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Não seja um c*zão
Uma reflexão sobre lições de grandes nomes me levaram a este título
Não seja um c*zão.
Acredite, foi uma reflexão sobre lições de Florian Bartunek e Charlie Munger que me levaram a este título
“Seja gentil, tá todo mundo se curando de alguma coisa que não conta pra ninguém” (autor desconhecido)
Todos os três leitores desta newsletter já devem ter lido eu dizer que uma das melhores lições obtidas de episódios do Market Makers veio de uma conversa com Florian Bartunek. Quando perguntei sobre um conselho que daria aos jovens, o gestor da Constellation respondeu:
Sempre dê um pouco a mais: chegue um pouco mais cedo, entregue as coisas um pouco antes do prazo. E faça isso sendo gentil e tratando todos bem, não importa o cargo. Se você é esforçado e trata os outros com respeito, vão lembrar de você quando as oportunidades surgirem – e elas sempre surgem.
Um conselho que parece simples demais pra ser genial. Mas de fato, as pessoas esquecem da simpatia e do respeito na correria da rotina e na pressão do trabalho.
E refletindo sobre isso, tentei encontrar uma resposta para a pergunta “o que é ser gente boa”? Será que existe um manual prático de gentilezas? É aí que recorro ao meu ensinamento favorito do Charlie Munger: “invert, always invert” (inverta, sempre inverta).
Em tradução livre, ao invés de pensar em como ser gente boa, pense em como não ser um c*zão.
Pensei nisso após o episódio que fiz com Gustavo Cerbasi, principalmente após a emocionante história da doença.
Pra quem não viu o episódio (vou deixar o link está aqui, a propósito): no ano 2000, o pai de Gustavo Cerbasi foi diagnosticado com doença renal policística e precisaria de um transplante de rim.
Gustavo se ofereceu para doar o rim ao pai. Mas ao fazer os exames pré-operatórios, descobriu não só que ele tinha a mesma doença do pai como ela estava num grau ainda mais avançado!
“Sua vida não será tão longa quanto a de uma pessoa normal”, disse o médico na época. Cerbasi recebeu a notícia ao lado da Adriana — então sua namorada, hoje sua esposa — e ambos ficaram sem chão com a notícia.
A partir daí, Cerbasi construiu sua vida de forma que garantisse segurança e dignidade à esposa quando ele não estivesse mais aqui. Em outras palavras: ele viveu para construir a renda da Adriana para quando ele não estivesse mais aqui.
Foi daí que ele montou uma carteira baseada na metodologia que ele criou. Essa metodologia tornou-se aprendizado, através de aulas, palestras e livros. Muitos livros.
Em 2005, Cerbasi alcançou seu primeiro milhão em investimentos através da metodologia recentemente criada, o que resultou em uma inesperada matéria de capa na Revista S/A.
Junto com sua evolução financeira, veio também a evolução da medicina. Com uma dieta rigorosa e muitos cuidados médicos, Gustavo e Adriana ignoraram a recomendação médica e tiveram três filhos. E como todos podem ter percebido, a vida dele não foi breve como alertado.
Mas no final de 2024, o corpo de Gustavo finalmente exigiu um novo rim. Para se ter uma ideia: um rim pesa em média 400 gramas e o de Gustavo estava pesando 5 quilos antes da cirurgia, que aconteceu em janeiro deste ano.
E quem doou o rim para ele? Sua esposa, Adriana, que esteve ao lado dele neste tempo todo.
O transplante foi um sucesso. E o planejamento financeiro também. “De rim, você não morre mais”, disse o médico ao Gustavo.
Gustavo transformou uma grande adversidade da sua vida em motivação para seu plano financeiro, mirando deixar o maior patrimônio possível para sua esposa. E Adriana não só esteve ao lado do marido em toda essa caminhada como concedeu seu rim para ele, em um dos gestos mais bonitos que meu podcast pode registrar.
O que une Florian, Munger e Cerbasi é uma ideia simples, mas poderosa: a vida recompensa quem soma e pune quem subtrai. Você pode inverter a lógica que quiser — de investimentos, de relações ou de decisões —, mas sempre cairá nesse princípio.
Quantas vezes você já viu ou ouviu que fulano tinha uma fama de escroto mas que o cargo dele justificava isso. Ou então pessoas que justificavam uma atitude hostil ou mal educada ao fato de estar atarefado demais.
Um grande mentor me disse uma vez: o problema em dar poder para um merda é que ele fica ainda pior, pois agora ele terá mais motivos para agir como um merda.
Essa newsletter pode parecer que não fala sobre investimentos, mas pense nas relações de longo prazo com as pessoas que te cercam. O “compounding” é uma ferramenta muito poderosa no longo prazo, pro bem ou pro mal: trate mal as pessoas ao seu redor e veja o que lhe sobrará no futuro.
O mercado é feito de ciclos, lembre-se: o que vai, volta. E isso vale também para a forma como você trata os outros.
Essa reflexão me fez lembrar da maior gentileza que já me fizeram na vida. Mas eu guardo isso para outra newsletter, esta aqui já ficou longa demais.