Bizu é uma corruptela de bisbilhotar, e consiste na ação de copiar uma operação que um investidor de sucesso e/ou profissional está fazendo. É pegar uma carona com alguém que entende mais que você.
O investidor do bizu conduz seus investimentos abrindo o Twitter, colhendo uma informação e investindo no que algum profissional fez. Como costuma ser um investidor ganancioso e que quer mudar de patamar logo, ele geralmente busca bizus em empresas em “turnaround” ou com chances de multiplicar muitas vezes o capital e quase sempre investe mais que o que seria prudente investir em ativos desse tipo.
Ele pode ter visto nos últimos meses, por exemplo, que Luiz Barsi, o lendário bilionário da Bolsa brasileira, acredita e está comprado nas ações de IRB, em movimento dissonante do mercado, que vem punindo o papel furiosamente desde 2020, quando a Squadra apontou inconsistências nos balanços da resseguradora. Hoje IRBR3 vale 3,5% do que valia quando a carta foi publicada (caiu de R$ 34 para R$ 1,19).
A lógica do bisbilhoteiro parece sólida: “O Luiz Barsi sabe ganhar dinheiro na Bolsa, portanto ele está certo sobre IRB e basta que eu o copie, pois o que quer que aconteça com os IRBR3s dele também vai acontecer com os meus. Para que gastar meu tempo com uma análise se o alguém mais competente que eu já fez a dele?”
Barsi revelou que tinha comprado ações da IRB em julho de 2021, mais de um ano depois da fatídica carta da Squadra. Na ocasião, o papel já havia caído para algo em torno de R$ 5,50, um sexto do que já havia custado, mas ainda o quádruplo do que vale hoje.
O problema principal está aí. Quando investidores que não sabem o que estão fazendo nem por que o estão fazendo veem seu patrimônio encolher dessa maneira, a tendência é ceder ao pânico, vender tudo, exercer o prejuízo, e, na mesa do bar, ainda dizer que o bilionário da bolsa perdeu a mão e que é melhor não prestar atenção nele (se for um cara mal-educado, coisa ainda pior).
Mas é claro que não é isso.
O que investidor do bizu não levou em conta foi o contexto.
Barsi (que não precisa mais provar nada para ninguém, diga-se) tem um patrimônio que gira em torno de R$ 4 bilhões e teria investido cerca de 3% da carteira em IRB. Uma fatia pequena em um ativo arriscado, como deve ser.
Sim, ele pode perder R$ 120 milhões, mas não vai deixar de ser bilionário nem um investidor de sucesso por causa disso.
Em segundo lugar, IRB não é seu único investimento dele. Segundo o próprio Barsi, apenas sua participação em Unipar (UNIP6) rendeu R$ 170 milhões em dividendos em 2021, mais que o próprio investimento em IRB — o que também não costuma ser o caso do investidor do bizu.
A lição aqui não é a de ignorar o que bilionários e investidores de sucesso estão fazendo. Você pode e deve se inspirar e aprender no que homens como Luiz Barsi fazem o no que eles pensam, mas não seja irresponsável e preguiçoso. Troque uma bisbilhotada por um estudo de lupa, uma reflexão profunda e uma adaptação ao seu contexto. Vai tomar mais tempo e esforço, mas assim você tem mais chances de ser um Barsi que apenas copiando suas apostas.
Epílogo
Na semana passada o IRB fez um um follow-on para cumprir as regras de capital da Susep. Louise Barsi, filha de Luiz, investidora e membro do conselho de auditoria da empresa, anunciou que subscreveu à oferta, colocando mais R$ 10 milhões em ações da companhia em um claro sinal de que a família não desistiu da empresa.
Um abraço,
Renato Santiago