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De onde eu vim, pra onde eu vou: reflexões sobre os rumos do mercado
Nem pense em comprar "tranqueiras", porque ainda tem muita coisa boa e barata na Bolsa
Na hora que este texto chegar ao email de todos os 3 leitores da CompoundLetter, eu estarei no Rio de Janeiro iniciando uma sequência de gravações e reuniões com os principais gestores cariocas (sim, falarei com aqueles que nunca aparecem publicamente – mas não, eles não participarão das gravações). Mesmo assim, pretendo trazer alguns insights nas minhas próximas aparições.
A primeira viagem do Market Makers acontece num momento especial da minha carreira: nesta terça-feira, 25 de abril, será o 4º aniversário desta profissão “podcaster”. É até louco perceber tudo que aconteceu de 2019 pra cá na minha trajetória profissional e até na minha percepção sobre o mercado – daria pano pra mais de newsletter…
A newsletter de hoje é um mega apanhado de tudo que tenho acompanhado do mercado nos últimos meses. Fiz isso pois como irei passar o dia todo conversando com tanta gente bem mais inteligente do que eu, gastei meu fim de semana fazendo uma retrospectiva do que vivemos desde o início do MMakers. Uma espécie de “onde estávamos + para onde vamos”.
Abaixo, as reflexões levemente desorganizadas e elevadamente aleatórias – como uma boa mente pensativa tem que ser:
– Dever de casa bem feito – até 2022… O Brasil vinha fazendo bem seu papel até chegar 2022 e jogarmos todo o progresso no lixo: o governo anterior gastou tudo que podia e que não podia pensando em ganhar a eleição, mas perdeu e agora um governo de esquerda assumiu com a missão de enxugar os gastos. Não tem como ficar otimista neste contexto.
– Um lado bom na história: começamos antes que o resto do mundo o ciclo de alta de juros, então podemos ser um dos primeiros a começar a cortar. Quando isso virá? Como temos convicção de que ele virá em breve, a data é menos importante do que os fundamentos para o corte – ou seja, é melhor que a Selic caia sem pressa, mas com muita fundamentação técnica e pouca pressão política.
– Um adendo ao regime de metas… Paralelamente ao corte de juros, é fundamental que tenhamos uma discussão TÉCNICA sobre regime de metas de inflação. Como exploramos no Market Makers #33, que contou com Braulio Borges e Sergio Werlang (este um dos pais da criação do regime de metas no Brasil), não adianta a meta ser 3% “porque assim é no mundo”. É mais do que óbvio que inflação e inflation não são a mesma coisa.
– Mas e aí: o que a queda da Selic muda no mercado? Quase tudo! Deixando para depois o debate sobre o regime de metas, o fato é que: juros devem cair em breve e podem cair bastante e o efeito no preço das ações é positivo em várias formas:
i) diminuição da taxa de desconto praticada para trazer os fluxos de caixas futuros para valor presente;
ii) melhor acesso a empresas para melhorar seu endividamento;
iii) menor atratividade do CDI (o maior inimigo dos fundos brasileiros) vai obrigar investidores a saírem do conforto do “1% ao mês” (rendimento bruto, vale sempre lembrar).
– Técnico favorável para um rali… Esse contexto, num momento em que a bolsa está “socada” para baixo, tendo em vista os resgates bilionários que fundos de ações e multimercados estão sofrendo desde 2022, pode fazer a bolsa brasileira se recuperar – e bem rápido.
– Estamos bem atrás das bolsas estrangeiras…. A lembrar: Ibovespa sobe quase 2,5% neste mês mas ainda está em queda no ano (-4,9%) e em 12 meses (-9,2%), na contramão das bolsas internacionais. Pra se ter uma ideia, basta ver que o IVVB11 (ETF do S&P em dólar, negociado na B3) sobe 2,5% em 2023 mesmo com o dólar caindo mais de 4% no ano.
– Lembrando sempre de duas máximas do mercado: 1. Não é porque caímos que temos que subir; 2. Valuation não é gatilho! Bolsa barata pode parar de cair, mas também podemos ficar mediocremente precificados por mais tempo do que nossa paciência suporta. O fato é que quanto menor o CDI, mais paciente tende a ser o investidor ao aguardar melhores retornos.
