Notícia

4min leitura

icon-book

E daí que a bolsa está barata?

Preço por si só não é garantia que a bolsa vá subir

Matheus Soares

Por Matheus Soares

20 Dec 2022 11h57 - atualizado em 20 Dec 2022 01h49

Que jogo fizeram Argentina e França pela final da Copa do Mundo no domingo. Assistir à disputa entre Messi e Mbappé pela artilharia do torneio foi um dos momentos mais alucinantes que já vivi no futebol. 

Como brasileiro, foi um misto de emoções: ao mesmo tempo em que assistia à final mais maluca da história das copas, não conseguia esquecer o fato de que poderíamos ter tido a chance de chegar até a final se (ahhh o se…) não fosse a Croácia ter empatado o placar ao final do jogo e ganhado a disputa nos pênaltis. Faltavam só 4 minutos!!

O sonho do hexa era tão real nessa Copa que eu e meus amigos compramos um Chevette 1992, fizemos uma arte especial e o batizamos de Chevehexa. Esse aqui da foto:

Comprado por R$ 4 mil, o Chevehexa tinha algumas opcionalidades que poderiam fazer seu preço valorizar (e não estou falando do teto solar que fizemos): aparecer nas capas de jornais não só do Brasil como no mundo, ficar famoso nos canais ligados ao esporte, receber alguns craques da seleção para uma foto, dentre outras possibilidades. O gatilho para tudo isso seria o Brasil chegar até a final e ganhar a copa. Havia essa expectativa.

Para a nossa tristeza o destino não quis que fosse dessa vez. O Chevehexa, por sua vez, não deveria valer muito mais que os R$ 4 mil que pagamos. É aquele negócio “barato” que não tem por que ficar caro.

Afinal, quem vai querer comprar um Chevette 1992 com o teto furado e pintado de Brasil nesse momento? Se a próxima Copa fosse antes, mas é só em 2026. E pior, o fluxo marginal de notícias não é positivo, muito se fala que o futebol brasileiro precisa se reinventar. Talvez seja isso mesmo. O fato é: sem gatilhos de curto prazo vai ser difícil encontrar comprador.

Guardadas as devidas proporções, a bolsa de valores é o balcão onde são precificadas e negociadas as previsões econômicas de um país e suas empresas. Quanto melhores as expectativas, mais caro deve-se pagar pelo presente, quanto piores, mais baratas.

Com a recente deterioração das expectativas, não há dúvida que a bolsa brasileira está barata. O Ibovespa negocia próximo a 6,5x lucros, nível mais baixo desde 2005 e dois desvios-padrão distante da média histórica. Se tirar Petrobras e Vale do cálculo, a bolsa negocia a 8,4x, o menor nível desde 2009.

A questão é que, assim como o Chevehexa, a bolsa precisa de gatilhos que façam o investidor querer pagar mais por ela. Sem eles, é possível que as empresas fiquem ainda mais baratas caso as notícias marginais sejam negativas. Preço por si só não é garantia que a bolsa vá subir amanhã.

Exemplo prático disso eu ouvi do gestor da Vinland, André Laport, na Live do MMakers da última sexta-feira: “você vê um Banco do Brasil valendo 0,6x o patrimônio, que é ridículo de barato, mas ele pode ir pra 0,3x antes de melhorar”, disse o gestor. Para ele, o gringo está tirando o dinheiro do Brasil e os resgates podem acelerar.

Mas sabe como eu, um analista e investidor de ações, estou encarando esse momento de mercado? Como um dos raros momentos em que podemos comprar barato as melhores empresas do Brasil.

Sim, é verdade que as coisas podem piorar: o governo pode acelerar os gastos sem qualquer responsabilidade fiscal, a inflação pode disparar, a população pode se revoltar, a produtividade pode continuar caindo e o Brasil infelizmente pode ficar ainda mais para trás na comparação com o mundo, impactando nossa moeda e nos deixando mais pobres no relativo.

Ao mesmo tempo, é preciso lembrar o que frequentemente surge nas conversas de mercado: o Brasil é o típico aluno nota 5, que faz o mínimo somente para passar de ano. Nunca será aquele que vai tirar um 10 (que nesse caso seria a gente virar a Suíça), mas também não é aquele que vai tirar 0. Ou seja, existe um equilíbrio instável que nos afasta do precipício quando tudo leva a crer que estamos a um passo do despenhadeiro.

Como eu considero difícil saber o timing dessas mudanças de percepções, a forma que eu encontro de fazer a travessia entre um cenário nota 0 – como o que estamos vivendo – para o nota 5 é carregando empresas que tenham atributos que permitam a elas não só atravessar esse momento conturbado, como até saírem mais fortes ao final dele.

Ah, mas e o gatilho? Diferentemente do Chevehexa, onde o gatilho de compra pode acontecer daqui a 4 anos, o gatilho para comprar bolsa pode surgir em breve, talvez no início do ano que vem. Basta o mínimo sinal de responsabilidade fiscal, de respeito à constituição, de pessoas técnicas em cargos-chaves, apenas listando alguns.

Como o mercado está “leve”, com muitos gestores diminuindo o risco a Brasil devido às incertezas, qualquer notícia minimamente boa, pode fazer a bolsa andar dos patamares atuais. É justamente por isso que eu prefiro carregar, desde já, posição nas minhas empresas favoritas.

Mas tomemos cuidado: o sonho do Ibovespa a 130, 140 ou 150 mil pontos é quase como o sonho do hexa. Ele continua de pé, mas talvez não aconteça tão cedo. Ainda há muito por vir.

Se quiser saber quais ações colocar na carteira, faça parte da Comunidade Market Makers para ter acesso à nossa carteira recomendada. Clique aqui para saber mais.

Você também pode investir direto nestas ações recomendadas através do Fundo de Ações Market Makers, disponível na plataforma da Empiricus Investimentos.

Compartilhe

Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br