Notícia

9min leitura

icon-book

Destaques da temporada de resultados

Veja o desempenho detalhado das empresas da carteira Market Makers

Matheus Soares

Por Matheus Soares

20 Aug 2025 14h25 - atualizado em 20 Aug 2025 02h26

Como já falei algumas vezes, o mercado é um pêndulo que oscila entre a euforia e o pessimismo. Agora, multiplique esse movimento por dez e você terá uma ideia do que acontece durante uma temporada de resultados.

É nesse período que as mudanças de humor se tornam ainda mais intensas – e é também quando fica clara a diferença de abordagem. Muitos analistas estão mais preocupados em ajustar suas planilhas e acertar projeções do próximo trimestre do que, de fato, entender a estratégia da companhia.

Claro que é importante analisar os números e questionar a administração sobre eles. Mas, como acionista, meu foco vai além: quero compreender a estratégia da empresa, avaliar o momento operacional, observar o domínio dos executivos ao responderem perguntas, buscar informações sobre o ambiente competitivo e entender as prioridades na alocação de capital. Em resumo, tentar fazer as mesmas perguntas que um dono do negócio faria aos seus executivos.

Nós acompanhamos os resultados de todas as empresas da Carteira Market Makers e participamos de todas as teleconferências realizadas – inclusive fazendo perguntas. A seguir, compartilho três dessas empresas com você:

Technos (TECN3)

Expectativa

Nossa expectativa era de mais um trimestre sólido, com receita líquida em torno de R$ 124 milhões (+25% a/a), sustentada pelo bom momento de vendas, combinando volumes e preços. Estimamos uma leve compressão de margem bruta (-0,5 p.p. a/a) e margem EBITDA ajustada. O lucro líquido deveria ficar estável em relação ao 2T24 (~R$ 20 milhões), pressionado por efeito não recorrente de hedge no resultado financeiro.

Realizado

O resultado veio acima das nossas expectativas. A Technos entregou receita líquida de R$ 121,9 milhões (+22,5% a/a), impulsionada por alta de 5,1% no volume vendido e aumento de 17,9% no preço médio para R$ 235. A margem bruta avançou 0,7 p.p., para 55,7%, refletindo maior peso de coleções de valor agregado, ganhos de eficiência e racionalização de custos. As despesas com SG&A cresceram 8,4% a/a, reduzindo participação na receita líquida para 32,4% (vs. 36,6% no 2T24). O EBITDA ajustado foi de R$ 32,1 milhões (+25,5%), com margem de 26,3% (+0,6 p.p.), maior patamar histórico para um segundo trimestre. O lucro líquido ficou em R$ 19,1 milhões (-4,9% a/a), impactado por efeito não caixa do hedge cambial, fruto da queda do dólar no período.

  • Preço médio: aumento veio principalmente de reajuste de tabela, mas também de mix favorável, com maior peso de produtos no topo da pirâmide. Há espaço para continuar ajustando preços.
  • Estoques: aumento foi planejado, visando recompor níveis após o desabastecimento do 2S24 e garantir cobertura saudável para o segundo semestre.
  • Hedge: a Technos mantém cobertura de ~80% das compras para os próximos 6 meses, priorizando proteção de caixa — o que reduz volatilidade no caixa, mas gera oscilações contábeis.

Nossa leitura

O 2T25 reforça a consistência operacional da Technos, que chega a 19 trimestres consecutivos de crescimento do EBITDA ajustado. A estratégia de repasse de preços e foco em produtos de maior valor agregado protegeu as margens mesmo com a volatilidade cambial. A disciplina de custos segue evidente no SG&A, e a política de estoques demonstra alinhamento com o planejamento comercial para o segundo semestre. A recompra de ações, combinada com uma estrutura de capital saudável, mostra que a companhia equilibra bem retorno ao acionista e investimento no crescimento. Continuamos vendo a Technos como um “reloginho” – entregando resultados robustos sem depender de fatores extraordinários.

