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Explicando finanças pra minha mãe

Alguns insights do BTG Summit 2024

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

26 Feb 2024 10h18 - atualizado em 26 Feb 2024 10h18

Meus pais me ensinaram muita coisa nessa vida e sou eternamente grato à formação que eu tive, mas digamos que gestão financeira não era o forte da casa. Nem foi tanto por culpa deles: tiveram 4 filhos em 6 anos, não há orçamento que se ajuste sem traumas.

Mesmo sem ter desenvolvido habilidades de investidora, minha mãe adora trazer o assunto mercado nas conversas comigo. “Como a bolsa subiu/caiu bem essa semana, né Thi?”, diz ela, demonstrando um interesse que parece genuíno mas logo prova-se fugaz pela rapidez com que ela muda de assunto. Isso zero me incomoda: acho fofa essa dedicação dela em se envolver nos meus assuntos de trabalho.

Inspirado nessas conversas, trago aqui o último diálogo que tive com ela, baseado nos vários insights que absorvi no BTG Summit 2024, evento que aconteceu semana passada em São Paulo e reuniu grandes nomes do mercado financeiro, nacional e internacional.

Aliás, fica a dica a todos os três leitores desta newsletter: quando passarem por uma imersão de conteúdo (tipo os podcasts que fazemos), prepare um resumo sobre o que aprendeu e repasse-o para outra pessoa. Vai ajudar muito a grudar esse aprendizado no seu cérebro. Ensinar é uma ótima forma de aprender.

Mãe: Oi, Thi. Deu tudo certo naquele evento do BTG que você ia fazer a cobertura?

Eu: Tudo certinho, mama. O evento foi ótimo, não só pela cobertura mas também pra atualizar minha visão sobre o mercado e as oportunidades do momento.

Mãe: Mas semanas atrás você estava otimista… o evento te deixou pessimista?

Eu: Não, pelo contrário: o evento reforçou minha visão otimista! 

Mãe: Por quê?

Eu: Resumindo até pra não entediar: o principal pano de fundo de 2024 continua vivo, que é o ciclo de queda de juros, lá fora e aqui no Brasil. Juro pra baixo de maneira geral é bom, pois estimula a economia, as empresas ficam mais dispostas a tomar crédito e investir, as pessoas consomem mais, a renda fixa não vai mais ficar tão interessante e os investidores vão procurar ativos de risco, como ações.

Mãe: Se o juro baixo é tão bom, por que ele não fica sempre baixo?

Eu: Porque uma consequência do juro muito baixo, ou baixo por muito tempo, é deixar as coisas exageradamente animadas: as empresas tomarem empréstimos demais, ou as pessoas consumirem demais, ou os preços das coisas subirem demais, gerando inflação. Neste momento, para o juro cair, é preciso que a inflação esteja mais baixa e com uma perspectiva de que assim se manterá.

Mãe: E quando essa queda dos juros vai acontecer?

Eu: Essa é a grande questão que deixou os investidores preocupados nesse começo de ano: era consenso que os juros dos EUA iriam começar a cair em março – e sendo a maior economia do mundo, puxaria o juro dos outros países a reboque. Mas alguns números de inflação por lá vieram mais forte do que o esperado, fazendo os economistas postergarem essa aposta de queda para maio ou talvez mais pra frente.

Mãe: E se o juro não cair? Ou chegar em maio e eles adiarem mais pra frente?

Eu: Então, é aí que recai meu otimismo: a possibilidade disso acontecer é muito baixa. E caso isso aconteça, poderá ser muito por conta da economia estar muito forte. Ou seja: tudo bem que o juro caia menos do que se espera, se isso for compensado por uma economia mais pujante. No final do dia, o mundo crescendo significa empresas crescendo, o que se traduz em valorização das ações. Preço da ação acompanha o lucro da empresa. Tão simples quanto isso.

Mãe: Deixa eu ver se entendi: se a economia enfraquecer, isso deve pesar na inflação e os juros irão cair. E se a economia não enfraquecer, os juros deverão cair, só que em menor intensidade, mas pra você tudo bem porque a economia estará forte. É isso?

Eu: Sim.

Mãe: E não tem risco da economia enfraquecer e a inflação não ceder?

Eu: Tem, mas eu diria que a probabilidade é baixa. A China está “exportando deflação” pro mundo, que na prática seria vender pro resto do mundo o excesso de produção que ela tem lá – e pra vender essa sobra, ela precisa baixar os preços para atrair compradores, gerando deflação. E a inflação americana vem em uma trajetória declinante e bem perto da meta. Os dados recentes assustaram mas, por ora, não foram suficientes pra mudar nosso ponto de vista.

Mãe: E o Brasil, como fica nessa história?

