Notícia

2min leitura

icon-book

Marcos Lisboa e a cloroquina da economia

"O problema está na falta de dados. Eles têm frases e ideias, mas não têm fundamento por dados"

Renato Santiago

Por Renato Santiago

09 Dec 2022 10h00 - atualizado em 09 Dec 2022 10h00

Para desespero da Faria Lima, a MMT (Modern Monetary Theory) está na moda.

No YouTube e nas redes sociais não falta hoje gente defendendo sua mais importante conclusão: um governo pode emitir moeda para pagar o que quiser sem que seja necessário aumentar a arrecadação e tudo isso não causa, necessariamente, inflação.

É uma narrativa que aquece o coração da esquerda, uma vez que nega a relação entre gastos públicos e aumento de preços, ao mesmo tempo que faz a Faria Lima perder o sono, pelos mesmos motivos.

Prova disso é que ela chegou a ser citada no texto inicial da PEC da transição e causou reações incrédulas no mercado financeiro. Veja:

Dizia o texto da PEC: “Cabe também enfatizar, como apontam alguns adeptos da MMT, que o aumento de gastos públicos não pode provocar crise de desconfiança em países que emitem dívida na própria moeda. Ou seja, se o financiamento das despesas fosse feito em moeda estrangeira, seria justificável uma preocupação com a solvência do País. Mas como os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional são em reais, não existe a possibilidade de o governo não pagar”.

Em sua carta mensal, a Verde Asset, de Luis Stuhlberger reagiu: “Não há absolutamente nenhum compromisso com qualquer responsabilidade fiscal, e a leitura do preâmbulo da PEC ainda traz uma pérola citando MMT (Modern Monetary Theory) como justificativa para essa festa. Um país com a história inflacionária do Brasil e taxas de juros de 13,75% brincar com esse tipo de argumento mostra que, definitivamente, o PT não aprendeu nada com o desastre do governo Dilma”.

Climão.

O Ibope da MMT está tão alto que não poderíamos ter deixado de perguntar ao Marcos Lisboa, no episódio de ontem do Market Makers, a sua opinião.

“O problema está na falta de dados. Eles têm frases e ideias, mas não têm fundamento por dados. Como você vai fazer defesa de uma política sem evidência de dados? E as referências que eles têm são todas anedóticas, como minha tia que sempre que alguém falava que tinha uma dor, ela dizia ‘é vesícula’”, diz Lisboa.

Ou seja: a MMT não é nem uma teoria.

E com sua sutileza de sempre, Lisboa comparou MMT à cloroquina: “Vi muita gente criticar o uso da cloroquina por falta de dados, mas defender a MMT. Ora, se você é crítico da cloroquina por não haver dados [de que ela funciona contra a COVID], você não pode apoiar a MMT, pois não tem evidências de que esse tipo de política pública funciona. Você não pode aceitar nem uma, nem outra.”

Veja a entrevista completa com Marcos Lisboa clicando aqui.

Compartilhe

Renato Santiago
Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br