Vulcabras (VULC3)

Expectativa

Nossa expectativa era de uma receita de R$ 868 milhões (+14% a/a), com crescimento vindo de volume (linha Corre ganhando tração), efeito mix de canais (e-commerce) e coleções (calçados de alta performance). Antecipávamos contração de margens na comparação anual: margem bruta em 39,6% (-1,5 p.p.) e margem EBITDA em 21,5% (-1,6 p.p.). No fim da linha, lucro líquido estimado de R$ 145 milhões (+4% a/a), mantendo política de dividendos mensais e capacidade de investir em ampliação sem recorrer a endividamento.

Realizado

A receita líquida cresceu 17,6% a/a e totalizou R$ 894,8 milhões, superando a nossa projeção (R$ 868 mi) e o consenso; o avanço veio de +4,1% em volume e +13,5 p.p. em preço/mix — com forte tração da família Corre e modelos técnicos de Olympikus e Mizuno. O mercado interno respondeu por 96% do faturamento (+19% a/a), enquanto exportações recuaram 10,4% a/a; o e-commerce cresceu 33,8% a/a para R$ 132,1 milhões (14,8% da receita), marcando o 20º trimestre consecutivo de crescimento.

A margem bruta caiu para 40,8% (vs. 42,5% no 2T24), abaixo do esperado, pressionada temporariamente por contratações aceleradas para sustentar a demanda da linha Corre; o lucro bruto foi R$ 365,4 milhões (+12,9% a/a). O EBITDA contábil foi R$ 296,4 milhões (+69% a/a), inflado por não recorrentes (créditos fiscais de PIS/COFINS); no recorrente, R$ 190,8 milhões (+8,8% a/a), em linha com nossas projeções, com margem de 21,3% (-1,7 p.p.). O lucro líquido contábil ficou em R$ 353,3 milhões (+152,9% a/a); ajustado, R$ 144,9 milhões (+3,7% a/a), em linha com nossas estimativas e consenso, com margem de 16,2% (-2,2 p.p.).

Na alocação de capital, a companhia anunciou R$ 300 milhões adicionais em dividendos e manteve R$ 0,125/ação em novembro e dezembro, totalizando R$ 400 milhões (~8% de dividend yield apenas no 2º semestre). Em caixa, houve consumo de R$ 98,7 milhões no trimestre (giro, CAPEX R$ 66,5 milhões, +85,2% a/a, e proventos). Dívida líquida encerrou em R$ 139 milhões (0,2x EBITDA LTM), revertendo caixa líquido de 2024; ROIC ajustado LTM avançou para 32,0%.

Destaques da Teleconferência de resultados

  • Volumes e mix: A demanda veio acima do orçado nas marcas Corre, Under Armour e Mizuno, levando a empresa a acelerar Capex e contratações. O preço médio subiu principalmente por mix, com maior participação das linhas premium (coleção Corre).
  • Margens: A pressão decorre da curva de aprendizado da mão de obra recém-contratada; a administração espera rápida normalização com a diluição da ineficiência.
  • Canais: E-commerce cresce de forma exponencial; a rentabilidade por par já supera a do atacado e a margem do online deixou de pesar no consolidado. Lojas especializadas vêm ampliando espaço para a linha Corre.
  • Marketing: Investimento temporariamente maior em 2025 (50 anos da Olympikus) com eventos/corridas; percentual tende a normalizar.
  • Visibilidade do 2S25: O segundo semestre está praticamente vendido (“dentro de casa”), com sell-out forte sustentando sell-in.
  • Alavancagem e proventos: A captação de julho seguida da distribuição leva a ~0,6x EBITDA, ainda muito baixo; a política de dividendos mensais deve ser mantida em 2026.

Nossa leitura

Resultado operacional forte e em linha com o que projetávamos no recorrente; a pressão de margem foi pontual e ligada ao crescimento acelerado (mão de obra nova). O pacote de dividendos reforça disciplina de capital, enquanto a visibilidade do 2S25 e o ganho de mix ancoram a continuidade do crescimento. Estruturalmente, a tese segue apoiada em: (i) expansão de linhas premium (Corre), (ii) maior penetração em canais especializados e digital, (iii) balanço leve para sustentar capex e eventuais movimentos inorgânicos.

