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IP Capital: Como Roberto Vinháes criou a mais longeva e vencedora gestora do Brasil
O plantador de cacau que revolucionou a bolsa brasileira
Se nos anos 1980 o mercado financeiro brasileiro ainda “era tudo mato”, uma das pessoas com o facão na mão, abrindo a trilha, era Roberto Vinháes.
Filho e neto de médicos, ele se interessou por investimentos muito cedo. Cansado de ver seus familiares deixarem o dinheiro parado na conta, se emancipou legalmente aos 16 anos, depois que o pai também se cansou de ouvir seus conselhos financeiros não solicitados.
“Falta alguma coisa pra você? Então deixa eu fazer as coisas do meu jeito”, foi o que ouviu.
Depois desse “passa, moleque”, abriu então sua conta em uma corretora e começou a investir com dinheiro de amigos e familiares — que devolvia com juros —, além do capital acumulado vendendo jornais velhos para peixeiros, trabalhando como DJ em festas e outras atividades exercidas na juventude.
Mas sua carreira no mercado financeiro começou, para valer, programando fórmulas de opções nas calculadoras HP dos outros. “Naquela época ninguém sabia muito Black & Scholes [as tais fórmulas], as negociações eram feitas com base no boato”, conta.
Seu objetivo, no entanto, era ser um gestor, como Warren Buffett, aquele sujeito genial que havia conhecido ao ler uma reportagem da revista Forbes. Mas fazer esse tipo de trabalho no Brasil era uma loucura, como lhe disseram.
O sonho seguiu vivo mesmo quando se aventurou, já engenheiro formado, a administrar uma fazenda de cacau no sul da Bahia. Lá montou uma torre de telefonia e uma operação logística complexa para obter diariamente a Gazeta Mercantil, então principal jornal econômico do Brasil. O exemplar era entregue no Rio de Janeiro a um membro da tripulação da Varig, que, em Ilhéus, dava o periódico a um motorista da São Geraldo. Quando o ônibus passava pela estrada próxima à fazenda, já no fim da tarde, alguém estava lá, esperando para recolhê-lo.
Tudo isso para poder operar enquanto plantava.
Chegou o momento em que o mercado financeiro parecia ter mais oportunidades que o cacau, e Vinháes voltou para o Rio de Janeiro. Sem dinheiro para comprar uma carta patente e ter uma empresa financeira, apostou no conteúdo. Nascia a Investidor Profissional, revista na qual eram publicados dados fundamentalistas corrigidos pela inflação, algo vital para o Brasil da época.
O negócio era bom. A revista custava o equivalente a US$ 8 por semana e era assinada por todas as corretoras locais — mas ainda não era gestão de recursos.
Na época, fundos de ações eram poucos, caros e mal administrados, quase sempre ligados à lei 157, de 1967, que permitia aos contribuintes investir parte do imposto devido. Para tirar o sonho do papel e se tornar um gestor de fato, Vinháes teve uma ideia: procurou o fundo de pior performance e propôs assumir a gestão em sociedade com a corretora que o tocava.
Nasciam ali o fundo Stock-IP2 e a IP, primeira gestora de recursos independente do Brasil.
Já eram os idos dos anos 1980, começo dos anos 1990, época das privatizações. Em frente às bolsas, muitos protestos a denunciar o ‘neoliberalismo’; dentro delas, muito pouco respeito aos acionistas minoritários e donos de papéis preferenciais.
Assembleias de acionistas eram ficção, dividendos eram calculados no modo freestyle, sempre em benefício dos controladores, e conceitos como tag along eram um sonho distante. Mesmo assim, a IP prosperou, cresceu, começou a investir no exterior, e hoje, é uma das casas mais respeitadas do Brasil — mesmo já sem ele.
Já longe da IP e capitaneando, direto de Portugal, sua Nextep, na qual se concentra em investimentos internacionais, Vinháes nos contou toda essa trajetória e muito mais. É uma história de resiliência, versatilidade, empreendedorismo e pioneirismo que se confunde com a própria história do mercado brasileiro de capitais. Se você gostou das nossas conversas com Ivan Sant’anna e Luiz Cezar Fernandes, não pode perder esse episódio.