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Por que você deveria escrever seu próprio obituário

O "auto obituário" pode ajudar a descobrir o que realmente importa

Por Renato Santiago

13 Sep 2023 14h31 - atualizado em 13 Sep 2023 06h21

Renato Santiago foi um ótimo sujeito. Respeitou e foi um grande companheiro para seus amigos, colegas e vizinhos. Amou e cuidou da família e de quem precisou dele. Jornalista competente e comprometido, auxiliou os três leitores de sua newsletter e os cinco ouvintes de seu podcast com conteúdo de primeira qualidade sobre investimentos e finanças. Rabugento de bom coração, deixará saudades, assim como seus inteligentíssimos textos e suas difíceis perguntas.

Este é meu obituário reverso (por que foi escrito antes da morte) ou auto obituário (por que eu mesmo escrevi). Daqui a algumas décadas — pelo menos umas cinco, eu espero — alguém escreverá um verdadeiro obituário sobre mim, e eu gostaria que ele tivesse mais ou menos o conteúdo que você leu acima. É isso que eu espero da vida e esses são os objetivos do meu trabalho.

A ideia do auto obituário ou obituário reverso pode parecer estranha, tétrica e até suicida, mas pelo amor de Deus, não tem nada a ver com isso — estou muito satisfeito com a vida, apesar de saber que vou morrer um dia. 

O objetivo ao escrevê-lo é obter clareza sobre o que se deseja da vida para poder trabalhar para isso. Como se fosse o estabelecimento do objetivo para a posterior criação da estratégia que levará a ele. O obituário cumpre esse propósito pois esse tipo de texto é a perfeita síntese do que uma pessoa fez e conquistou de mais importante.

Cada um que fizer esse exercício terá um resultado diferente. Mas eu duvido que alguém escreva um auto obituário dizendo “foi feliz com seu carro do ano pago em cinco anos”, ou “viveu na plenitude, sempre com o modelo mais recente do iPhone parcelado em seu Itaucard”.

Não estou aqui querendo dizer como cada um deve viver a vida ou que coisas caras e bacanas não trazem satisfação. Isso não é verdade. Estou aqui para dizer que nada disso deveria ser prioridade ou principal objetivo de ninguém. Se sua meta na vida é ter um obituário que, assim como o meu, expressa que você foi alguém que cuidou da família, que construiu algo importante, suas prioridades deveriam ser outras, correto?

Escrever seu auto obituário muito provavelmente vai ajudar você a fazer escolhas certas e não cometer erros e descobrir o que realmente importa. Se seu dilema é trocar de iPhone ou cuidar de sua família, basta reler o que você escreveu para saber o que é a verdadeira prioridade. Assim tem funcionado para mim, sempre que penso em um aporte no nosso fundo ou em consumo. O consumo pode me trazer um prazer no curto prazo, mas um aporte é mais fiel ao meu propósito, e meu obituário está aí para me lembrar. 

(Nunca fizemos uma pesquisa socioeconômica entre os leitores desta CompoundLetter, por isso eu não faço ideia de que tipo de gasto faria sentido como exemplo aqui. Se um iPhone ou um carro forem muito baratos para você, pense em outra coisa.)

Com o tempo, investir e ver o bolo aumentar também começa a trazer satisfação. Graças a um obituário.

Na conferência deste ano da Berkshire Hathaway, Warren Buffett foi perguntado por uma garota de 15 anos sobre como evitar erros na vida. Buffett respondeu: escreva seu obituário, depois tente levar a vida a altura do que escreveu.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br