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Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe

Quando parecer óbvio, a oportunidade certamente terá passado

Matheus Soares

Por Matheus Soares

29 Nov 2022 10h20 - atualizado em 29 Nov 2022 10h20

Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe

Eu odeio perder dinheiro. Tenho quase certeza que você também odeia. Apesar de todos odiarmos, pode acontecer com qualquer um de nós. Eu sempre falo que é muito mais fácil perder dinheiro quando não se sabe o que está fazendo, mas isso não significa que você está imune a esse risco. Sim, é possível, ainda que momentaneamente, perder dinheiro mesmo sabendo o que está fazendo. Aliás, como investidor, isso é mais comum do que parece. Ainda mais em um país que até o passado é incerto.

A não ser que você tenha uma carteira indexada ao CDI, imagino que você também esteja sofrendo no bolso os efeitos da abrupta quebra de expectativas do mercado financeiro brasileiro com o novo governo – que, por sinal, ainda nem tomou posse, diga-se de passagem.

Se, até pouco tempo atrás, o cenário era de queda de juros já em 2023, a péssima comunicação em torno da PEC da transição (ou do rombo, como alguns estão falando), que prevê o aumento desenfreado de gastos sem qualquer contrapartida de corte de despesas, já faz o mercado precificar uma nova alta da Selic ainda no primeiro trimestre do próximo ano, o que levaria a taxa básica para além dos 14% ao ano.

Diante de um cenário de juro pra cima e de uma inflação persistentemente mais alta nos próximos anos – principalmente por conta da falta de credibilidade fiscal do país -, o mercado parece ter ativado o modo “vende tudo, espera a poeira baixar e depois a gente vê o que faz“.

Não à toa, o Ibovespa cai 6,3% e o índice de small caps derrete 13,7% (mais que o dobro) somente em novembro. O pior comportamento das small caps é devido à maior exposição em empresas ligadas ao ambiente doméstico, e também pela menor liquidez dos papéis.

Estando o mercado certo ou errado e tendo em mente que cada um dos agentes (fundos de pensão, fundos de ações e multimercados, investidores estrangeiros, pessoas físicas, traders etc) têm diferentes objetivos e mandatos, eu já ouvi de tudo: já ouvi que é melhor perder dinheiro por 3 semanas do que durante 4 anos, que as reações (justificadas) do mercado estão sendo boas para orientar o governo a não fazer besteira futuramente, que o Lula precisa melhorar o discurso e caso contrário não chega até o final do mandato, dentre outras inúmeras interpretações.

No final do dia, a verdade é uma só: ninguém sabe o que vai acontecer no futuro, principalmente falando de política. Afinal, quando se fala de ações e, consequentemente, empresas, também é difícil obviamente, mas é possível argumentar com algum grau de precisão quando a assimetria parece estar a nosso favor.

Quem nunca entrou num supermercado e viu aquele azeite da sua preferência em promoção e ficou feliz em comprar algumas garrafas dele por saber da sua qualidade e do quão barato ele estava em relação ao seu histórico? Eu, particularmente, fico muito feliz quando isso acontece.

É fácil falar, difícil é fazer, até porque o dinheiro não é infinito (só é possível ficar feliz com a queda da bolsa quando se tem dinheiro para comprar mais). A hora de comprar ações não é quando elas estão subindo, mas sim quando parece que o mundo vai acabar, que é justamente o que está acontecendo no Brasil.

Ah, mas e se o juro subir mais? E se a trajetória da dívida explodir? E se o Brasil virar uma ditadura? Se existe incerteza, há desconto, se há desconto é porque parte do pior cenário possível já está no preço. Nunca vai ser óbvio. Quando parecer óbvio, a oportunidade certamente terá passado.

Como disse Warren Buffett, a quem eu sempre recorro quando preciso de algum conselho milenar:

Quer estejamos falando de meias ou ações, gosto de comprar produtos de qualidade quando estão com desconto.”

Posso estar tremendamente errado, mas a hora é de encher o carrinho com ações de qualidade e não de esvaziá-lo. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.

Food For Thought

Neste podcast, Stanley Druckenmiller, lendário trader de George Soros e um dos investidores mais geniais da atualidade, discorre sobre as experiências adquiridas ao longo da sua carreira, como elas ajudaram ele a chegar aonde chegou e o que ele pensa sobre liderança. Escute aqui.

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br