Notícia
4min leitura
O que você não pode deixar de olhar no 2T25
Veja as principais características para observar com profundidade nesses balanços

Começou a temporada de resultados do 2º trimestre de 2025
Época em que minhas olheiras aumentam, mas que eu particularmente adoro. É nesse período que o mercado ganha sua maior dose de volatilidade: as empresas abrem seus números operacionais e financeiros, e nós — analistas e gestores — descobrimos se elas continuam nos trilhos ou se descarrilharam.
Nesta CompoundLetter, quero compartilhar com você o que eu costumo observar nos resultados das empresas em que invisto. Talvez isso te ajude a olhar com mais profundidade os balanços das empresas que você acompanha também.
1. Receita líquida: como está o coração do negócio?
O primeiro número que sempre olho é o crescimento da receita líquida. É o coração do negócio. É o que movimenta toda a engrenagem, o que dá propósito ao trabalho de quem acorda cedo e vai dormir tarde. Se a empresa quer aumentar o lucro, melhorar os salários ou remunerar os acionistas, o primeiro passo é simples: crescer a receita.
2. Margens: o quão saudável está a empresa?
Mas não adianta crescer vendendo R$ 1 a R$ 0,90. É por isso que olho com lupa para as margens: bruta, EBITDA e EBIT. A margem bruta mostra se o negócio está saudável na essência – ou seja, se o produto ou serviço tem preço e valor. Já a margem EBITDA mostra se a empresa tem conseguido segurar suas despesas operacionais, especialmente com vendas e administrativas.
Fique atento às armadilhas: às vezes a receita sobe 15%, mas o EBITDA fica estagnado – ou pior, cai. A empresa pode ter torrado dinheiro em marketing, descontos ou simplesmente não ter conseguido diluir os custos fixos. E, nesse mercado difícil que estamos vivendo, o investidor não perdoa quem perde margem.
(Obs: minha análise aqui vale especialmente para empresas fora do universo de commodities – onde margens são naturalmente mais voláteis, por causa dos preços globais e do câmbio.)
3. Lucro líquido: cresceu acima das expectativas? Com ou sem gol de mão?
Depois de receita e margem, vem a estrela do DRE: o lucro líquido. É a linha mais esperada, tanto pelos investidores quanto pelas próprias empresas, que sabem da sua importância e muitas vezes se desdobram para não frustrar expectativas.
Por isso, cuidado com malabarismos. Reavaliações de ativos, mudanças contábeis, alíquotas de imposto artificialmente baixas… tudo isso pode servir para “empurrar” o lucro pra cima para bater o lucro líquido dos analistas. Geralmente esse tipo de estratégia não funciona e, ainda que a empresa supere as expectativas do mercado, a ação cai no dia seguinte por ter sido encarada como um “gol de mão”, fazendo uma analogia com o futebol.
4. Geração de caixa: o negócio gera caixa?
Feito a análise da DRE, hora de ir para o fluxo de caixa. O que eu gosto de analisar aqui é a conversão do EBITDA em caixa operacional. Isso revela a saúde do capital de giro. A empresa está crescendo, mas está demorando mais para receber dos clientes? Os fornecedores estão apertando? Está queimando caixa?
Uma dinâmica ruim de capital de giro pode fazer a empresa ir atrás de dívidas de curto prazo, que inclusive, podem impactar negativamente o lucro líquido da empresa – que eu trouxe no item 3 – e, consequentemente, o endividamento e alavancagem dela. Aumento da alavancagem – geralmente medida como dívida líquida sobre o EBITDA – em um mercado difícil como esse, de juros de 15% ao ano pelo menos, é uma notícia ruim.
5. CAPEX e ROIC: como a empresa está alocando o capital?
Seguimos na alocação de capital. O quanto a empresa está investindo? O CAPEX está aumentando em relação à receita? Está investindo porque o negócio está crescendo ou só para manter a operação em pé?
Aqui, o ROIC entra como termômetro: ele mostra se o capital investido está gerando retorno compatível. Só cuidado com o timing – às vezes a empresa investe hoje para colher os frutos só daqui a alguns trimestres. Como para ser calculado o ROIC leva em consideração o capital investido – geralmente calculado como capital de giro + capital imobilizado e intangível – essa dinâmica pode penalizar o ROIC no curto prazo, mas não necessariamente é um problema. O importante é entender o porquê.
6. Dividendos e recompra: como o dinheiro está voltando para o acionista?
Ainda em alocação de capital, vale acompanhar se a empresa está distribuindo dividendos ou recomprando ações. Em muitos casos, isso diz muito sobre a confiança da gestão no negócio – e também sobre o valuation implícito que ela enxerga.
Em todos esses itens, o mercado tem uma expectativa. E é por isso que a reação ao resultado costuma ser tão intensa. Não basta crescer receita, lucro e EBITDA – se ficar abaixo do que o mercado esperava, a ação cai. A empresa pode entregar um lucro 50% maior na comparação anual, mas se o consenso era de 70%, não adianta. O mercado vai olhar com frustração.
Para te ajudar a se organizar, deixei [AQUI] uma matéria com o calendário completo de resultados do 2T25.
Se você é membro do M3 Club, nos próximos dias vou compartilhar contigo as expectativas do mercado para cada uma das 13 empresas da Carteira Market Makers. Se ainda não é, mas quer estar junto de investidores que olham com lupa todos esses indicadores, considere se juntar a nós.