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Crise no setor aéreo: entenda em 5 pontos

Na semana passada, a Azul entrou com Chapter 11 nos EUA. É um mecanismo semelhante ao da recuperação judicial no Brasil. 

Leopoldo Rosa

Por Leopoldo Rosa

06 Jun 2025 09h56 - atualizado em 04 Jun 2025 05h00

Na semana passada, a companhia aérea brasileira Azul entrou com Chapter 11 nos Estados Unidos. É um mecanismo semelhante ao da recuperação judicial aqui no Brasil. 

Agora, a empresa precisa reduzir a operação, conseguir créditos e se recuperar de um cenário com uma confluência de fatores negativos.

Mas essa situação não é exclusiva da Azul. Latam, em 2020 e Gol, em 2024 também já entraram com o mesmo pedido, escancarando a crise no setor aéreo brasileiro. 

Hoje, na nossa série 5 pontos, explicamos alguns motivos que justificam esse cenário. 

Vamos lá?

1. Receita em real, custo em dólar

Boa parte das despesas de uma companhia aérea — como leasing de aeronaves, combustível e manutenção — é dolarizada.

Já a receita, majoritariamente em real, não acompanha essa alta. Com isso, tempos de câmbio desfavorável, como o atual, tendem a criar uma desvantagem considerável para as companhias. 

2. Um combustível que pesa no caixa

O querosene de aviação (QAV) disparou nos últimos anos, pressionando a estrutura de custos das empresas. Só em janeiro deste ano, houve dois aumentos que somaram mais de 15% de acréscimo no preço. 

3. A herança da pandemia ainda sufoca

Com voos paralisados em 2020 e 2021, o setor acumulou dívidas bilionárias para sobreviver. 

O CEO da Abra Group (que controla Gol e Avianca), Adrian Neuhauser, disse que o setor aéreo latino-americano segue enfrentando dificuldades financeiras em razão da ausência de apoio governamental durante a pandemia de covid-19. Segundo ele, a falta de subsídios forçou grandes players do mercado a passarem por reestruturações para manter as operações.

Em novembro do ano passado, o governo anunciou uma linha de crédito de R$4 bilhões, que seriam liberados no começo de 2025. Agora, a medida foi adiada para setembro. 

4. Judicialização em massa afeta o setor

O Brasil concentra 98,5% das ações judiciais contra companhias aéreas no mundo.

São, em média, dois processos por voo realizado, segundo a Abear, associação que concentra as empresas do setor. 

O número, que sempre foi alto, cresceu ainda mais. Entre 2020 e 2023 houve um aumento médio de 60% na quantidade de ações judiciais. 

Isso eleva os custos jurídicos, impacta provisionamentos e prejudica o caixa das empresas.

5. Fusões, cortes e reestruturações no radar

Azul, Gol e até a Latam já entraram em Chapter 11 nos EUA para renegociar dívidas e buscar fôlego. A Azul reportou dívida bruta de R$31,3 bilhões no fim de março e planeja reduzir sua frota futura em 35%. 

Azul e Gol iniciaram no ano passado uma conversa que poderia levar à fusão das duas empresas, mas a situação financeira da Azul parece ter tomado o espaço dessa discussão que, segundo o CEO da companhia, não é prioridade agora. 

Resumo da Ópera

O setor aéreo brasileiro vive uma crise estrutural — não apenas uma turbulência passageira. Alto grau de alavancagem, custos em dólar, judicialização e demanda instável fazem da aviação uma indústria de alto risco e baixa previsibilidade para o investidor.

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Leopoldo Rosa
Por Leopoldo Rosa

Leopoldo Rosa é jornalista com MBA em Mercado de Capitais pela UBS/B3 e em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral. Tem passagens por Globo, CBN, CNN e Abril.

leopoldo.rosalino.ext@mmakers.com.br