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Em qual previsão acreditar?

Em retrospectiva, fica tudo tão óbvio

Por Renato Santiago

22 Dec 2022 16h37 - atualizado em 22 Dec 2022 04h37

“Fazer previsões é muito difícil, principalmente se elas forem sobre o futuro.”

O autor dessa frase é desconhecido, mas no mercado financeiro brasileiro ela já pode ser considerada senso comum e domínio público, principalmente em momentos como o atual, no qual algo que era dado como certo não acontece.

Hoje ela anda sendo repetida pelas esquinas da Faria Lima por causa do previsto e esperado, mas até o momento ausente, rali pós-eleições.

Antes de 2 de outubro, data do primeiro turno, fazia todo sentido esperar que a bolsa brasileira subisse depois das eleições, uma vez que a incerteza política sairia de cena. As companhias brasileiras tinham boas performances, os demais emergentes estavam metidos em guerras (Rússia e Ucrânia entre si e China contra a covid) e o mundo desenvolvido se debatia tentando segurar a inflação, coisa que o Brasil já fizera.

No dia 4 de outubro, quando a vitória de Lula no primeiro turno estava descartada e o Congresso parecia muito mais à direita do que se imaginava, parecia ser questão de tempo para o rali chegar. Houve quem dissesse que ele já havia começado no próprio dia 4, mas foi fogo de palha.

Acontece que algo também muito previsível começou a se desenrolar depois do segundo turno: o Brasil começou a agir como o aluno medíocre que sempre foi, aquele que só se esforça por uma nota 5 quando está quase repetindo de ano.

Primeiro Lula começou a esconder o jogo dos ministros, o que ainda deixava alguns esperançosos de que, assim que um ministro da Fazenda simpático ao mercado e fiscalista fosse anunciado, o rali chegaria.

Mas o que o presidente eleito fez foi sepultar de vez essa hipótese ao abrir uma caixa de Pandora do Desenvolvimentismo com Mercadante no BNDES e Haddad na Fazenda (feita a ressalva de que Haddad foi responsável com as contas públicas na Prefeitura de São Paulo, reconheça-se que não é um nome do mercado como Paulo Guedes). Enquanto isso, até os liberais do Congresso votaram a favor de uma emenda para mudar as leis das estatais patrocinada pelo próximo governo.

Hoje, quase Natal, o rali pós-eleições está morto e enterrado (do primeiro turno até hoje, o Ibovespa perdeu 7,8%, praticamente os mesmo 107 mil pontos de 30 de setembro) e está claro qual das previsões chegou mais perto da real. Cabe ao investidor aprender com o que aconteceu e não cair na armadilha de esquecer que do presente, é muito fácil parecer que tudo era óbvio. Não se esqueça que a profissão mais fácil do mundo é a de engenheiro de obra pronta.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br