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Como os flanelinhas mudaram a vida de um doutor em economia
O curioso motivo que o fez Samuel Pessôa tornar-se doutor em economia
Texto originalmente publicado na CompoundLetter, a newsletter do Market Makers. Inscreva-se na newsletter gratuitamente deixando o seu e-mail aqui
Samuel Pessôa não pode ser chamado de economista. Apesar de ter um doutorado na matéria, ser pesquisador do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia, da FGV) e da Julius Baer, sua graduação é em física.
No Market Makers não costumamos nos estender muito sobre o currículo dos entrevistados, mas nesse caso tivemos que parar e perguntar: como um físico que acabara de defender sua tese de mestrado sobre frações gasosas e a distribuição de tamanho de aerossóis atmosféricos foi parar no estudo dos problemas econômicos brasileiros?
Abaixo, a resposta do próprio Samuel Pessôa:
No começo dos anos 1980 sabíamos que o Brasil era pobre, mas vínhamos de um período de 50 anos de crescimento acelerado e a pobreza brasileira estava escondida mais no campo e nas periferias.
Aí deu essa crise dos anos 1980, a década perdida. Isso gerou um problema no mercado de trabalho que nunca mais se corrigiu, por que bateu com uma transição demográfica, a economia perdeu dinamismo e o Brasil não achou mais o caminho do crescimento.
Aquela crise afetou muito a indústria, houve também uma queda de crescimento em um processo estrutural que a gente não sabia que era tão estrutural.
Então começamos a ver a pobreza chegar na nossa cara. Descobrimos de verdade que o Brasil era pobre.
Em 1983 eu tinha 20 anos. Se você fosse naquela época ao [cinema] Belas Artes, em São Paulo, e estacionasse seu carro na Alameda Santos, não tinha flanelinha. Não existia esse fenômeno do guardador de carro, exceto [nos estádios do] Morumbi e do Pacaembu, e no Anhangabaú.
Com essa crise surgiu a figura do guardador de carro. Eu peguei bem essa transição e eu me lembro bem. A gente brigava com eles, não aceitava. Mas se não pagasse, ele riscava o carro.
O guardador tem muito mais poder de barganha, virou o dono da rua e todo mundo aceitou. Ele passou a ser uma instituição normalizada porque ele tem esse poder.
Vendo e vivendo isso, começou a me incomodar o fato de que eu vivia num país subdesenvolvido. Então pensei: poxa, se eu vou ser acadêmico, é melhor estudar a sociedade. A partir daí, me preparei para a prova da Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia) e comecei a estudar economia, graças à instituição flanelinha.
Ouça a entrevista completa clicando aqui.