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Modus Operandi
Se na vida a humildade é importante, no mercado financeiro ela é imprescindível
O processo de investimento é sobre encontrar uma vantagem, ou preços errados, e construir um portfólio que aproveite estes preços errados. Devido a sorte ser alta nos investimentos, resultados de curto prazo são indicadores não confiáveis de habilidade. Mas com o tempo, o bom processo vence.
Michael J. Mauboussin em Lessons from Freestyle Chess
Humildade é uma das virtudes que eu mais admiro em uma pessoa. É preciso ser muito corajosa para reconhecer aquilo que não se sabe. Diferentemente do que muitos podem pensar, humildade não é falta de confiança, mas sim a maneira mais fiel de ser honesto consigo mesmo. Conforme disse Epictetus há milhares de anos, “it is impossible for a man to learn what he thinks he already knows.”
Se na vida a humildade é importante, no mercado financeiro ela é imprescindível. Embora seja possível traçar cenários nos mercados e na economia, não existe certeza. Aliás, se existe alguma certeza, é que na maioria das vezes estaremos mais errados do que certos. Por conta dessa dinâmica assimétrica, o grande segredo de quem se torna bem sucedido nesse negócio é: quando errar, errar pequeno e quando acertar, acertar grande.
Aqui no Market Makers eu encaro a humildade como uma disciplina que me prepara para o pior cenário possível. No dia a dia do mercado, meu trabalho como analista e investidor é encontrar empresas com bons fundamentos que ofereçam potencial de valorização em suas ações. Ciente da possibilidade de estar errado, o maior desafio é evitar a perda permanente de capital. E a forma que eu enxergo de diminuir ao máximo essa chance é implementando um processo de investimento.
No fim do dia, o processo consiste em aplicar um teste de hipótese de que o preço da ação da empresa analisada tem potencial de valorização. Mas, de acordo com a estatística, existem dois possíveis erros ao realizar essa análise: o erro do tipo 1, que é decidir que a ação não era um bom investimento mas ela subir na sua cara; e o erro do tipo 2, que é decidir comprar uma ação e os fundamentos dela pioram a ponto do preço dela não subir.
O meu objetivo como analista não é eliminar o erro do tipo 1 – se fosse, faria mais sentido fazer a recomendação de um índice de ações -, mas sim o de tentar eliminar o erro do tipo 2, uma vez que esse é o grande responsável pela perda permanente de capital.
Diante disso, a melhor forma de evitar o erro do tipo 2 é promovendo um estudo fundamentalista sobre a empresa antes de tomar a decisão de compra. Esse estudo (ou processo) possui essencialmente três etapas:
- Filtro de procura: é aqui o momento em que decido onde irei alocar meu tempo de análise. Dentro dessa caixinha, levo em conta: i) nossas conversas com gestores e analistas do mercado que diariamente compartilham sua inteligência conosco, ii) empresas que podem estar em algum momento de inflexão de receita, margens e lucro e iii) nosso círculo de competência, colocando em prática nossa humildade intelectual;
- Valuation ou análise do valor intrínseco da empresa: embora essa análise não seja uma ciência exata, aqui é o coração do processo. É aqui que passamos a maior parte do tempo. Isso porque o retorno de um investimento é uma variável do preço que se paga nele. Para nos ajudar nessa tarefa, preparei um documento composto por 72 perguntas que nos ajudará a entender a empresa em profundidade.
- Gerenciamento de risco: aqui o nosso objetivo é responder se o investimento oferece margem de segurança o suficiente. Queremos comprar uma moeda de 1 real pagando 50 centavos. Tão simples quanto isso.
“O truque para investir é apenas sentar e assistir passo-a-passo e esperar pelo momento certo no seu ponto ideal. E se as pessoas estiverem gritando “mexa-se seu vagabundo”, ignore-as”. Warren Buffett
Na próxima CompoundLetter, trarei aqui algumas das 72 perguntas que nós fazemos para entender os fundamentos de uma empresa.
Antes de finalizar, deixo para você o meu “Food For Thought” da semana. Como dissemos no nosso manifesto do Market Makers, conhecimento não vale nada se não for compartilhado.
Food For Thought da semana: