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O juro vai cair: o que vamos fazer?

Estamos nos preparando para o pior e para o melhor

Matheus Soares

Por Matheus Soares

13 Dec 2023 14h13 - atualizado em 13 Dec 2023 02h14

É comum no final do ano sermos bombardeados com projeções otimistas de bancos para o Ibovespa, e dessa vez não está sendo diferente: já estamos escutando analistas projetando o Ibovespa atingindo 160 mil pontos ano que vem (uma alta de 27% em relação ao nível de hoje), animados com o ciclo de queda de juros no Brasil e no mundo. 

Aqui no Market Makers, nós não gostamos de nos basear em projeções de mercado – na verdade, até preferimos estar posicionados na direção oposta do consenso – e diariamente fazemos o exercício de revisar se as teses e os pesos da nossa carteira são condizentes com nossas convicções. 

Como somos fundamentalistas e nos baseamos no value investing, gostamos de comprar ações de empresas que consideramos baratas vis-a-vis o potencial de entrega de resultados e vendê-las caso a margem de segurança diminua – seja pela valorização das ações, seja pela deterioração dos fundamentos. 

Apesar do foco ser as empresas, não podemos esquecer que elas são influenciadas pelo cenário macro – sobretudo no Brasil – e por isso gostamos de entender em qual parte do ciclo estamos. Nesse contexto, nas últimas semanas temos refletido se a nossa carteira está adequada para surfar o cenário que enxergamos para o próximo ano de queda de juros no Brasil e no mundo. 

O cenário macro

Até o início de novembro, os mercados globais estavam pressionados com a alta dos juros dos Treasuries americanos, cujo rendimento do título de 30 anos atingiu o patamar de 5% pela primeira vez desde 2007. Naquele momento, o mercado estava convencido da narrativa de “higher for longer” do Federal Reserve, acreditando que os juros se manteriam em patamares altos estruturalmente por mais tempo. Esta alta de juros também foi provocada por uma enxurrada de novos títulos emitidos pelo Tesouro americano, num momento de menor liquidez global devido à atuação dos bancos centrais.

Diante de taxas de juros alcançando níveis não vistos em mais de uma década, buscamos compreender a situação, valorizando as opiniões de investidores experientes e historicamente vencedores.

Stanley Druckenmiller, um dos investidores mais bem-sucedidos da história e conhecido por ter administrado um fundo de George Soros, alertou para a insustentabilidade da dívida americana e para o risco de uma grande recessão no próximo ano, apostando numa queda de juros no curto prazo e no aumento da taxa de juros de longo prazo. Leia aqui a nossa newsletter explicando sua tese com mais detalhes. 

Semana passada foi a vez de Bill Ackman, gestor e fundador da Pershing Square Capital Management, contar em entrevista que sua grande aposta é a queda dos juros americanos antes do que o mercado espera, na expectativa que os efeitos dos juros mais altos comecem a pesar bastante sobre a economia já no início do ano que vem. 

Em linha com isso, os dados de empregos nos EUA de outubro mostraram uma desaceleração da economia americana, o que contribuiu com a queda das curvas de juros e o forte rali das bolsas em novembro. 

Este cenário de queda de juros lá fora facilita o trabalho do Banco Central daqui em cortar juros, pois ele só assim ele consegue fazer isso com credibilidade – caso contrário, o investidor prefere investir em juros lá fora, pressionando o câmbio, a inflação, e em última instância, a tal da taxa neutra de juros que não estimula nem desacelera a inflação.

O que estamos fazendo?

A nossa carteira atual é composta por ações principalmente de valor, com múltiplo baixo e de empresas com baixa alavancagem. Esta estratégia trouxe um excelente resultado até agora, com o Market Makers FIA rendendo 29% no ano, contra 15% do Ibovespa e 11% do Índice Small Caps. 

Apesar do bom desempenho, nos questionamos se essa mesma estratégia dará certo em 2024 dado o cenário traçado acima. Também não é óbvio para nós que a queda de juros vai ajudar nossa bolsa: reconhecemos que as despesas financeiras e a taxa de desconto devem cair, ao mesmo tempo que a atividade econômica pode acelerar; porém, uma queda de juros lá fora pode ser uma resposta a uma recessão que não temos ideia do tamanho, o que deve deprimir os lucros das empresas e provocar uma queda das bolsas lá fora, que são correlacionadas e competem por recursos com a bolsa brasileira. 

Além disso, uma recessão lá fora prejudica a economia interna pelo canal da exportação e preços menores das commodities.

Dado o risco lá fora, ainda estamos incertos se é momento para ter mais caixa ou não, mas estamos pensando como se proteger do risco de uma recessão diminuindo a posição em empresas da carteira que têm receitas no exterior.

Como sempre, o cenário nunca é óbvio, MAS com recessão ou não, acreditamos na continuidade da queda de juros no Brasil – inclusive hoje tem decisão do Copom -, que pode ser intensificada pelo início do ciclo de cortes nos EUA.  

Em breve, devemos notificar os assinantes da Comunidade Market Makers sobre mudanças na carteira, incluindo uma ou mais empresas fora do radar que enxergamos ter potencial para ser fazer parte das grandes vencedoras com a queda de juros no ano que vem.

Hoje a Comunidade está fechada para novos membros, mas se você quiser ser avisado numa eventual reabertura, clique aqui.

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br