Eu: Então, fizemos a lição de casa de subir os juros e controlar a inflação antes do resto do mundo, então aqui o cenário de queda da Selic é ainda mais provável. Além disso, temos tido boas surpresas na economia, com o PIB crescendo mais do que o esperado há um bom tempo. E tem outro fator importante que foi comentado lá no BTG Summit que é as novas regras que passarão a valer para as letras incentivadas que eu te falava pra investir, lembra? As CRIs, CRAs, LCIs, LCAs…

Mãe: Lembro! Aquilo era uma beleza. Não vai ter mais?

Eu: Vai ter sim, mas pelas mudanças que serão impostas e com a queda dos juros, as próximas emissões não serão mais tão interessantes como as anteriores. Quando esses títulos começarem a vencer e os investidores não encontrarem as mesmas taxas e condições do passado, eles poderão migrar para ativos de mais risco.

Mãe: Entendi. Então eu espero até maio pra, se os juros caírem nos EUA, eu tiro o dinheiro da renda fixa e coloco na bolsa, é isso?

Eu: Não, mama. A hora de ter bolsa é agora.

Mãe: Por quê?

Eu: Porque o mercado antecipa os acontecimentos futuros. Quando você compra uma ação, você está pagando o que o mercado espera que essa empresa entregará no futuro, e não agora. Quanto mais provável for um corte de juros, mais o preço da ação refletirá isso. Tem um jargão que a gente usa no mercado pra isso: sobe no boato, cai no fato.

Mãe: Entendi. Então amanhã eu já coloco todo o meu dinheiro na bolsa!

Eu: Não! Isso nunca! Ter mais ações na carteira não significa “all in” na bolsa. Você sempre tem que ter uma carteira diversificada, com investimentos em renda fixa, ativos internacionais ou dólar, fundos multimercados… bolsa é só uma das fatias da sua carteira e hoje ela tem que ser maior do que antes.

Mãe: Mas filho, se a bolsa vai subir, por que não ter tudo em ações?

Eu: Porque nunca teremos 100% de certeza sobre o futuro. E se amanhã explode uma nova guerra, pandemia, ou simplesmente todo esse cenário que eu te contei sobre a inflação não acontece? Temos que ter humildade de saber que não sabemos o que acontecerá no futuro, sempre terá risco. E como disse o Morgan Housel lá no BTG Summit: “risco é aquilo que sobra quando você acha que já pensou em tudo”.

Mãe: Eita, não gostei nada dessa história, Thi… Se não tem como ter certeza, não é melhor ficar na renda fixa? Daí quando estiver um pouco mais claro, eu pulo pra bolsa.

Eu: Mama, lembra o que aconteceu entre novembro e dezembro? O Ibovespa subiu que nem um foguete e em dois meses ele rendeu mais do que o CDI no ano todo. Foi tipo o Palmeiras ultrapassando o Botafogo no final do Brasileirão. E tudo isso só porque o mercado passou a acreditar que os juros cairiam mais rápido em 2024. Moral da história: quando a bolsa tiver que subir, ela não vai avisar, ela simplesmente subirá. É melhor estar posicionado sempre.

Mãe: Mas e se a bolsa cair?

Eu: Sempre terá esse risco. Por isso a diversificação: coloca um pouco na renda fixa e outros mercados mais seguros e um pouco em bolsa. É como você fazia com a gente na infância: pode comer a sobremesa, mas só depois de acabar com a salada e a comida. Equilíbrio.

Mãe: Ok, vou colocar um pouco mais na bolsa. Mas em quais empresas? 

Eu: Não se preocupa com isso, mãe. Coloca no fundo do Market Makers que a gente faz esse trabalho de escolha das ações por você. Além disso, não basta ser mãe, tem que apoiar o filho! 

Mãe: Sim, claro que vou investir no fundo do Market Makers, meu amor. Mas como você falou tanto de diversificação pensei que era pra investir em outras ações ou fundos…

Eu: Agora que você falou, lembrei de um fundo bom pra você por um pedaço desse dinheiro: chama-se Empiricus Tech Select FIA BDR Nível I. Tá lá na plataforma do BTG Pactual também, assim como o nosso.

Mãe: Que nome longo… o que eles fazem?

Eu: Então, eles investem em empresas de tecnologia e ligadas ao tema inteligência artificial. São empresas que dificilmente estarão na carteira do Market Makers por não focarmos nossos estudos nesse grupo, por isso é uma boa diversificação. O fundo tem ido super bem: rendeu 12% nesse começo de 2024 e 45% nos últimos 12 meses.

Mãe: Gostei! Não entendo nada disso, mas gostei.

Eu: Eu manjo bem pouco também, mas lá no BTG Summit eu gravei uma conversa muito boa com o gestor desse fundo, o João Piccioni. Vai ao ar nesta quarta-feira (27). Já que você vai investir no fundo, recomendo que assista!

Mãe: Vou tentar, mas suas entrevistas são tão longas e técnicas demais e…

Eu: Pode falar que são chatas, mãe. Eu não vou me ofender e vou continuar te amando.

Mãe: Lindo… e o Palmeiras, joga hoje?

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br