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Lucrando com eleições

Com um mix de análise política, econômica e de mercado, é possível encontrar assimetrias em eleições pelo mundo

Por caio.nascimento

04 Sep 2024 16h07 - atualizado em 04 Sep 2024 04h08

Recebemos, no episódio #126, Maurício Moura, fundador do Zaftra, o primeiro fundo multimercado brasileiro focado em eleições brasileiras e globais.

Maurício é especialista em psicologia política pela Stanford, mestre em ciências sociais pela Universidade de Chicago Chicago e doutor em economia política pela FGV.

Com um time de analistas de mercado e especialistas políticos, o Zaftra busca assimetrias entre a percepção do mercado e a leitura eleitoral, operando instrumentos macros como taxa de juros, moedas, índices de bolsa, bonds e ações.

“A gente opera justamente na leitura do mercado. Quando ela diverge da nossa modelagem do resultado da eleição, a gente enxerga as oportunidades de trading. Tem situações que a nossa leitura é muito similar a do mercado, o que nos leva a não fazer trading por achar que já está tudo no preço”, afirma.

Maurício tem uma vasta experiência em campanhas eleitorais de 12 países. Dentre eles, EUA, Taiwan, Brasil e Argentina. 

Milei: fonte de dinheiro para o Zaftra

Um caso recente foi a experiência de ganhar dinheiro surfando nas eleições argentinas.

Todas as operações do Zaftra foram via bolsa de Nova York devido ao receio de problemas na Argentina dificultarem a saída de investimentos do país.

Para Maurício, a vitória de Milei foi vibrante. Afinal, captar oportunidades de investimento em eleições se trata de operar diferentes eventos, e, no caso da Argentina, houve três eventos: as primárias, o primeiro turno e o segundo turno. 

Foi justamente no segundo turno que obtiveram o maior retorno. Explico:

No primeiro turno, o candidato Sergio Massa ficou em primeiro lugar, o que gerou pessimismo no mercado. No entanto, Maurício estava confiante na vitória de Milei, argumentando que na história não havia precedentes de um Ministro da Economia de um país com hiperinflação ser eleito. 

Ele destacou que a rejeição a Massa era grande, com muitos eleitores escolhendo Milei não necessariamente por apoiá-lo enquanto político, mas por não suportarem mais a crise econômica e a inflação galopante.

Foi aí que entrou a valorosa sinergia entre bons analistas políticos e de mercado: com essa visão, a equipe adotou uma posição otimista, o que resultou em retornos muito positivos quando Milei ganhou o segundo turno. 

Maurício lembrou que na segunda-feira seguinte à vitória de Milei, os ativos argentinos em Nova York subiram significativamente. Além disso, eles já haviam realizado operações no primeiro turno, aproveitando oportunidades em taxa de juros e moeda dos hermanos, que também renderam bons resultados.

Por dentro das convenções 

Trump sonha em acabar com a independência do Banco Central

Maurício falou, durante o episódio, sobre sua participação nas convenções republicanas e democratas para extrair insights. 

O especialista concentra sua análise em sete estados decisivos: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Nevada, Arizona e Carolina do Norte. Ele ignora pesquisas nacionais, pois não são indicativas do resultado final.

Maurício mencionou que a convenção republicana foi mais focada em Trump do que no próprio Partido Republicano, sem um consenso claro entre os participantes.

Ele observou propostas que pareciam radicais, como a imposição de uma tarifa de 10% sobre todos os produtos importados e de 60% sobre produtos chineses, além da intenção de reduzir o imposto corporativo e acabar com a independência do Banco Central dos EUA. 

O fundador do Zaftra comparou essas propostas a políticas populistas comuns na América Latina e destacou que, embora o mercado esteja apreensivo, muitas dessas ideias são difíceis de implementar.

A falta de consenso entre Trump e as diferentes alas republicanas reflete a diversidade de opiniões e a polarização dentro do partido, o que torna difícil prever exatamente como as políticas econômicas seriam implementadas caso Trump fosse eleito.

A superficialidade de Kamala Harris

Já na convenção democrata, Maurício notou uma falta de clareza no plano econômico da candidata Kamala Harris, especialmente em comparação com a campanha de Trump. 

Diferente dos Republicanos, a convenção democrata tinha uma representação de várias alas do partido, o que trouxe uma diversidade de ideias. No entanto, ele mencionou que essa diversidade também contribuiu para a falta de um consenso claro sobre o plano econômico da candidata Kamala Harris. 

Ele destacou que, embora houvesse valores e princípios gerais, como a defesa da classe média e a taxação dos bilionários, as propostas apresentadas eram bastante superficiais e careciam de especificidade. Ou seja, falta uma plataforma bem definida, o que deixa o mercado em compasso de espera.

Maurício afirmou ainda que a gestão de Kamala, se eleita, terá mais semelhanças com o governo Obama do que com o de Biden, devido à equipe envolvida em sua campanha.

Além disso, o economista apontou uma fragilidade significativa na campanha democrata, que se deve ao fato de Kamala Harris não ter passado pelo processo de primárias. 

Ele explicou que, geralmente, as primárias servem como um teste para os candidatos, forçando-os a detalhar suas propostas em entrevistas e debates. No caso de Harris, a ausência desse processo significou que muitos eleitores não conhecem profundamente suas posições, o que pode ser um ponto fraco nas próximas fases da campanha, especialmente nos debates e entrevistas onde será necessário apresentar propostas mais concretas.

No geral, ele enfatizou que, apesar de a eleição americana ter um impacto significativo em mercados globais, especialmente em moedas como o peso mexicano e o euro, a discussão econômica em ambos os lados é preocupantemente superficial. Isso cria uma incerteza adicional para investidores e analistas financeiros.O episódio completo está disponível neste link

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