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4min leitura

O Buffett e a esponja

Aprenda com os erros dos outros

Por Thiago Salomão

29 abr 2024 10h40 - atualizado em 29 abr 2024 10h40

“It’s good to learn from your mistakes. It’s better to learn from other people’s mistakes.”

Charlie Munger

Começo essa newsletter agradecendo todos os assinantes que compareceram na última sexta-feira no Happy Hour do Market Makers, que fizemos num bar aqui em São Paulo. Teve gente que veio de todo canto do Brasil, teve até um que tinha acabado de chegar da Austrália e passou direto lá (calma, ele não veio só pelo happy hour). Tinha gente do mercado, gente de fora, mas todos com um objetivo em comum: fazer networking enquanto aprendem a cuidar melhor do próprio dinheiro.

Ler livros e colocar os aprendizados em prática são fundamentais para crescer no mercado. Mas o aprendizado e as experiências que você absorve nestas interações presenciais são irreplicáveis e inexplicáveis.

Aliás, fiquei feliz de ver o bar cheio mesmo diante do trágico abril nos mercados – e para a nossa carteira, consequentemente. Sabemos que isso faz parte do jogo, mas perceber que seus investidores estão alinhados com os seus princípios facilita a caminhada nesta tormenta.

Li algo na newsletter de domingo do Farnam Street que faz muito sentido com o momento atual: se você quer ficar rico rapidamente, o fator mais importante que você precisa ter é sorte. Agora, se você quer ficar rico eventualmente, o fator mais importante é a consistência. O pensamento de longo prazo elimina vários comportamentos inadequados.

E a beleza do mercado financeiro está justamente na frase do Charlie Munger usada no início desta CompoundLetter, que é aprender com os erros das outras pessoas. Praticamos muito esse método de aprendizado através das interações que temos constantemente com os investidores – sejam eles amadores ou profissionais com décadas de bolsa.

Se teve um grande aprendizado neste mês de abril foi: nunca subestime a velocidade que uma leitura de cenário pode ter. As coisas podem mudar a qualquer momento e, às vezes, basta apenas uma gota d’água para transbordar o balde.

E as duas gotas d’água que mudaram o cenário em abril saíram no começo do mês, com o relatório de emprego dos EUA mostrando mais empregos gerados do que o previsto e a inflação americana acima do esperado. Soma-se isso com o PIB do 1º trimestre aquém do esperado por lá e temos um combo de inflação forte com economia fraca. 

Com isso, a aposta de cortes de juros foi só para o final do ano e o rendimento da Treasury de 10 anos disparou de 4,20% ao ano para quase 4,80% ao ano. E quando o investimento mais seguro do mundo dispara o retorno em tão pouco tempo, é como se um terremoto atingisse o mercado financeiro – e quanto mais arriscado for um ativo, mais frágil ele será ao sacolejo.

O gráfico abaixo mostra o comportamento da Treasury de 10 anos (linha laranja) e o índice brasileiro de small caps (linha branca), que é bem mais sensível às oscilações dos juros do que o Ibovespa (que pela forte participação de commodities, não necessariamente responde aos juros):

Difícil um investidor de ações passar imune a um movimento como esse. Mas apegando-se às frases citadas ao longo deste texto, a paciência é uma virtude fundamental para ganhar dinheiro na bolsa no longo prazo.

Hoje, cerca de 70% da nossa carteira de ações do Market Makers está concentrada em ações de empresa “caixa líquido” (que tem mais dinheiro em caixa do que dívida), ou ações de empresas “dolarizadas” (possuem receita em dólar) ou que estão com uma estrutura financeira confortável para aproveitar-se de momentos como esse.

Nada disso é garantia de que essas ações irão subir, mas isso nos dá muito conforto para enfrentar este terremoto e ter noites mais serenas (quem nos acompanha sabe que aqui nós investimos com o objetivo de ter um futuro melhor e um sono mais tranquilo).

Foi curioso termos esse “teste de paciência” justamente no mês que mais estudamos value investing nos últimos anos. Isso porque eu e o Matheus vamos para Omaha para acompanhar a conferência anual da Berkshire Hathaway, que acontece 4/mai (sábado) e participar dos eventos que acontecem antes e depois da grande reunião.

Deixo aqui meu agradecimento aos nossos amigos da Vokin Investimentos, que não só nos convidaram para acompanhá-los nessa viagem como já nos deram várias dicas de como aproveitar melhor esta viagem (será a 8ª vez que eles irão para a conferência). Inclusive o episódio com o Frederico Vontobel (fundador da Vokin) mostrou que se tem alguém que estudou Warren Buffett no Brasil foi a turma da Vokin (se você não acompanhou esse episódio, não deixe de assistir antes do evento do Buffett, valerá muito a pena).

Uns 13 anos atrás, um operador de longa vida no mercado me disse algo que jamais esquecerei: toda interação com uma pessoa é como se você colocasse uma “esponja” sobre a mesa e essa esponja fica absorvendo tudo que essa pessoa te der. Mantenha sempre essa esponja ativa, seja com quem for, a troca de aprendizado sempre existirá (ele me garantiu que aprendeu algo comigo naquele dia. Eu duvido, mas ok).

Desde então, coloco isso em prática, seja em conversas a portas fechadas ou em podcasts. Estar lá inteiramente, para aprender tudo que for possível.

Que essa esponja volte de Omaha cheia de novos conhecimentos.

Ps: faremos mais happy hours com nossos assinantes ao longo do ano, então se você é assinante programe-se para participar conosco. Pra quem não é assinante, a Comunidade Market Makers está fechada para novos membros mas quando reabrirmos nós vamos avisar primeiro apenas quem está na lista de espera. Clique aqui para ficar nesta seleta lista.

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br