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O pacífico Gêngis Khan do setor de shoppings brasileiro

A inspiradora história de Rafael Sales, CEO da Allos

Por Matheus Soares

24 abr 2024 10h44 - atualizado em 24 abr 2024 11h02

A lenda de Gêngis Khan¹ ecoa através da história: um conquistador bárbaro, motivado pela sede de sangue, aterrorizando o mundo civilizado. É possível imaginá-lo com sua horda mongol atravessando a Ásia e a Europa, insaciáveis, não parando por nada, saqueando, aterrorizando e matando não apenas quem cruzava o seu caminho, mas também as culturas que essas pessoas haviam construído. Verdade? Não, quem acredita nessa versão da história não poderia estar mais errado. 

Gêngis Khan não foi só uma das maiores mentes militares que já viveram, como foi um eterno estudante cujas vitórias incríveis costumavam ser o resultado de sua capacidade de absorver as melhores tecnologias, práticas e inovações de cada cultura que seu império tocava.

Se há uma palavra que melhor descreve seu reinado e os vários séculos de domínio dinástico que se seguiram, essa palavra é: INTEGRAÇÃO. Sob a direção de Gêngis Khan, os mongóis eram tão implacáveis na absorção do melhor de cada cultura que encontravam quanto na própria conquista. Embora não haja praticamente nenhuma invenção tecnológica, nenhuma construção ou uma bela obra de arte que possa ser atribuída aos mongóis, a cada batalha e a cada inimigo sua cultura aprendia e absorvia algo novo. Gêngis Khan não nasceu um gênio. Em vez disso, como destacou um biógrafo, ele mergulhou em um “ciclo de aprendizado pragmático, adaptações experimentais e correções constantes motivadas por sua disciplina única, foco e determinação.”

Ele foi o maior conquistador que o mundo já conheceu porque estava mais aberto ao aprendizado do que qualquer outro conquistador jamais esteve. O Império Mongol levou limões para a China e macarrão chinês para o Ocidente. Disseminou os tapetes persas, a tecnologia da mineração alemã, o trabalho em metal francês e o islã. O canhão, que revolucionou a arte da guerra, de acordo com relatos, foi o resultado da fusão entre a pólvora chinesa, o lança-chamas muçulmano e o trabalho em metal europeu. Foi a absorção mongol ao aprendizado e às novas ideias que reuniu todos esses elementos.

Em nossa conversa com Rafael Sales, CEO da Allos, a maior empresa de shoppings centers da América Latina (e uma das ações investidas do Market Makers FIA), eu não pude pensar em outro exemplo que o descrevesse tão bem. Não é exagero dizer que ele é um guerreiro, nesse caso não no aspecto sanguinário, óbvio, mas um guerreiro da vida cotidiana. Eu explico.

Antes de falar da transformação da Allos e das batalhas diárias dele, um breve resumo sobre o Rafael: nascido em Belém, ele veio pra São Paulo estudar direito, trabalhou como advogado em importantes escritórios até migrar para o mercado financeiro como analista de ações. Tornou-se sócio da Constellation por 10 anos e lá teve o primeiro contato com a empresa, que na época ainda se chamava Aliansce. Após ter sido conselheiro, foi convidado para ser o CEO da empresa, cargo que ocupa desde 2018.

Já como CEO da Aliansce, Rafael emplacou duas fusões transformacionais: comprou a Sonae Sierra em 2019 e a BR Malls em 2022, dando origem à Allos, a maior empresa da América Latina com um portfólio de 47 shoppings próprios, e 58 no total – entre próprios e administrados – espalhados por todo o Brasil. Esses shoppings somaram R$ 43 bilhões em vendas totais, dos quais 13 venderam mais do que R$ 1 bilhão no ano passado, entre eles, o Shopping Recife e o Parque Dom Pedro superaram R$ 2 bilhões de vendas.

“A Sonae foi uma fusão. Apesar da Aliansce ser uma empresa que era maior que a Sonae, existia um espírito de fusão desde o início. E no caso da BR Malls, a gente construiu o espírito da fusão no meio da integração. […] A gente só consegue fazer algo desse tipo se a gente fizer o dever de casa de criar um ambiente que seja um AMBIENTE DE FUSÃO.”

O ambiente de fusão, nas palavras do próprio Rafael é: 

“Primeiro, saber que você não sabe tudo. Ter a humildade de, ao juntar [com outra companhia], você vai aprender coisas com aquela outra companhia independentemente dela ser maior ou menor que a sua na hora da fusão. A BR Malls era maior do que a gente e a BR Malls se tornou a maior em 16 anos. Com certeza, tanto a administração quanto o Conselho da BR Malls tinham coisas importantes para nos ensinar. Propor um ambiente em que todo mundo vai aprender dos dois lados, esse é um ambiente de fusão.”

Essa capacidade de absorver o melhor das culturas – à lá Gêngis Khan – de diferentes empresas e juntá-las dentro de uma nova cultura é um dos grandes méritos do Rafael e também um dos pilares no qual acreditamos que ele é um dos melhores executivos, não apenas do setor, como da bolsa.

Além dos atributos empresariais que tanto admiramos, a história pessoal do Rafael também mostra como ele lida com as batalhas diárias e adversidades que a vida coloca: poucas semanas após assumir como CEO da Aliansce, no final de 2018, um grave acidente treinando jiu-jitsu provocou uma lesão medular que o deixou tetraplégico. 

Superar esta tragédia torna a história do Rafael – o pacífico Gêngis Khan do setor de shoppings brasileiro – ainda mais inspiradora para mim, analista e acionista da empresa que ele gere.

Se você ainda não ouviu ou assistiu ao episódio, aqui vai o meu conselho: assista! Você terá uma aula gratuita sobre shoppings e sobre a vida.

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Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br