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Eu nunca falei isso publicamente

O Market Makers completou 2 anos com bons resultados, e hoje me sinto mais à vontade para exorcizar meus demônios à luz do dia

Por Thiago Salomão

03 Jul 2024 11h26 - atualizado em 03 Jul 2024 11h30

O convidado do último episódio do Market Makers, Ricardo Kanitz (fundador da Spectra), disse algo que me marcou muito. Ele relatou uma conversa que teve com Eduardo Saverin, o brasileiro que ficou famoso (e bilionário) por fundar o Facebook junto com Mark Zuckerberg.

Kanitz contou que conheceu Saverin em Harvard e, após longos anos sem vê-lo, tiveram um encontro anos atrás. Um atualizou o outro sobre sua vida: enquanto Kanitz contou sobre a vida puxada de um analista do mercado financeiro, com bastante cobrança, noites em claro e sofrimento, Saverin falou dos jantares no iate do Michael Dell, de viagens de jatinho…

Após essa dupla atualização, Kanitz ouviu seu amigo bilionário dizer: eu queria ter tido sua vida. O motivo do Saverin dizer isso, segundo Kanitz:

“Eu sei que eu dei certo, ganhei mais dinheiro do que jamais sonharia, foi super legal… mas eu sei que foi sorte. A gente não achava que [o Facebook] ia dar no que deu, mas deu! E agora, o que vou fazer da vida se já fiquei rico? Vou fazer outro negócio do zero? Eu sei que você [Kanitz] tá se ferrando, tá difícil sua vida, mas você tá indo. Está dando certo aos poucos e crescendo. É muito mais legal dar certo aos poucos do que dar certo muito rápido e depois você ficar sem propósito”.

(Trecho do momento exato desta fala do Ricardo Kanitz).

Eu sei que os mais críticos vão dizer: “é fácil ter essa conclusão quando você já se tornou bilionário”, mas essa lição bateu forte em mim, principalmente por ela ter vindo dias antes do aniversário de 2 anos do Market Makers.

Ouvir esta frase só reforçou pra mim a ideia de que a caminhada é muito mais importante do que o destino final. E isso traz um conforto enorme quando paro pra pensar em tudo que abri mão pra começar do zero o Market Makers, que eu considero o grande projeto da minha vida. Foram 24 meses de conquistas, mas também de muitas dúvidas, inseguranças e solidão.

Te explico:

No final de 2021, decidi sair da XP, empresa que era sócio desde 2015. Deixei muita coisa pra trás: além da minha participação societária, abri mão do MBA de Ações da XP Educação (que eu era coordenador acadêmico) e do Stock Pickers, podcast que eu criei em 2019 com o Infomoney e que, deixando a modéstia de lado, revolucionou a forma como profissionais do mercado interagem com o público.

Eu era sócio de uma das maiores empresas do mercado financeiro, tinha um bom salário e tocava um podcast que já havia ganhado dois prêmios nacionais e estava em expansão. Por que eu resolvi largar tudo?

Direto e reto: me faltava algo que a XP jamais poderia me dar. Eu era apresentador de um podcast muito bom, talvez o melhor do Brasil, mas eu sabia que esse era meu limite dentro da XP (ou, pelo menos, isso era o que eles me faziam acreditar).

Eu queria de fato fazer a diferença na vida do investidor brasileiro, trazê-lo pra dentro do mercado financeiro de maneira prática e útil, dando a ele não só conhecimento mas também ideias valiosas de investimentos, conexões e networking.

Eu acreditava nesse “sonho” porque era perceptível a demanda por um serviço de investimento mais técnico e menos conflitado do que os existentes (hoje essa demanda é ainda mais latente, vale dizer). E acreditava no meu potencial e no potencial daqueles que estavam comigo.

Na teoria, era tudo lindo: tínhamos uma boa ideia, uma demanda já existente, tínhamos histórico e credibilidade e tínhamos fome de vencer – o famoso “PhD”: poor, hungry and desperate to get rich (pobre, faminto e desesperado pra ficar rico).

Mas na prática, a teoria é outra: 

  • O mercado pode mudar de humor completamente (como de fato mudou) e aquela ideia genial parece já não ser tão boa; 
  • O novo podcast pode não ter um início tão explosivo (como de fato não teve);
  • Pessoas que você tinha certeza que embarcariam contigo nesse projeto preferiram “esperar do lado de fora” (como de fato aconteceu).

De repente, tudo que era certeza começava a tornar-se dúvida. E uma pergunta esperava o silêncio da noite antes de dormir pra ecoar na minha cabeça: por que você não ficou quietinho na XP com seu bom salário, sociedade e o podcast?  Logo, a auto-penitência virava culpa por ter arrastado tanta gente comigo pra essa piscina gelada.

