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Lições sobre impressoras e dragões

Os BCs até esqueceram como se lida com inflação. Mas ela voltou para lembrar que ainda existe

Por Renato Santiago

04 ago 2022 11h07 - atualizado em 10 ago 2022 06h17

A correlação entre a potência das impressoras dos bancos centrais e a perda do poder de compra da população é um dogma da economia.

Quanto maior o exagero de um banco central na quantidade de dinheiro em circulação, tanto pior será a inflação com a qual sua moeda sofre.

Esse dogma enfrentou um desafio que durou anos, principalmente no mundo desenvolvido. Depois da crise econômica de 2008, Fed e BCE (os bancos centrais americano e europeu) adotaram uma política expansionista, mas não se observou o apocalipse monetário correspondente.

Isso aconteceu por três razões que, em alguma medida, anularam alguns efeitos da impressora:

  • Demográfica: o envelhecimento da população afeta força de trabalho e crescimento
  • Tecnológica: a tecnologia nos torna mais produtivos
  • Globalização: as cadeias produtivas ficaram mais eficientes

Então veio a pandemia e o dogma provou que faz jus a sua definição de “doutrina de caráter indiscutível”.

Com as cadeias produtivas abaladas pelos fechamentos impostos pelas autoridades, os equilíbrios entre ofertas e demandas mudaram. Enquanto isso, os bancos centrais que haviam conseguido um improvável conforto expansionista, aumentaram o ritmo da impressora.

Como se uma pandemia fosse pouco, veio a invasão da Ucrânia pela Rússia, em um conflito que envolve dois dos maiores produtores de petróleo do mundo e uma potência energética.

De um lado, estímulos. De outro, várias e duradouras restrições de oferta. O resultado é que agora estamos todos encarando o dragão da inflação de novo (essa dinâmica foi magistralmente explicada pelo Rodrigo Azevedo, da Ibiuna, no episódio do Market Makers desta semana. Clique aqui e veja).

Bom, mas e meu bolso com isso?

Em um contexto como esse, o investidor tem três alternativas. A primeira delas é dar seu dinheiro a um gestor como o Rodrigo Azevedo, cujo fundo Ibiuna Hedge STH, que está aberto para captação.

A segunda é se proteger do Banco Central emprestando dinheiro para o governo, com um título indexado ao IPCA.

A terceira é um pouco mais disruptiva e exige mais estômago: bitcoin. Sim, eu sei que o bitcoin caiu de quase US$ 65 mil para US$ 19 mil em menos de um ano, mas essa proteção reside na lógica do bitcoin, que não permite mudança em sua política monetária.

O bitcoin foi construído de modo a ser minerado até a quantidade máxima de 21 milhões de moedas, em ritmo decrescente de geração. Haja pandemia, haja guerra, haja eleições em outubro. Conforme o mercado financeiro for entendendo isso, como já está acontecendo, a tendência é o bitcoin se comportar menos como um ativo de risco e mais como uma reserva de valor justamente porque lá não existe um banqueiro central. É tudo no código.

Como o episódio dessa semana do Criptoverso mostra, a Faria Lima já está entendendo isso (clique aqui para assistir). Entendo que essa não é uma tese trivial e que está sujeita a riscos, principalmente regulatórios. Não me resta dúvida, no entanto, de que ignorar completamente os criptoativos hoje é teimosia. Basta ver o que os bancos centrais estão fazendo.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br