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Cinco verdades que você precisa saber antes de comprar uma ação

E por quê têm coisas que não são simples como parecem

Matheus Soares

Por Matheus Soares

23 Apr 2025 10h30 - atualizado em 23 Apr 2025 12h15

Não existe forma melhor de explicar o mercado de ações a alguém do que fazê-lo citando exemplos. Pelo menos é isso o que tento fazer quando me perguntam se é uma boa hora para se investir em ações ou não.

Nessa Páscoa até testei algo diferente: quando perguntado se era uma boa hora para investir, eu devolvi a seguinte pergunta: você quer multiplicar o seu capital 10 vezes nos próximos anos? Falei que a oportunidade é essa. A pessoa se interessou – obviamente (só assim para prender a atenção de alguém quando eu falo sobre ações).

As pessoas perguntam sobre ações como se fosse algo esotérico: como se a ação valorizasse ou desvalorizasse com base numa força sobrenatural. Bastaria comprar quando o preço da ação estiver em baixa e vender quando o preço estiver em alta para ficar rico.

Embora o segredo de qualquer investimento, de fato, seja comprar na baixa e vender na alta – isso vale para casa, carro, relógio, arte, dentre outros – na prática não é tão simples assim. Aliás, duvide de quem fala que é simples.

Vou listar a seguir, cinco verdades que você precisa saber antes de se aventurar no mercado.

1) As leis sobrenaturais não regem o mercado financeiro

Se uma ação caiu 90% e você acha que após a queda ela não tem muito mais para cair, saiba que ela pode cair outros 90%. Não existe nenhuma força sobrenatural que evite isso.

2) Assim como na vida, o mercado é feito de expectativas

Quem já escutou a frase “felicidade é igual realidade menos expectativa”? Pois é disso que se trata o investimento em ações. Uma ação sobe quando a empresa entrega resultados melhores que as expectativas e cai quando a empresa frustra as expectativas dos investidores. E veja bem: a entrega de resultados não precisa ser boa para a ação subir, basta ser melhor que as expectativas.

3) Se você quer comprar uma ação, estude a empresa

Imagine que você é personal trainer. Se o dono da academia de musculação que você trabalha vira para você e te oferece 50% do negócio a um preço X, que conta você vai fazer para saber se o investimento faz sentido?

Imagino que você vá buscar informações do tipo: (i) quantidade de alunos que a academia possui, (ii) mensalidade que cada aluno paga, (iii) custo com professores, (iv) custo com manutenção de equipamentos, (v) despesas com energia elétrica e limpeza, enfim, você vai querer entender cada linha do resultado para estimar o potencial de lucro do negócio.

E não acaba aí. Vai fazer cálculos para saber se existe espaço para expandir a academia, se a concorrência está aumentando (e, portanto, se existe espaço para cortes de preço na mensalidade) e se o seu futuro sócio é confiável.

E mesmo depois de fazer todas essas contas, quanto você vai querer pagar pelo negócio?

Se você quer comprar uma ação, estude a empresa!

4) O preço que você paga por uma ação importa muito

O retorno de um investimento é uma variável do preço que se paga por ele.

Vou voltar ao exemplo da academia de musculação.

O dono da academia agora não está mais tentando vender metade do seu negócio para uma única pessoa. Na realidade, ele decidiu dividir a posse de sua empresa em um milhão de pedaços iguais, ou ações. O plano dele é reservar 500 mil ações para si mesmo e vender as outras 500 mil por R$ 8 cada (R$ 4 milhões no total).

Quem tiver interesse em comprar uma parte do negócio por esse preço pode comprar uma ação (por R$ 8), cem (por R$ 800) ou mil (por R$ 8 mil), ou qualquer número que quiser.

Quem tiver interesse em comprar 50% do negócio (500 mil ações), terá direito a 50% dos lucros futuros da academia. Basta saber se pagar R$ 4 milhões por 50% dos lucros futuros da academia é um bom negócio.

Como já se sabe que o dono da academia quer R$ 4 milhões por 50% do negócio, isso quer dizer que ele acha que a academia vale R$ 8 milhões.

A academia possui 1000 alunos e cada um paga R$ 300 de mensalidade. Isso dá um faturamento mensal de R$ 300 mil e anual de R$ 3,6 milhões.

Como a academia possui 20 professores e o salário de cada um é de R$ 5 mil, o custo mensal com pessoas é de R$ 100 mil e anual de R$ 1,2 milhão. Além disso, é preciso colocar na conta os custos de manutenção dos equipamentos e as despesas com aluguel, energia elétrica, limpeza e administração. Estamos falando de mais R$ 800 mil em despesas.

Com isso, o lucro da academia foi de R$ 1,6 milhão. Mas não para por aí, é preciso pagar 34% de imposto ao governo – aproximadamente 540 mil reais. Com isso, chegamos a um lucro líquido de R$ 1 milhão.

Será que esse é um bom negócio? Vale a pena investir R$ 4 milhões por um lucro líquido de R$ 500 mil? Estamos falando de um retorno de 12,5% ao ano.

Se os títulos públicos brasileiros estiverem pagando 6 a 8% ao ano de juro real (ou seja, já descontada a inflação), um retorno real de 12,5% ao ano parece se tratar de um negócio mediano. Se a academia tiver potencial para crescer esse lucro em 50%, aí sim, pode se tratar de um bom negócio.

5) Reconheça o poder da taxa de juro o quanto antes

Além de afetar a economia em si, a taxa de juro tem múltiplas consequências sobre o apreçamento dos ativos. Quando as taxas de juros sobem, todos os preços dos ativos devem cair. O contrário também é verdadeiro.

Agora que você tem conhecimento sobre essas cinco verdades, você talvez pense duas vezes antes de achar que uma ação pode ser um bom investimento pelo simples fato de o preço dela ter caído (ou subido).

Se os 5 leitores que chegaram até aqui ainda tiverem paciência para ler sobre o que o múltiplo Preço/Lucro (ou P/L) nos diz sobre uma ação, inscrevam-se na CompoundLetter, pois na semana que irei escrever sobre esse tópico na minha newsletter semanal.

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br