Isso tudo me deixava agoniado. Pra caralho. E como eu externalizava isso? A resposta é: não externalizava. Como faria pra manter a dinâmica divertida de um podcast se eu colocasse pra fora minhas agonias e anseios? E como manter uma equipe toda motivada e empenhada se o líder acusasse o golpe do “ser empreendedor é muito difícil”?

O mecanismo de defesa acabava sendo um jogo eterno de truco com a minha mente: ela dizia “não vai dar certo, você foi burro”, e eu pedia 6 e demonstrava ainda mais otimismo. Ela voltava com um 9 e eu pedia 12. Na loucura. Por dias… semanas…. meses.

A liderança é uma cadeira solitária. Teus problemas e inseguranças não podem transbordar para sua equipe, por mais explícitos que eles pareçam estar. E ser líder exige que você tome decisões difíceis, por mais impopulares e dolorosas que elas possam ser. No poder, não há vácuo: se um líder não exercer sua função de líder, alguém o fará em seu lugar.

Eu nunca falei isso publicamente. Mas hoje, em um momento em que consigo mensurar a evolução e os bons resultados de tantas mudanças de rota que tivemos nestes dois anos, me sinto mais à vontade para exorcizar meus demônios à luz do dia.

Mudamos a estratégia, o conteúdo, a frequência, tudo isso com base em muito (mas muito) estudo e uma pequeníssima, porém importante, dose de intuição. E fizemos tudo isso com o carro andando. Isso exige muito esforço, físico e mental. Estar ao lado das pessoas certas faz toda diferença. A aula que o Ricardo Lacerda, CEO da BR Partners, nos deu sobre a importância de escolher bons sócios deveria ser um “must watch” pra todo mundo que tem um negócio ou pensa em abrir um.

Aos poucos, o podcast foi começando a ganhar tração e o primeiro vídeo de 100 mil views apareceu em 2023 (algo que nem na época de Stock Pickers havia alcançado). Mais tarde, surgiu o 2º vídeo com seis dígitos de audiência. Aí veio o terceiro… o quarto… o oitavo… o décimo tanto… e foi. 

Hoje, nosso canal no Youtube está com 146 mil inscritos, quase 100 mil a mais do que tínhamos no final de 2023.

O crescimento explosivo da nossa audiência só mostra que atingimos um público “fora da bolha do mercado”. Mas isso não significa que a qualidade do conteúdo diminuiu: aliás, nunca fomos tão ouvidos pelos habitantes da Faria Lima. Nos tornamos populares sem perder a essência.

Também conseguimos evoluir em nossos serviços, apesar do momento bem desafiador do mercado. Os assinantes da Comunidade Market Makers têm tido experiências únicas e bem enriquecedoras, como é o caso da reunião presencial com eles e o CEO da Allos, Rafael Sales, realizada em nosso escritório.

No fundo de ações do Market Makers, não conseguimos passar incólume do péssimo momento das ações brasileiras. A performance terrível em 2024 claramente nos incomoda (afinal, ainda somos os maiores cotistas do fundo), mas um dado mostra que nossa base de investidores está alinhada com nossos princípios: ganhamos 60 novos cotistas no Market Makers FIA em 2024, subindo de 185 para 245 investidores.

Assim, mesmo com a cota do nosso fundo caindo 18% nestes 6 primeiros meses do ano, nosso patrimônio líquido segue próximo da máxima histórica. Ou seja, nossos cotistas compram ações na baixa – como tem que ser.

Dois anos depois, o Market Makers hoje tem mais “cara de empresa”, com metas claras e processos azeitados. Sabemos onde queremos chegar e o que fazer para chegar lá. Eu até já estou me acostumando a ser chamado de “CEO do Market Makers”.

O trabalho continua sendo super divertido, porque de fato ele é: não há nada mais estimulante para nós do que aprender algo novo. Mas hoje é uma “diversão séria”, com objetivos bem definidos.

Aquele vazio que existia em meu antigo emprego já está ocupado de novo. E aquelas agonias já são menos frequentes – elas jamais vão sumir completamente: me conhecendo bem, sei que nunca ficarei 100% tranquilo. E tudo bem, afinal só os paranoicos sobrevivem.

Estamos dando certo. Aos poucos.

Se você leu até aqui, provavelmente deve gostar muito de nós! Então já te faço um convite: nesta quinta-feira (4 de julho) a partir das 16h começará nosso evento de aniversário, o Stock Picking Day. Vamos trazer 3 gestores de ações super vencedores para falar sobre estratégias e oportunidades. O evento é online e 100% gratuito, mas para assistir é preciso se inscrever neste link.

Venha celebrar essa data especial conosco.

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br