você observa a reação de queda das Treasuries de 10 anos, tanto lá nos anos 1990 quanto agora.

Outro ponto em comum está no mercado de trabalho apertado: naquela época, o mercado também vivia com medo da inflação por conta das taxas de desemprego baixíssimas, que acabou não se concretizando. Isso porque a produtividade cresceu muito forte pelo boom da internet, trazendo aumento de renda e de postos de trabalho sem impactar a inflação – algo que podemos ver atualmente com o advento da IA.

O bom momento da economia dos EUA frente ao resto do mundo em ambas épocas também é um ponto semelhante. Isso na época produziu um dólar forte e commodities comportadas.

Qual foi o impacto disso nos mercados nos anos 1990? O S&P500 estava num “bull market lento” quando o Fed começou a derrubar os juros no início da década até 1994. No entanto, quando o Fed passou a ter uma postura mais dovish, em 1995, o S&P engatou uma vigorosa alta de 5 anos de duração, como você pode ver abaixo:

Em retrospectiva, a combinação de uma economia forte, o pivô do Fed e a desinflação provaram ser um poderoso coquetel e o terreno fértil perfeito para a maior bolha acionária da história em tempos de paz”, escreveu Chen Zhao, estrategista-chefe da Alpino e que assina este relatório.

Vemos neste momento uma economia americana se fortalecendo, com empresas tendo expansão de margens e melhorando as estimativas de lucro, e a inflação ainda em tendência de queda. “Tudo isto é muito semelhante ao que ocorreu na segunda metade da década de 1990”, reforça Zhao.

Esse cenário de bolsa subindo mesmo com juros altos não chega a ser uma novidade pra quem lê esta coluna: na semana passada, trouxe nesta newsletter um resumo do que os gestores multimercados falaram no evento do BTG Pactual e um dos principais insights foi este:

Confesso que em 1995 não tinha idade nem conhecimento de mercado para lembrar deste rali da bolsa. Quem sabe a história se repete e a gente viva um bull market com cara de anos 90: ouvindo “Pelados em Santos” no discman, mascando um Ping Pong e usando uma camiseta da Bad Boy com um bermudão deixando metade da cueca à mostra. Um sonho.

Em tempos: a carteira do fundo MARKET MAKERS FIA está praticamente “sem caixa”, ou seja, ela está com quase 100% do patrimônio aplicado nas ações. Isso evidencia nosso otimismo com o preço atual das empresas que investimos.

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br