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O câncer argentino na mira de Javier Milei

No mundo como um todo, existem quatro tipo de países: os desenvolvidos, em desenvolvimento, Japão e a Argentina

Por caio.nascimento

10 Jan 2025 12h23 - atualizado em 10 Jan 2025 02h01

Javier Milei trouxe à tona um dos mais intensos experimentos de liberalismo econômico na história recente da América Latina. Em apenas um ano de governo, medidas drásticas redesenharam a estrutura administrativa e econômica da Argentina, com:

– cortes profundos em ministérios e gastos públicos;
– redução de subsídios;
– eliminação de preços tabelados; e
– controle rigoroso sobre a emissão de moeda.

As reformas buscaram equilibrar as contas públicas, conter a inflação descontrolada e reverter décadas de desequilíbrios estruturais, resultando no primeiro superávit fiscal em 15 anos.

Essa mudança permitiu que o governo honrasse compromissos financeiros sem recorrer à impressão descontrolada de dinheiro, um dos principais motores da inflação galopante e do descrédito global das gestões anteriores.

Por outro lado, os avanços econômicos refletiram no aumento da pobreza. 

Isso gerou críticas severas da oposição e de grupos de esquerda ao redor do mundo. Ainda assim, a popularidade de Milei segue alta, indo de 43% em outubro para 47% em novembro, segundo a LatAm Pulse, uma pesquisa realizada pela AtlasIntel para a Bloomberg News

Mas por quê?

Porque o que acontece na Argentina é como o tratamento de um câncer – e a população está ciente disso

A pobreza, que já vinha em alta antes do governo Milei, tornou-se ainda mais evidente com o fim de subsídios e políticas de controle de preços, que levaram o país ao fundo do poço.

Sem essa “maquiagem estatal”, os dados agora refletem a realidade nua e crua do custo de vida no país.

Ainda assim, Milei continua popular, com muitos argentinos vendo as reformas como uma necessidade dolorosa, mas inevitável.

Daniel Gordonos, sócio da Vinci Partners e especialista no país, trouxe no episódio #161 do Market Makers Podcast sobre o primeiro ano de Milei uma metáfora que ilustra a visão de longo prazo do povo argentino ao apoiar o atual presidente: “É como tratar um câncer com quimioterapia: no início, você se sente pior, mas depois vem a cura.

Em outras palavras, estão partindo da premissa que chegou a hora de romper com o fracasso histórico da maquiagem criada pelos peronistas, formando uma cultura de sustentabilidade fiscal que atraia um fluxo sólido e não-especulativo de capital para impulsionar um crescimento sustentável, que perdure sem o mal do populismo.

Terapia de Choque: Milei alertou que o início seria duro antes mesmo de ser eleito


Javier Milei adotou o que chamou de “terapia de choque” para corrigir as distorções da economia argentina, aprofundadas pelo ex-presidente Alberto Fernández.

Desde a corrida eleitoral, foi franco ao alertar que o início do seu governo seria de dificuldades severas, com aumento do desemprego e elevação nos custos de energia. Essa honestidade, incomum em campanhas políticas, parece ter conquistado parte significativa do eleitorado, disposto a aceitar o sofrimento imediato como preço por um futuro mais estável.

Essa abordagem contrasta diretamente com a de Mauricio Macri, que optou por reformas graduais durante sua gestão e se perdeu no meio do caminho.

Pés no chão

 
A estratégia de Milei resultou, sim, em efeitos imediatos. No entanto, é leviano cravar o futuro da Argentina de Milei.

Toda terapia de choque aplicada em países ao longo da história foram complexas e demandam tempo para fazerem efeito, seja para o bem ou para o mal. 

Se ele será visto como herói ou vilão, só o futuro mostrará.

Como diz José Carlos Carvalho, sócio da Vinci Partners que participou do episódio #161 do Market Makers, “no mundo como um todo, existem quatro tipo de países: os desenvolvidos, em desenvolvimento, Japão e a Argentina”.

Por ora, cabe a nós acompanharmos de maneira pragmática, captar insights dessa experiência liberal em solo latinoamericano e, sob a ótica de investidor, extrair oportunidades de investimento.

episódio #161, com Daniel Gordonos e José Carlos Carvalho, que acompanham a situação do país há décadas e criaram um fundo para buscar ganhos com as mudanças na Argentina, ajudará você nisso.

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