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Duas ameaças à Selic

O mercado dá como certa a queda da Selic em 2023. Mas algumas vozes dissonantes começam a surgir

Renato Santiago

Por Renato Santiago

06 Oct 2022 14h54 - atualizado em 06 Oct 2022 03h02

Duas ameaças à Selic

Em suas reuniões realizadas de março de 2021 para cá, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, promoveu um drástico aumento da Selic, nossa taxa básica de juros, que foi de 2% para 13,75% em 12 etapas.

Mesmo com essa puxada, ouvíamos de praticamente todo mundo que conversávamos que tal patamar não duraria tanto e que já se contava com uma queda da Selic em 2023, afinal, alta de juros e queda da inflação são como unha e carne.

Essa segue sendo a expectativa mais comum: segundo o último relatório Focus, o mercado financeiro espera para o ano que vem uma Selic de 11,25% ao ano e IPCA de 5%. Para o fim de 2022, a expectativa é de 5,74% de IPCA e Selic estável, em 13,75%.

Nos últimos dias, no entanto, algumas vozes dissonantes desse consenso apareceram.

A primeira dessas vozes é a de Duda Rocha, que tem quase 30 anos de mercado e é CIO e fundador da Occam. Em sua participação na nossa live especial pré-eleições, ele afirmou que não considera a queda dos juros em 2023 como favas contadas – e isso se reflete na carteira.

Duda acredita que a inflação deve ser mais resiliente que a expectativa do mercado, principalmente pela deterioração do cenário macroeconômico internacional. Não custa lembrar que, diferentemente do Brasil, que já subiu juros e viu a inflação arrefecer (ainda que o problema esteja longe de ser resolvido), Europa e Estados Unidos ainda não conseguiram o mesmo efeito e devem ver suas taxas de juros subir

As expectativas mais otimistas para os Estados Unidos são de 4,5% ao ano, contra os atuais 3,25%. Mas por lá a inflação não vem caindo como o mercado esperava e isso pode resultar em uma taxa ainda maior que os 4,5%, o que fatalmente contaminaria o Brasil.

Por isso, a expectativa da Occam é a de que há grandes chances de o BC deve ser obrigado a manter a Selic em 13,25% ao ano em 2023 para conseguir fazer a inflação convergir dos atuais 8,7% para os 5,5%.

A outra voz que lançou um alerta sobre o tema é a de Roberto Dumas Damas, professor do do Insper – essa você só vai ouvir no episódio de hoje do Market Makers.

O raciocínio do professor Dumas leva em consideração principalmente o risco de uma política monetária mais expansionista ser adotada a partir do ano que vem.

“O mercado está comprando que a taxa de juros vai cair em junho do ano que vem. Mas é preciso tomar cuidado aqui”, diz Dumas. Dependendo do resultado das eleições, podemos ter, segundo o professor, políticas de crédito que podem fazer o desemprego cair rápido demais, elevando a inflação e obrigando o Copom a subir a Selic de novo.

“Se abrirem as portas da esperança da Caixa, Banco do Brasil e BNDES, aumentando o crédito, em vez de os juros caírem, eles vão subir de novo”, diz.

Não cabe a nós decidir se o mercado está otimista demais, mas como inflação é algo com o que não se brinca (pelo menos no campo economicamente ortodoxo), é importante que você, investidor, esteja consciente de todas as correntes de pensamento do mercado para tomar a melhor decisão.

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Renato Santiago
Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br