Mills (MILS3)

Expectativa

Nossa expectativa era de um bom resultado operacional, com receita líquida em R$ 440 milhões (+19% a/a) impulsionada pelo crescimento de linha amarela, consolidação da JM Empilhadeiras e ambiente aquecido em Formas e Escoramentos. Estimamos EBITDA de R$ 222 milhões (+26% a/a) e margem de 50%, com expansão apoiada por eficiência de custos e alavancagem operacional. No lucro líquido, esperávamos R$ 67 milhões, pressionado pelo aumento das despesas financeiras.

Realizado

A Mills superou nossas projeções de receita e EBITDA. A receita líquida atingiu R$ 450,1 milhões (+21,6% a/a), com receita de locação de R$ 413,0 milhões (+19,7% a/a) e avanço em todas as unidades de negócio — metade já proveniente de contratos de longo prazo (vs. 40% no 2T24). O EBITDA ajustado foi de R$ 227,2 milhões (+25,7% a/a) com margem de 50,5% (+1,7 p.p.), refletindo diluição de custos e disciplina no SG&A (19,9% da receita, -3,6 p.p. a/a).

O lucro líquido reportado foi de R$ 87,3 milhões (+23% a/a), mas inclui ganho não recorrente de R$ 25 milhões (créditos PIS/COFINS). Ajustado, o lucro líquido ficou em ~R$ 62 milhões (-12% a/a), impactado por um resultado financeiro mais negativo (-R$ 44,1 milhões vs. -R$ 22,1 milhões no 2T24) devido a maior dívida e CDI.

A geração de caixa operacional ajustada subiu 31,2% a/a, para R$ 114,3 milhões, enquanto o Capex caiu 64,9% a/a, para R$ 162,9 milhões (93,3% em frota). A alavancagem se manteve estável em 1,4x EBITDA LTM.

Destaques da teleconferência de resultados

  • Aquisição da Next Rental: A administração destacou que a aquisição da Next Rental amplia presença em setores como mineração, florestal e agrícola, adiciona frota compatível com a Mills (muitas máquinas CAT) e contratos integrados, além de know-how operacional. 
  • Ganhos com eficiência: A disciplina no SG&A já está em patamar “saudável” e não deve ter novas reduções agressivas.
  • Operações: Na vertical de Formas & Escoramentos, a margem EBITDA se manteve elevada (~59,8%) e já houve Capex adicional visando demanda no 1S26. Em Leves, pode haver desaceleração no 2S25 por juros altos, mas o foco segue em contratos longos. Na precificação, houve endurecimento na análise de crédito e maior cobrança de multas/juros por atraso.
  • Alocação de capital: O Capex no 2S25 deve ficar no mesmo padrão do 1S25 (R$ 315 milhões), puxado por novos contratos de longo prazo. A recente emissão de debêntures saiu a CDI+0,96% e CDI+1,08%, abaixo do custo médio atual, melhorando o custo da dívida.

Nossa leitura

O 2T25 reforça que a Mills mantém execução consistente: cresce receita e margens, melhora eficiência e mantém disciplina de capital, mesmo num ambiente de juros elevados. O avanço dos contratos de longo prazo para metade da receita de locação aumenta a previsibilidade, e a aquisição da Next Rental fortalece a diversificação setorial e geográfica.

Mesmo com pressão no lucro líquido ajustado pelo resultado financeiro, a geração de caixa robusta, alavancagem controlada e retorno relevante ao acionista (payout de 40% no semestre) mostram que a companhia segue equilibrando crescimento orgânico e inorgânico com disciplina.

Apesar da alta de ~50% no ano, Mills ainda negocia a um múltiplo próximo de 4x EV/EBITDA para 2026 e ostenta o melhor balanço patrimonial entre as locadoras de máquinas, o que lhe dá espaço para continuar crescendo — seja via Capex orgânico, seja por aquisições estratégicas. 

Quer saber o que achamos dos resultados das outras 10 empresas da carteira? Torne-se um membro da nossa fraternidade de investidores, clique aqui para falar com os nossos especialistas. Todos os resultados foram compartilhados primeiramente com eles.

Se você já faz parte dessa fraternidade, clique aqui para acessar. 

Compartilhe

Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br