Notícia

5min leitura

Investir em ações e o “rock de tiozão”

A cada evento de liquidez, o investidor tem optado por outros produtos. Já são R$ 1,8 trilhão de estoques em CRIs, CRAs, LCIs, LCAs, Debêntures, Fiagros, FIIs… 

Por Thiago Salomão

05 Aug 2024 11h04 - atualizado em 05 Aug 2024 11h04

“Levanta a mão quem tem ações na carteira. Pode ser 1% da carteira, só quero saber quem investe em ações aqui” [Quase metade das mais de 500 pessoas da plateia levantaram a mão]. 

“Ok, agora mantenha o braço erguido quem tem ações como a classe mais importante da carteira” [o número caiu para umas 20-30 pessoas, ou 5% do todo].

Eu realizei a “pesquisa” acima durante o painel que o Market Makers participou na Money Week (evento anual da EQI Investimentos, que aconteceu semana passada em Balneário Camboriú). Gosto de eventos presenciais justamente para aproveitar a conexão que o podcast não nos permite ter.

O tema do painel era: “Como Pensam os Grandes Investidores de Ações do Mundo”. Junto comigo, estavam meus sócios, Josué e Matheus, e o gestor da Vokin Investimentos, Frederico Vontobel, que participou de um dos melhores e mais vistos episódios do Market Makers, com mais de 200 mil visualizações.

O resultado pífio da pesquisa que eu fiz, ainda mais dentro de um evento de finanças, fez eu me sentir um músico daquelas bandas de rock super badaladas nos anos 1980, que lotava estádios e arrastava multidões… mas hoje custa para aparecer no “line up” de algum festival.

Bolsa brasileira parece que virou a “banda de tiozão”, que todo mundo lembra com carinho mas ninguém está muito afim de comprar ingresso para ver o show.

Eu não culpo quem pensa assim. Sabemos que os níveis de valuation da bolsa brasileira estão ridiculamente baratos (para não soar repetitivo, um resumo da tese de bolsa barata está aqui), mas o investidor hoje tem acesso a uma infinidade de produtos com boa rentabilidade garantido, proteção do FGC, isenção de imposto de renda e relativa liquidez.

Dessa forma, não tem dinheiro novo vindo pra bolsa. A cada evento de liquidez, o investidor tem optado por outros produtos. Já são R$ 1,8 trilhão de estoques em CRIs, CRAs, LCIs, LCAs, Debêntures, Fiagros, FIIs… 

Ao mesmo tempo, fundos institucionais que possuem objetivos atuariais não precisam ficar na bolsa para bater seus resultados esperados. Vontobel disse, durante o painel na Money Week, que investidores institucionais somam resgate líquido de R$ 200 bilhões da bolsa brasileira desde 2018. Fui até atrás deste gráfico para confirmar essa informação:

E se não tem dinheiro novo vindo pra bolsa, o que está barato vai continuar barato. Tão simples quanto isso.

Um estudo recente feito pela gestora de patrimônios TAG traz mais alguns fatores que jogam contra a bolsa brasileira. Em resumo, o estudo mostra que, em janelas dilatadas, o Ibovespa tem uma performance entre “CDI -1%” e “CDI -3%”, já considerando os dividendos. Ou seja, nossa bolsa desafia a literatura: ela não paga o prêmio de risco que deveria pagar.

É claro que o Ibovespa não é o melhor veículo de investimentos em ações. Mas como alocadores e assessores em sua grande maioria só querem um motivo para ficar longe da bolsa neste momento, tudo vira argumento para não ter dinheiro aqui. Afinal, é mais fácil explicar ao cliente por que perdeu comprando S&P nas máximas históricas do que explicar por que perdeu sendo o único comprador de ações brasileiras. O erro coletivo é mais honroso.

Mas um sinal importante surgiu na última semana: o mercado começou a colocar na conta muito mais cortes de juros no Federal Reserve (Banco Central dos EUA). Se antes estimava-se um corte de 25 pontos-base até o final do ano, agora espera-se uma queda de 75 pontos-base na taxa de juros.

O motivo em si não é bom: os EUA deram claros sinais de desaceleração na atividade (isso ficou evidente na divulgação do último ISM). Já na sexta, o Relatório de Emprego mostrou uma geração de postos de trabalho em julho bem abaixo do previsto e uma taxa de desemprego de 4,3% – lembrar que, em abril de 2023, essa taxa estava em 3,4%.

A palavra “recessão” começa a ecoar nas análises sobre EUA. E exatamente um mês atrás, eu e o Matheus gravamos nosso Panorama Mensal e falamos sobre a “regra de Sahm”. Ela funciona assim: se a taxa de desemprego americana, medida por uma média trimestral, superar em 0,5 ponto percentual o menor valor para taxa média trimestral de desemprego dos últimos 12 meses, haverá recessão.

A regra de Sahm tem certa validade estatística: ela acertou todas as últimas 7 recessões dos EUA desde 1970. E adivinha: ela acabou de ser acionada. Isso inclusive foi tema da coluna de ontem do Samuel Pessôa na Folha de S. Paulo.

Os EUA já estão em recessão? Se sim, como os mercados reagirão a isso?

Na sexta-feira, os índices S&P500 e Nasdaq derreteram, enquanto por aqui o Ibovespa caiu 1,2% mas o índice de Small Caps subiu 0,9%. Parece pouco, mas trata-se de um evento extremamente raro: pouquíssimas vezes o SMLL teve tanta diferença sobre o IBOV. E a Carteira do Market Makers, que tem mais small caps do que blue chips na composição, seguiu essa toada.

Acordamos nesta segunda-feira com péssimos sinais da Ásia. O índice da bolsa do Japão ativaram “circuit breaker” e acumulam 18% de queda nos últimos dois dias (o pior “double dip” da história). No mercado de cripto, o Bitcoin e outros ativos caem mais de 10%.

Já o VIX, conhecido como “índice do medo” e que eu relatei newsletters atrás sobre como ele estava estranhamente comportado, disparou mais de 200 pontos nos últimos dias:

Como isso vai bater no Brasil? Será que o que vimos sexta (blue chips caindo e small caps subindo) será o novo normal?

Difícil imaginar uma classe de ativo de bolsa se beneficiar de um momento desses. Mas minha forma de se proteger é simples tendo um portfólio com empresas baratas, com boa estrutura financeira, gerando caixa e pagando dividendos.

Se o fluxo vier pra bolsa, elas poderão ser beneficiadas por ter essas características. Se o fluxo não vier, tudo bem: temos paciência e o dividendo pago nos ajuda a aumentar nossa participação nelas.

Não costuma ser tão raro uma “banda das antigas” emplacar um novo sucesso.

Obs: se você quer saber o que tem dentro da Carteira Market Makers e estar super próximo da próxima leva de investidores profissionais do Brasil, a hora é agora. Dia 14 de agosto vamos liberar algumas vagas para entrar no M3 Club, o grupo premium de investidores do Market Makers.

Clique aqui para colocar seu nome na lista de espera, pois daremos prioridade de acesso para quem estiver com nome na lista.

Compartilhe

Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br