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Compounding do conhecimento
Acumular aprendizados ao longo do tempo te ajudará muito no mercado — e investimento de Buffett em Apple é um exemplo disso

Alexandre tem um clube de investimentos com cerca de R$ 30 milhões sob gestão e, antes disso, trabalhou por 20 anos na diretoria de Gente & Gestão de uma das maiores empresas do Brasil, ocupando cargos de chefia aqui e mundo afora.
Philippe tem mais de 20 anos de experiência no mercado de ações e em 2019 fundou uma gestora com outros dois sócios e desde então vem se consolidando como uma das principais casas multimercados do Brasil.
Cássio trabalha em um dos maiores fundos soberanos do mundo e atualmente está na área de expansão de uma rede de academias investida por este fundo.
O que o Alexandre, Philippe e Cássio têm em comum? Eles estavam entre os 50 participantes do encontro que fizemos com o CEO da Priner, Túlio Cintra, na última semana. O evento foi um dos vários que promovemos no M3 Club, a fraternidade de investidores do Market Makers.
Como fundador do MMakers, não há nada mais gratificante do que unir pessoas com perfis e formações tão diferentes mas com um único objetivo em comum: adquirir conhecimento.
”Que papinho, Salomão. Todo mundo sabe que esses caras tão aí porque querem ganhar dinheiro”.
Com certeza ganhar dinheiro deve ser o objetivo final – assim como o objetivo final das minhas fisioterapias semanais é fazer mais gols no futebol. Mas esse não é o único motivo que fez 50 pessoas diferentes saírem de suas casas para entrar num carro (ou num avião, para os que moram fora de São Paulo) para ouvir o CEO de uma empresa listada na bolsa.
O conhecimento adquirido em um evento como esse estará contigo pra sempre. E por isso, ele se juntará com os próximos conhecimentos adquiridos, provocando um “juro sobre juro” de sabedoria. É o compounding do conhecimento.
Essa pra mim é uma das grandes belezas da gestão ativa: sem querer entrar na polêmica entre “ETFs vs investimentos ativos”, mas se tem algo maravilhoso que investir em empresas me traz é a quantidade de aprendizado que absorvo com isso. Motivo óbvio: se eu vou virar sócio de uma companhia, preciso estudar o máximo possível sobre ela, sobre os concorrentes, o setor no Brasil, no mundo…
Ouvir a apresentação do Túlio e as várias perguntas feitas por nós em mais de 1 hora e meia de Q&A certamente trouxe muito aprendizado aos presentes. As conversas pré e pós-evento entre os participantes trouxeram conexões que sempre são valiosas.
Veja essa conversa que eu tive com o Daniel, um gerente de vendas de uma grande fabricante de motos, ao final da reunião. Ele me disse: “você sabe o quanto eu estudei de Priner pra chegar aqui e poder acompanhar o papo? Muito! E valeu muito a pena, eu consegui entender tudo e interagi com todos os presentes, aprendendo muita coisa nova”.
Isso é dividendo pra alma. Saber que estamos fazendo a diferença na vida das pessoas que fazem parte do M3 Club.
Li recentemente a carta anual da TB Capital. Nela há uma grande reflexão sobre o compounding do conhecimento, usado na prática por ninguém menos que Warren Buffett.
Na última conferência da Berkshire Hathaway, Buffett contou como isso foi necessário para o investimento em Apple – um dos mais lucrativos da história da holding.
Veja abaixo a fala do Buffett (como ela é bem longa, traduzi para facilitar a leitura):
“As pessoas especularam sobre como eu decidi realmente colocar muito dinheiro em Apple. Uma coisa sobre a qual Charlie e eu aprendemos muito foi o comportamento do consumidor. Isso não significava que nós pensamos que poderíamos administrar uma loja de móveis ou qualquer outra coisa, mas aprendemos muito quando compramos uma loja de móveis em Baltimore. Rapidamente percebemos que foi um erro, mas cometer esse erro nos tornou mais inteligentes sobre realmente pensar em qual seria o processo de alocação de capital e como as pessoas provavelmente se comportariam no futuro com lojas de departamento e todos os tipos de coisas que nós não teríamos realmente focado. Então, aprendemos algo sobre o comportamento do consumidor com isso. Não aprendemos a administrar uma loja de departamentos. O próximo foi Sea’s Candies, que também foi um estudo sobre o comportamento do consumidor. Havia todos os tipos de coisas que não sabíamos, mas aprendemos mais sobre o comportamento do consumidor à medida que avançamos. Esse tipo de conhecimento, de uma maneira muito geral, foi levado para o estudo do comportamento do consumidor em termos de produtos da Apple. Acho que os psicólogos chamam isso ‘apercepção de massa’. Há algo que surge que leva um monte de observações que você fez e conhecimento que você tem e, em seguida, cristaliza seu pensamento em ação, grande ação no caso da Apple. Acho que minha mente atingiu a massa aperceptiva, que eu realmente não sei nada sobre isso mas conheço o fenômeno quando o experimento. (…) Eu não sei, pode haver algum carinha dentro do iPhone ou algo assim, não tenho ideia de como ele funciona. Mas eu sei o que isso significa. Eu sei o que isso significa para as pessoas e sei como elas usam, e acho que eu sei o suficiente sobre o comportamento do consumidor para saber que é talvez o melhor produto de todos os tempos, e o valor que ele oferece é incrível”.
Resumindo um parágrafo longo: Buffett rechaça a ideia de que o investimento em Apple foi um golpe de gênio ao dizer que, na verdade, ele foi um produto do conhecimento que ele acumulou ao longo das décadas investindo e estudando o comportamento do consumidor.