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O maior erro da Dynamo (e o que você pode aprender com ele)

Não importa quanto tempo você tem de mercado ou o quão vencedor você é, todo investidor está suscetível a ser traído pelos vieses.

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

22 Oct 2024 11h58 - atualizado em 22 Oct 2024 11h58

Semanas atrás, fiz uma rápida viagem de 5 dias para Los Angeles para ver os shows de despedida da minha banda favorita, o Nofx (provavelmente você e todos os três leitores desta newsletter jamais ouviram falar deles). Foram três dias intensos de shows deste promissor mercado das “turnês de despedidas de banda velha”.

Dando equilíbrio às doses cavalares de rock’n roll, coloquei em dia muitas leituras e podcasts nas quase 48 horas de trânsito aéreo para ir e voltar da Califórnia (aliás, incrível como minha produtividade exponencializa estando distante dos vários ruídos da rotina. Às vezes, adotar o “modo avião” em nossas vidas se faz necessário).

Trago nesta CompoundLetter um dos conteúdos consumidos nas ponte aéreas: a entrevista do Luiz Orenstein, fundador da Dynamo Asset, ao podcast “Atrás do Retorno”, do gestor Julio Vasconcellos (link do Spotify aqui).

São raras as aparições da Dynamo em público – uma pena, vale dizer: a cada exposição, é uma aula para todo investidor de ações de longo prazo. Não escondo de ninguém que a Dynamo é a grande referência que eu e o Matheus usamos para estruturar o processo de análise e a cultura do Market Makers.

O podcast é curto para os padrões Market Makers (66 minutos), mas a partir do instante 34’, Orenstein conta sobre um dos maiores erros cometidos pela Dynamo: o investimento em Natura. Daqui, é possivel extrair uma grande lição:

Não importa quanto tempo você tem de mercado ou o quão vencedor você é, todo investidor está suscetível a ser traído pelos vieses.

Aliás, o episódio me deixou a impressão de que, em alguns casos, esse longo tempo de mercado pode até jogar contra, pois diminui seu senso crítico a um investimento que já lhe deu tantas alegrias.

Orenstein começa contando que tem mais do que admiração aos donos da Natura, tem também afeto: “convivemos com eles desde que eram uma empresa fechada. Após o IPO, tivemos um envolvimento muito grande, sendo quase sempre um dos maiores acionistas”.

Sem dúvida que a Natura é um dos maiores casos de sucesso do capitalismo brasileiro, trazendo muitas alegrias a quem embarcou nela desde seu IPO. No entanto, alguns sinais alertas foram emitidos nos últimos anos, como o processo de internacionalização com a compra da Avon, explica Orenstein:

“Isso é um processo que é sempre perigoso: o numero de fracassos é bem maior que o de acertos”, diz o fundador da Dynamo. Junto a isso, teve uma mudança na própria gestão, com o distanciamento de alguns sócios, a criação da holding que possui escritórios em Londres e em Nova York… 

No entanto, o longo histórico de sucesso da Natura em quase tudo que fez pode deixar o investidor de longo prazo envolvido demais para ser crítico – característica fundamental para um analista de ações. 

A fala abaixo de Luiz Orenstein é o melhor resumo deste podcast:

O problema é que o nosso bias [viés] de gostar da Natura fez a gente perder esse espírito crítico permanente que a gente insiste que um analista precisa ter. O analista não pode gostar muito da companhia. Assim como a gente procura defeitos em teses de investimentos, em uma empresa temos que procurar o que não está funcionando. E esse aí foi um caso de paixão, e você sabe como que é isso, você acha que o outro ser é perfeito”.

Na continuação do papo, o fundador da Dynamo conclui que hoje “está tudo direitinho” com a Natura e eles estão muito otimistas com o futuro. Mas reforça: “o erro aqui foi basicamente perder a obsessão do nadador [no início do papo, ele fala do analista que tem que ser dedicado como um nadador]. Temos que partir do princípio de que algo funcionar bem até hoje não significa que funcionará bem no dia seguinte”.

A Dynamo não fala muito em público, mas é possível saber mais sobre a filosofia deles assistindo o episódio 120 do MMakers, que fizemos com Cristiano Souza, ex-sócio que ficou 30 anos na gestora carioca. Sem dúvida um dos melhores episódios da história do Market Makers (e olha que eu já ouvi todos, risos).

E pra quem gosta desses papos sobre ações, essa semana será especial, pois teremos dois episódios que estou muito ansioso em colocar no ar:

Terça-feira (22/10): Mauricio Bittencourt, fundador e gestor da Velt Partners

Quinta-feira (24/10): Sergio Karyia, CEO da Mills, uma das principais posições da carteira do Market Makers

Os dois vão ao ar às 18h no Youtube e nas plataformas de podcast. Já anota na agenda!
ps: se quiser saber mais sobre o Nofx, me chama no Instagram do @_salomoney que eu explicarei com prazer por que ela é (ou foi) a melhor banda de rock do mundo.

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br