Perguntaram ao Howard Marks qual o maior erro que um investidor pode cometer. E quando alguém do quilate de Marks para o que está fazendo para responder esse tipo de pergunta, é nossa obrigação também parar para escutá-lo.
Marks é um dos maiores investidores do mundo. No universo do crédito privado, sua especialidade, ele é a maior autoridade. Chamá-lo de Warren Buffett do crédito talvez nem seja um exagero, já que a Oaktree, sua gestora, entrega rentabilidade anual de cerca de 23% e tem aproximadamente US$ 180 bilhões sob gestão.
Suas ideias sobre o mercado, publicadas em seus famosos “memos”, são acompanhadas de perto e leitura obrigatória no mercado financeiro. Seus livros, “O Mais Importante para o Investidor” e “Dominando os Ciclos de Mercado”, são best-sellers — o primeiro é um dos mais recomendados na Biblioteca Market Makers.
Marks deu uma entrevista para a Bloomberg, que foi publicada ontem. Perguntado pelo entrevistador qual o maior erro que um investidor pode cometer, respondeu que na verdade são dois. O primeiro:
“As pessoas acreditam na habilidade de prever o futuro. Sua habilidade ou a habilidade dos outros. Em geral eu concordo com John Kenneth Galbraith, que disse existir dois tipos de pessoas que fazem previsões, as que não sabem e as que não sabem que não sabem. O investidor precisa entender que ele não sabe o que o futuro reserva e que ninguém mais sabe”, disse Marks.
Essa declaração de Marks pode, à primeira vista, parecer contraditória e paradoxal, já que a própria atividade de investir envolve previsões e apostas no futuro. Mas é claro que não é. O que Marks quer dizer aqui é que não é possível ter certeza sobre o que vai acontecer, e que nos investimentos lidamos sim com previsões, mas sempre no contexto de probabilidades.
Esse erro é tão comum quanto doloroso de ser visto, ainda mais em tempos de “fintweet” e influenciadores. Nesse universo não faltam “especialistas” prevendo que a ação XPTO é 15 ou a ABCD é 30, e investidores pouco diligentes seguindo cegamente, sem nem perceber que estão tentando prever o futuro.
O segundo erro mais comum apontado por Marks tem a ver com psicologia e preços.
“As pessoas têm a crença de que existe uma ligação direta e mecânica entre as coisas, que se uma empresa passa por um evento positivo, seus títulos vão bem. Se têm eventos negativos, vão mal. Mas não é o caso, porque existe um passo intermediário, que é a reação das pessoas. Não é sobre o evento ser positivo ou negativo, é sobre qual foi a reação das pessoas em relação a ele”, completa.
Muitos investidores só aprendem essa lição — a de que entre os fatos e os preços existem as pessoas — da pior maneira possível, esperando movimentos automáticos ao operar eventos e notícias, e perdendo dinheiro. E isso acontece ainda mais em um mundo em que as informações circulam fácil e investidores incautos querem apenas pegar um “bizu” em um investimento. Por tudo isso, ouvir o que Howard Marks sempre tem a dizer é fundamental.