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O Brasil mudou — ou foi a narrativa?
Selic e PIB 2025: Oportunidades e Desafios para Investidores no Brasil

Entre o final de novembro e começo de janeiro, a narrativa do mercado poderia ser resumida em: é impossível estar otimista com o Brasil.
A Selic, já absurdamente alta, teria que subir ainda mais em 2025. Fora que o mercado precificou um juro perto de 15% a perder de vista. Tudo isso por causa da falta de medidas do governo que demonstre compromisso com o fiscal.
O PIB cresceu mais do que o esperado nos últimos anos? Sim, mas apenas pelos muitos estímulos dados e que agora se esgotaram, diriam os pessimistas sempre cobertos de razão. A ressaca inevitavelmente virá e com ela teremos desemprego, recessão e mais pessimismo. Isso sem contar a degradação visível das nossas instituições.
Agora, mesmo que o Brasil não tivesse nada disso, o investidor ainda não teria motivos para estar aqui, já que ele pode investir na pujante economia americana. Com o país a pleno vapor e a agenda do Trump, do Musk (DOGE), do Bessent… não tem como ficar de fora! Tarifas podem ser inflacionárias? Sim, mas há gordura para ser cortada e há muitas empresas com expansão para expansão de lucros. AI é bolha? Nada, é só o começo!
Resumo da narrativa: era preciso ser ingênuo, mal informado ou ambos para querer investir no Brasil.
Hoje (segunda, 17 de fevereiro de 2025), o Ibovespa acumula alta de 6,6% no ano e o dólar, que já foi R$ 6,30 num passado recente, opera perto de R$ 5,70. Olhando em dólares, estamos entre as melhores bolsas do mundo:

Já nesta última semana, o mesmo Brazil Journal trouxe os feedbacks de dois dias de reuniões em Nova York do vice-presidente de atacado do Santander, dizendo que os estrangeiros estão otimistas com o Brasil. “Essa mudança de humor do estrangeiro é visível. Volto mais positivo do que fui”, disse Ejnisman.
Mas temos um sinal claro para essa mudança de cenário: a reprovação do Lula disparou, o que aumentou a chance de alternância de governo logo mais, em apenas 20 meses. E lógico, essa alternância será benéfica para o mercado. (Parágrafo repleto de ironia, só para deixar claro).
Minha newsletter de hoje não é pra dizer que a narrativa anterior estava errada e a atual está certa. Minha mensagem é: não leve sua carteira pela narrativa do mercado, pois a narrativa mudará mais rapidamente do que sua capacidade de entender por que ela mudou – e mexer na sua carteira.
Não devia ser novidade para ninguém que, com a Selic tão alta e com tanta incerteza no ar, ter uma posição em caixa ou títulos de renda fixa é uma boa pedida. E não devia ser novidade que é sempre bom ter uma exposição em moeda forte num portfólio diversificado.
Da mesma forma, com o mercado de ações largado e com empresas operacionalmente saudáveis e com boa situação de caixa, o momento é super propício para montar uma carteira focada no longo prazo, seja pela valorização destas ações ou pelo “yield” dos dividendos.
Posicionar-se a este cenário costuma ser mais fácil, mais rentável e menos estressante do que tentar acertar qual é o momento exato de trocar a proteção da renda fixa e do dólar pela ”oportunidade da vida” nas ações brasileiras. Mercado sempre viverá de narrativas.
Você sempre terá algum amigo ou seguirá alguém nas redes sociais que parece ser mais esperto/bem informado.
Por isso aqui no Market Makers, eu e o Math preferimos investir em fundamentos, não em histórias. Investimos em ”empresas”, e não em ”ações”.
É mais do que mera semântica: o termo “ações” traz um ar oportunístico para o investimento, enquanto o termo “empresa” soa como algo mais concreto, de longo prazo, que pretendemos carregar por muito tempo.Também por isso que não fizemos nada com a nossa carteira durante essa transição de narrativa do mercado.
Meu ponto é: poderíamos discutir por horas essa mudança de narrativa de mercado, mas como investidor de ações eu pouco me importo com isso, pois as empresas que investimos não foram escolhidas com base nisso.
Na verdade, o que eu me preocupo nesse momento é se as nossas ações podem subir rápido demais em uma eventual euforia repentina e perderem assimetria.