Notícia
2min leitura
Crise no setor aéreo: entenda em 5 pontos
Na semana passada, a Azul entrou com Chapter 11 nos EUA. É um mecanismo semelhante ao da recuperação judicial no Brasil.

Na semana passada, a companhia aérea brasileira Azul entrou com Chapter 11 nos Estados Unidos. É um mecanismo semelhante ao da recuperação judicial aqui no Brasil.
Agora, a empresa precisa reduzir a operação, conseguir créditos e se recuperar de um cenário com uma confluência de fatores negativos.
Mas essa situação não é exclusiva da Azul. Latam, em 2020 e Gol, em 2024 também já entraram com o mesmo pedido, escancarando a crise no setor aéreo brasileiro.
Hoje, na nossa série 5 pontos, explicamos alguns motivos que justificam esse cenário.
Vamos lá?
1. Receita em real, custo em dólar
Boa parte das despesas de uma companhia aérea — como leasing de aeronaves, combustível e manutenção — é dolarizada.
Já a receita, majoritariamente em real, não acompanha essa alta. Com isso, tempos de câmbio desfavorável, como o atual, tendem a criar uma desvantagem considerável para as companhias.
2. Um combustível que pesa no caixa
O querosene de aviação (QAV) disparou nos últimos anos, pressionando a estrutura de custos das empresas. Só em janeiro deste ano, houve dois aumentos que somaram mais de 15% de acréscimo no preço.
3. A herança da pandemia ainda sufoca
Com voos paralisados em 2020 e 2021, o setor acumulou dívidas bilionárias para sobreviver.
O CEO da Abra Group (que controla Gol e Avianca), Adrian Neuhauser, disse que o setor aéreo latino-americano segue enfrentando dificuldades financeiras em razão da ausência de apoio governamental durante a pandemia de covid-19. Segundo ele, a falta de subsídios forçou grandes players do mercado a passarem por reestruturações para manter as operações.
Em novembro do ano passado, o governo anunciou uma linha de crédito de R$4 bilhões, que seriam liberados no começo de 2025. Agora, a medida foi adiada para setembro.
4. Judicialização em massa afeta o setor
O Brasil concentra 98,5% das ações judiciais contra companhias aéreas no mundo.
São, em média, dois processos por voo realizado, segundo a Abear, associação que concentra as empresas do setor.
O número, que sempre foi alto, cresceu ainda mais. Entre 2020 e 2023 houve um aumento médio de 60% na quantidade de ações judiciais.
Isso eleva os custos jurídicos, impacta provisionamentos e prejudica o caixa das empresas.
5. Fusões, cortes e reestruturações no radar
Azul, Gol e até a Latam já entraram em Chapter 11 nos EUA para renegociar dívidas e buscar fôlego. A Azul reportou dívida bruta de R$31,3 bilhões no fim de março e planeja reduzir sua frota futura em 35%.
Azul e Gol iniciaram no ano passado uma conversa que poderia levar à fusão das duas empresas, mas a situação financeira da Azul parece ter tomado o espaço dessa discussão que, segundo o CEO da companhia, não é prioridade agora.
Resumo da Ópera
O setor aéreo brasileiro vive uma crise estrutural — não apenas uma turbulência passageira. Alto grau de alavancagem, custos em dólar, judicialização e demanda instável fazem da aviação uma indústria de alto risco e baixa previsibilidade para o investidor.