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O portfólio certo para um 2023 incerto
Tenha uma diversificação à prova de certezas
Se você está em dúvida sobre o que fazer com sua carteira para 2023, o texto de hoje é pra você. No final da newsletter, preparei uma sugestão de portfólio baseado no que tenho conversado com gestores ao longo deste mês. Confere lá, mas só depois de ler o texto (me dá essa moral, é a minha última newsletter do ano).
22 de novembro: estreia da Argentina na Copa do Mundo contra a Arábia Saudita. Após abrirem o placar no 1º tempo, os hermanos tomaram uma virada histórica (e vergonhosa) dos árabes na 2ª etapa. Final de jogo: 2 a 1 Arábia.
“Argentina não vai a lugar nenhum. O Messi já era”.
17 de dezembro: Argentina vence a final da Copa contra a França e torna-se tricampeã mundial, com dois gols do Messi, terminando o torneio com 7 gols (5 deles de pênaltis, vale dizer…).
As idas e vindas da Argentina trazem uma certa proximidade do futebol com o dia-a-dia no mercado. Por aqui, investidores baseiam-se nas evidências que têm em mãos para prever o que virá a seguir. É assim que eles concluem quais os ativos (ações, câmbio, juros etc) eles querem comprar ou vender.
Mas o futuro é imprevisível – seja no campo ou na bolsa. Não importa o quanto faça sentido uma projeção, a magia do caos está aí para nos surpreender sempre que não esperamos (desculpe a redundância, foi só para reforçar a ideia).
Tenha isso sempre em mente: evite grandes convicções e fuja de “all wins”. Isso pode até ser divertido no bolão da Copa, mas nos investimentos isso pode ser fatal. Tivemos vários exemplos na B3 de consensos que mostraram-se tão errados quanto as apostas de que o hexa viria esse ano (ainda dói…).
Quem não se lembra de Hapvida, que perdeu mais de 70% de valor de mercado desde sua fusão com a Intermédica. Ou a Natura, queridinha dos gestores e que já valeu R$ 60 por ação em 2021 mas hoje é cotada abaixo de R$ 10. E a Petz, Magalu, Alpargatas e tantas outras empresas adoradas que não conseguiram dar alegria pro povo….
E qual é a grande certeza hoje? 2023 vai ser péssimo para o Brasil. As duas últimas entrevistas do Market Makers trouxeram grandes gestores com visões bem pessimistas para o ano que vem. Elas vão bem em linha com o que temos visto no noticiário em geral.
Na quinta, os gestores do Genoa Radar (um dos melhores fundos multimercados de 2022) disseram que as primeiras sinalizações fiscais do Brasil são bem preocupantes, o que torna a reabertura da economia chinesa quase que vital para salvar nossas contas públicas. Se você não viu esse papo, clique aqui e confira.
Já na sexta, o gestor da Vinland, André Laport, revelou em nossa live no Youtube algo que ainda não tinha ouvido ninguém falar: o gringo está tirando o dinheiro do Brasil. “Eu fiz um roadshow lá fora nas últimas 3 semanas e, pelo que tenho falado com estrangeiros, vai ter resgates em fundos brasileiros”, disse Laport.
Ele citou dois motivos para essa fuga: algumas classes de ativos estão com retornos bem competitivos – “tem bond de empresas como a Amazon pagando 6,5%/7% ao ano em dólar” – e também a reabertura da China (aquela mesma que é vital para as nossas contas públicas, que pode fazer com que os investimentos acelerem por lá.
É por isso que o fundo Vinland Long Bias está quase que zerado em Brasil, apesar do baixo valuation, diz Laport. “Você vê um Banco do Brasil valendo 0,6x o patrimônio, que é ridículo de barato, mas ele pode ir pra 0,3x antes de melhorar”, explica (a entrevista completa está aqui).
Conclusão: as evidências indicam que 2023 tende a ser um péssimo ano para o Brasil. Mas cuidado com o excesso de certeza. Lembre-se do poder do imponderável. E se no futebol não há como se proteger disso, nos investimentos você pode, através da diversificação dos ativos investidos.
Um grande amigo do mercado adora repetir que “ninguém nunca vai ganhar dinheiro de verdade copiando o que todo mundo está fazendo”. Os grandes retornos estão justamente naquilo que ninguém está olhando – ou que até olha, mas prefere evitar agora. É isso que temos visto dentro da bolsa: empresas com valuations extremamente descontados (num bom português: estão muito baratas).
Eu sei que valuation não é “trigger” (gatilho) pra uma ação subir: algo barato pode ficar ainda mais barato ou então pode apenas ficar neste mesmo preço por muito tempo. Mas pra quem tem horizonte de longo prazo e aguenta os balanços do curto prazo, não há nada mais confortável do que comprar bons negócios a um preço baixo.
Se você quer ficar protegido mas ao mesmo tempo exposto a essas pechinchas da bolsa, vá pelo meio do caminho: faça uma carteira com uma parte maior em renda fixa e o restante menor em ações. Eu colocaria nesse “meio de campo” uma exposição a dólar e em petróleo, via ETFs ou empresas petrolíferas (que não seja Petrobras, por motivos óbvios).
O percentual vai de acordo com seu perfil ou seus objetivos. Mas só pra dar um norte: se eu fosse montar uma carteira hoje do zero, eu o faria dessa forma: 50% renda fixa, 25% ações, 15% dólar e 10% petróleo. Dessa forma você consegue se proteger na confortável renda fixa e num dólar que pode subir se as coisas piorarem, ao mesmo tempo que fica exposto a boas empresas que podem se recuperar rapidamente caso o ciclo vire.
É o famoso “entre Argentina e França, preferi torcer pelo bom futebol”.
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