– Mas o juro precisa cair no Brasil “pelos motivos certos”. E estes motivos passam pela crença do mercado de que o arcabouço fiscal será suficiente para não cometermos nenhuma grande besteira na condução econômica (lembrar lá do primeiro item, do governo de esquerda tendo que pagar de cortador de benesses).
– Mercado “sensível”. É por isso que estamos tão “sensíveis” no curto prazo: o arcabouço fiscal veio com a avaliação de “melhor que o temido, pior que o necessário”, nas palavras de Luis Stuhlberger. Mas quais mudanças ele pode sofrer dentro do Congresso? Ninguém sabe, mas vale ler aqui a apuração feita pelo Marcos Mortari, competente jornalista político com quem trabalhei nos tempos de Infomoney.
– O arcabouço é sem dúvidas o divisor de águas para o mercado brasileiro. Esperar o arcabouço sair redondinho do Congresso para comprar ações não vai dar certo, o mercado já vai ter precificado tudo isso. No entanto, comprar com antecedência apenas por acreditar que o arcabouço precisa ser crível para o Brasil não quebrar é subestimar a capacidade da nossa classe política em nos surpreender.
– A solução, para nós, é esperar com uma parcela em boas empresas da bolsa e outra parcela significativa em caixa. Se as coisas andarem mal, temos dinheiro para comprar as pechinchas da bolsa; se as coisas andarem bem, já estaremos com uma boa parcela posicionado e, no pior dos mundos, ganharemos menos do que o Ibovespa (a depender do que subirá).
– Ainda nessa espera, acho que vale uma sofisticação extra: o dólar nestes patamares começa a ficar interessante pensando numa proteção alternativa ao caixa em reais. O ouro então mostra-se um ativo bem interessante no momento atual da economia global (escrevi um texto apenas sobre ouro duas semanas atrás, o link está aqui).
– “Por que não ter mais bolsa?” Não achamos que ainda é a hora certa. Os resultados do 1º trimestre serão divulgados em breve e teremos real noção do quanto a economia está batendo nas empresas da bolsa e, tendo em vista nossas interações com o setor privado, não há de se esperar surpresas muito positivas. É lógico que os preços já embutem tal pessimismo, mas não tem o menor sentido enxergar um problema e ir em direção a ele.
– Respondendo na prática a pergunta acima: não é hora de concentração nem de comprar “tranqueira”. Não porque eu não ache que vale a pena, mas é que, nos preços atuais, é possível pagar barato por boas empresas. Isso não necessariamente se traduzirá em lucro (lembre-se que valuation não é gatilho), mas o investidor paciente será recompensado.
– Lembre-se disso quando sentir a mão coçar ao ver AMER3 valendo menos que R$ 1,20 (um grande amigo meu fez essa “provocação” com AMER3 no sábado bebendo uma cerveja. Dedico a ele esse parágrafo acima).
– Não se esqueça do cenário lá fora… Incrível como estamos reféns do “indicador mais importante de todos os tempos da última semana”. CPI e PPI americano trouxeram euforia nas bolsas semana retrasada, mas a inflação no Reino Unido e um PMI não tão empolgante na Europa e nos EUA desanimaram os investidores na última semana. A desaceleração global é cada vez mais óbvia, só falta saber se ela vai virar uma “recessão”. Neste contexto, difícil ficar otimista com mercados, mas vale a pena ter proteção em dólar e ouro.
– E a carteira se forma… Apesar da aleatoriedade das ideias deste texto, perceba como cada assunto vai se encaixando para a composição do portfólio: uma carteira de ações de empresas saudáveis, uma boa parcela em caixa e, para quem quer um pouco mais de diversificação, ouro e dólar. O Felipe Miranda, em sua última newsletter, falou também de NTN-B (Tesouro IPCA, para os mais jovens). Pode ser interessante uma fatia entre caixa e ações.
– A melhor conclusão para esse amontoado de ideias: não tem melhor maneira de responder isso do que mostrando o que está sendo feito na Carteira Market Makers: estamos com uma carteira diversificada e bem menos concentrada do que já foi um dia, composta por empresas de qualidade e/ou de setores que trazem certa proteção. A posição em caixa nos deixa tranquilos para quando a “bola perfeita” chegar, nós irmos às compras.
– Até mais! Me despeço seguindo na sequência bem clichê, usando uma frase do Warren Buffett: “Regra número 1: Nunca perca dinheiro. Regra número 2: Jamais esqueça a regra número 1”.