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Cabeça de dono

Invisto em quem cuida da empresa como eu cuido do Market Makers

Por Thiago Salomão

04 Sep 2024 15h43 - atualizado em 04 Sep 2024 03h47

O analista de investimentos precisa ser, por essência, uma pessoa absurdamente curiosa e inquieta.

Parte deste processo consiste no momento de estudo, ou “fazer o research”, como o próprio nome em inglês da profissão. Mas parte deste processo também envolve (caso você tenha os acessos certos, obviamente) conversas com pessoas inteligentes, que ou entendem muito sobre um assunto específico ou tenham uma opinião diferente da tua sobre alguma tese.

Essas consultas externas são totalmente complementares ao trabalho solitário de estudo. Aliás, não acredito em uma análise completa sem essas duas etapas: o research, por mais bem feito que seja, lhe custará bem menos tempo e poderá ser colocado à prova se você conversar com as pessoas certas; por outro lado, apenas ouvir os outros sem ter feito uma boa pesquisa não faz o menor sentido, pois vai te deixar numa posição totalmente passiva na troca de ideias.

Quem ouviu o episódio #120 do Market Makers com o Cristiano Souza (Zeno Equity Capital) aprendeu sobre a importância do que ele chama de empresas com “Founders’ Mindset”, ou mentalidade de fundador.

Parece até meio óbvio dizer que é bom investir em empresas tocadas por alguém que tenha uma mentalidade de fundador.

Mas refletir sobre esta ideia com alguém com muito mais experiência e sucesso do que nós no mercado (Souza foi da Dynamo por 30 anos) nos trouxe reflexões importantes sobre uma das empresas da nossa carteira de ações e até mesmo para o nosso negócio, o Market Makers como empresa.

Vamos por partes: primeiro sobre o insight aprendido, depois sobre como isso se reflete no Market Makers e, por fim, sobre a ação da nossa carteira.

Afinal, o que é essa “cabeça de dono” na prática? Acredito que isso significa ter visão de longo prazo, não arriscar a credibilidade do negócio (seja com clientes, colaboradores ou parceiros) em troca de resultados de curto prazo, preocupar-se em manter forte a cultura e os princípios do negócio, não se vislumbrar com bons resultados no curto prazo…

Em resumo: cabeça de dono significa tocar o negócio como se ele fosse a última empresa da sua vida e que você ficará nela para sempre.

Por mais utópica que a frase acima possa soar, é desse jeito que eu gosto de encarar as empresas que estamos investindo, pois é exatamente assim que eu e meus sócios encaramos o Market Makers: como o último negócio de nossas vidas.

Ou seja: queremos investir em empresas que são tocadas com a mesma mentalidade que nós tocamos o MMakers. Tão simples quanto isso.

É por isso que gostamos de manter o foco em estudar empresas e investir em ações. É por isso que limitamos a quantidade de novos membros do M3 Club. É por isso que tentamos fazer conversas e conteúdos mais profundos, por mais que isso reduza a quantidade de potenciais consumidores deste conteúdo…

Focamos no longo prazo, pois estaremos aqui nos próximos 10, 20, 50 anos… 

Só de ter essa mentalidade enraizada em cada um de nós, conseguimos dizer mais “não” do que “sim” a cada nova ideia que nos oferecem, ou que nós mesmos tivemos.

Foi muito valioso ter toda essa reflexão agora pois na última semana nós tivemos um encontro com os membros do M3 Club e com o CEO e CFO da Valid (VLID3), um dos melhores investimentos da carteira de ações do Market Makers.

O que foi mais legal nesse encontro?

A Valid é uma empresa de quase 70 anos de história e tanto o Ilson Bressan (CEO) quanto o Olavo Vaz (CFO) estão a menos de 5 anos nela, sendo que ambos assumiram seus cargos atuais neste ano de 2024. Mesmo assim, nas quase 3 horas de conversa, o foco foi totalmente no futuro da empresa, a despeito dos ótimos resultados que a companhia reportou nos últimos trimestres.

Talvez nem todos saibam, mas a Valid está muito presente em nosso dia a dia: é ela a responsável pela 1) emissão de 70% de todos os RGs, CPFs e CNHs do Brasil, 2) produção de 25% dos cartões de crédito/débito no Brasil, e 3) fabricação de 10% dos chips de celulares do mundo todo. O que esses três negócios têm em comum? Eles garantem a nossa identidade perante governos e estados, instituições financeiras e empresas de telecomunicações. 

Apesar dos desafios de longo prazo que cada uma dessas verticais enfrenta, a empresa tem conseguido não apenas proteger essas três linhas de negócio, como também encontrado novas formas de monetização em cada uma delas (como por exemplo, contratos para digitalizar os dados de estados e governos).

Falando especificamente dessas novas verticais de receita: Governo Digital, Flexdoc e Mobile representaram 12% do EBITDA total da Valid no 1º semestre de 2024 (em 2022, esses negócios nem existiam).

Nos últimos anos a Valid passou por uma verdadeira reestruturação e vem colhendo seus frutos recentemente, tendo obtido lucros recordes nos últimos trimestres e a maior posição de caixa de sua história. O que era pra ser um “dying business” por sua atuação nos mercados de chips e emissão de cartões tornou-se uma avenida de potenciais crescimentos atuando lado a lado com governos e setor financeiro.

Este encontro com os diretores da Valid foi exclusivo para os membros do M3 Club. Aliás, aproveito para agradecer os gestores, analistas de ações e outros profissionais do mercado financeiro que ingressaram no M3 Club e já participaram desta reunião com a Valid.

Perceber que o M3 Club é importante inclusive para quem já faz parte do mercado é melhor “selo de qualidade” que poderíamos ter ao nosso serviço, fora que isso enriquece ainda mais o networking dos participantes.

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br