
Ouvir quem pensa diferente é para mim uma das principais obrigações de um investidor. Eu sei, ouvir um “concordo” traz aquele quentinho no cérebro, a sensação de dever cumprido. Mas somente um incômodo “discordo de você” é o que testará a força dos seus argumentos.
Já devo ter contado essa história aqui (peço desculpas a todos os 3 leitores desta newsletter se soar repetitivo), mas ela é tão boa que vale a pena o flashback:
Vulcabras está no Market Makers FIA desde o “dia 1” do fundo (ele inclusive fará aniversário de 3 anos na virada de setembro pra outubro!). O Math conhece a empresa desde o seu re-IPO e sabe no detalhe cada virtude e cada risco da tese.
Mas sabe quando eu realmente percebi a força da tese?
Num almoço com um investidor de ações muito mais experiente do que nós e que estava short em VULC3.
Lembro como se fosse hoje da tensão que senti ao ver o gestor largar os talheres e gesticular com as mãos o quanto ele achava inconcebível o valuation da Vulcabras: “ela é uma fábrica de calçados, não uma varejista! Ela não pode valer o múltiplo que vale!”.
E lembro também do orgulho que senti ao ver meu sócio Matheus rebater cada argumento do experiente gestor com calma e com argumentos técnicos. Ouvimos cada réplica com atenção e respeito, mas tínhamos uma tréplica serena como forma de refutar.
Ali foi a prova empírica de que convicção sem stress test não passa de teimosia fantasiada de inteligência. Ouvimos o “outro lado” e percebemos a força (e também os riscos) da nossa tese em Vulcabras.
Não lembro o dia exato do almoço, mas a ver o preço de VULC3 hoje e o que era negociada uns 2 anos atrás, nossos argumentos se provaram corretos.
Por mais bela que seja uma narrativa, o mercado refletirá de fato o que aquilo vale, qual é o “preço” desta história. É muito cômodo para o governo reclamar com o Banco Central que a Selic está muito alta, mas se o próprio governo emite títulos de dívida a uma taxa exorbitante, é por que ninguém no mercado quer pagar menos. Então como o BC vai baixar os juros se o “preço” da nossa dívida é alta?
Se narrativas tentam dourar a pílula, o mercado corta o ruído e deixa a conta exposta.
E justamente por acreditar nisso, a gente não tem medo do desconforto e não deixamos de ouvir quem pensa diferente.
Foi com esse espírito que convidei José Dirceu para o nosso podcast. Embora não concorde com as ideias econômicas e políticas dele (aliás, deixei isso claro na introdução que fiz do episódio), não vejo outra forma de validar nosso cenário eleitoral para 2026 que não seja conversar com nosso adversário.
Nestes mais de 250 episódios da história do Market Makers, já sabemos de cor e salteado o que pensam os principais economistas e investidores do mercado. Também já entrevistamos três possíveis candidatos à Presidência bem vistos pelo mercado – Zema, Ratinho Jr. e Leite. Mas e o outro lado? Como eles veem 2026? Qual é a estratégia da esquerda para continuar no poder?
Muita gente achou um absurdo eu entrevistar o José Dirceu. Mas a eles eu pergunto: é mais absurdo eu conversar com ele ou fingir que o PT não tem um plano de poder que funcionou durante 18 dos últimos 24 anos?
Você pode até ter repulsa pelo nome “José Dirceu”. Mas ignorar o que um dos principais articuladores do PT pensa não torna o problema menos real. Só te deixa mais mal preparado para o que virá em 2027.
Eu sei, seria muito mais prazeroso sentar com o Octavio Magalhães para conversarmos sobre como a Vulcabras é fantástica. Mas foi naquele almoço com um gestor short em VULC3 que saímos mais fortes como investidores.
Quem escolher ficar no conforto e proteção da “bolha de conforto”, pode até dormir melhor. Mas quem topa atravessar o desconforto, entender os argumentos do outro lado e confrontar suas próprias crenças… esse vai investir melhor.
Afinal, o mercado não aceita ideologia como moeda. Só aceita preço.