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Cuidado com o que você sabe (ou acha que sabe)
Uma história contada por Christopher Mayer, no livro How Do You Know, que me marcou bastante

Tem uma história contada por Christopher Mayer, no livro How Do You Know, que me marcou bastante. O trecho traz uma experiência real de uma pessoa que entra em um restaurante, deixa seu chapéu com o recepcionista e ao sair fica surpreso ao ver que o mesmo recepcionista devolve corretamente o chapéu que ele havia deixado.
Curiosa, a pessoa vira para o recepcionista e pergunta: “Como você sabia que esse chapéu era o meu?”
O recepcionista responde, com educação: “Eu não sabia, senhor. Você que me entregou.”
Essa resposta simples me fez refletir sobre a diferença entre o que sabemos e o que inferimos. O recepcionista não sabia, mas deduziu que o chapéu era do moço e fez isso com base em um dado concreto: “você me entregou este chapéu”.
Mayer explora esse tipo de confusão com profundidade ao longo do livro. E mostra como, nos mercados, confundimos essas duas coisas o tempo inteiro. “Você ficará mais atento às diferenças entre fatos e inferências. Mais cuidadoso sobre o que sabe – e o que apenas supõe saber.”

Veja o noticiário financeiro. Todo dia, analistas explicam o mercado com frases como: “A bolsa caiu porque os juros subiram.” “O dólar subiu por causa do risco fiscal.” “As ações subiram após o discurso do Fed.” Mas será que isso é fato? Ou só uma tentativa de encaixar causalidade onde só existe coincidência?
Um outro trecho do livro é ainda mais provocador. Mayer mostra que podemos chegar a uma conclusão perfeitamente lógica com base em um completo absurdo: “Todos os ‘gritches’ são ‘hogwashes’. Michael é um gritch. Logo, Michael é um hogwash.” A estrutura está certa, mas o conteúdo é inútil já que hogwashes e gritches são palavras inventadas pelo autor.
É como uma tese de investimento muito bem embalada, com gráficos bonitos, múltiplos calculados e um raciocínio impecável – mas baseada em premissas falsas ou frágeis. A lógica até pode ser perfeita, mas a conclusão pode ser absurda.
Assim como o recepcionista devolveu o chapéu com base em uma informação concreta, nós também deveríamos nos atentar mais aos dados reais. O investidor sábio ao invés de tentar prever o que o mercado vai fazer amanhã, busca entender o que está de fato acontecendo hoje. Nem todas as empresas reagem igual a juros altos. Nem toda alta do dólar é sinal de crise. Nem toda ação do mesmo setor merece o mesmo rótulo. Generalizar é mais fácil do que pensar.
O How Do You Know não ensina como avaliar ações. Mas entrega algo ainda mais valioso: a importância de saber o que não sabemos ao certo – uma característica comum entre os melhores investidores.