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O que é um Stock Picker de verdade

Insights do Stock Picking Day 2024 com três dos maiores stock pickers do Brasil (aliás, ainda dá para se inscrever)

Matheus Soares

Por Matheus Soares

10 Jul 2024 10h43 - atualizado em 10 Jul 2024 10h43

O que é um Stock Picker de verdade

Poucos fundos de investimento são tão bons no trabalho de selecionar as melhores ações da bolsa para ganhar dinheiro do que Charles River, Guepardo e Absolute Investimentos. Apesar do ambiente de negócios ser extremamente desafiador no Brasil, seja por conta dos altos e baixos da economia, seja devido aos juros elevados, todos eles ganham dinheiro investindo naquilo que hoje ninguém nem quer saber: ações. 

Como aqui no Market Makers nós somos apaixonados em aprender e ‘tarados’ em compartilhar conhecimento ligado ao mercado financeiro, semana passada promovemos o Stock Picking Day com o objetivo de mostrar para você que não apenas dá pra ganhar dinheiro investindo em ações de empresas, como também o que é necessário saber para ganhar dinheiro com ações. 

Essa aula gratuita com três dos maiores investidores de ações do Brasil pode ser acessada através deste link, mas como eu sei que tempo é um ativo escasso e que nem todo mundo tem condições de se dedicar a quase 4 horas de conteúdo, compartilharei a seguir as frases que eu mais gostei de ter ouvido desse evento. Separei por tópicos:

Investimento em ações

“O investidor em ações não pode investir nesse tipo de ativo [renda fixa] nunca, porque sempre ações vai ter um yield maior que esse tipo de ativo. Sempre. Então eu sempre vou preferir ações. Se eu achar que as ações estão muito caras, eu vou ter o CDI mesmo, seco, vou estar lá na Selic, paradinho esperando uma oportunidade aparecer.”

Octávio Magalhães, da Guepardo

“O value investing te faz ficar muitas vezes numa posição contrária à maioria. Ou seja, você está comprando algo que poucos querem e não é tão bem falado naquele momento, às vezes vendendo algo que são muito mais bem falados. Essa posição contrária ao mundo traz riscos, inclusive riscos de negócio. […] ‘Um banqueiro confiável é aquele que falha convencionalmente’, ou seja, falha junto com todo mundo. De certa forma, se você erra com todo mundo seu risco de negócio é menor, você tem um incentivo de andar junto com o grupo. E especialmente depois que você fica maior.” 

Camilo Marcantonio, da Charles River

“A gente pensa no portfólio consolidado. As pessoas de equities, nós somos apaixonados por história, por empresa, é muito interessante você ter várias boas ideias. Mas a gente se preocupa muito em não ter uma carteira que é uma soma de boas ideias, porque muitas vezes essa soma de boas ideias [estão atreladas] ao mesmo risco. […] Historicamente, nosso portfólio sempre teve alguma coisa de commodities, empresa de crescimento, empresa defensiva, shorts que parecem muito assimétricos.”

Christian Faricelli, da Absolute Investimentos

“Não pode ter amor. […] Bateu o preço justo, tchau. Frita tudo. Na hora que bate o preço-justo, é quando está todo mundo comprado. […] Do mesmo jeito que quando você compra é aquele negócio que ninguém quer, é aquele negócio horroroso, quando você vende é quando todo mundo quer e nessa hora é muito difícil vender. Você fala: ‘agora que está todo mundo elogiando, falando que a empresa está entregando, todo mundo dando buy, os gringos falando bem da empresa, aquela folia… agora vou vender?” VENDA. Um dia vai ficar barata e você vai voltar de novo para o papel.”

Octávio Magalhães, da Guepardo

“[Para ser um value investor] você precisa ter uma mente que ao mesmo tempo se sente confortável fora do grupo, mas também não sente um prazer excessivo em estar fora do grupo, senão é ainda mais perigoso, você vai errar muito, não só vai errar muito como vai insistir demasiadamente nos seus erros, pode ser até que você acerte algumas vezes, mas os seus poucos erros podem acabar com você.”

Camilo Marcantonio, da Charles River

“A gente olha muito pra fora também porque sem você olhar pra fora, sua análise local não fica completa. Se quiser olhar a Vale, você precisa entender o que a BHP, Rio Tinto e Fortescue estão fazendo. Se quiser estudar o Magazine Luiza ou Mercado Livre, precisa entender o que a Amazon, Alibaba e Shope estão fazendo. Essa análise de ações fora do Brasil ajuda a gente a criticar o valuation e os modelos de negócio das empresas do Brasil e um entendimento do que está caro ou barato. […] Olhando historicamente a Totvs é uma empresa que a gente adora, que tem N qualidades e um posicionamento incrível. […] Só que olhando as empresas de tecnologia lá fora, será que a Totvs realmente é uma empresa de tecnologia? Como que é o valuation da Totvs contra um Google, um Facebook, então esse tipo de questionamento me enriquece muito.”

Christian Faricelli, da Absolute Investimentos

Ensinamentos sobre o funcionamento do Sr. Mercado

“Você não pode escutar o mercado. Você tem que tentar se desligar ao máximo. Não conversar, não ler, não trocar ideia com as pessoas do mercado financeiro. Se ficar escutando, vai ficar maluco. Todo mundo quer renda fixa, todo mundo quer fundo imobiliário, todo mundo quer não sei o que, NTNB e sei lá o que na hora que é pra comprar ações. Se num momento como esse que tem estresse no mercado, que a NTNB está esfolada, o CRA, o CRI, tá tudo esfolado, tudo te dando IPCA+6,5% ou 7%, aquela folia, é óbvio que a bolsa também está esfolada. E quando essas coisas estão te dando IPCA+6/7 a bolsa está te dando IPCA+12%. Essa é a diferença. A dificuldade é que na bolsa, como o fluxo de caixa é variável, diferentemente da renda fixa, dá muito trabalho e muita insegurança nas pessoas de saberem calcular quanto será aquele fluxo de caixa, diferente de um CRA, de um CRI, de uma NTNB, que você tem exatamente na renda fixa quanto vai ser o teu fluxo de caixa.”

Octávio Magalhães, da Guepardo

“Se você falasse numa rodinha de 10 que não tinha Eneva, você tinha quase vergonha de falar que não tinha Eneva. Hoje é o oposto. Quando você fala: ‘sou acionista de Eneva, gosto muito da empresa e vejo muita assimetria’, parece que você tá falando coisa errada. […] Podemos estar errados na análise, mas a gente confia muito nas nossas contas [sobre Eneva negociar a TIR de 12% precificando zero opcionalidades].”

Christian Faricelli, da Absolute Investimentos

“A gente fica numa jaulinha preso, fazendo as nossas contas sem falar com muita gente. Eu acho que essa é a melhor maneira [de lidar com as diferentes opiniões do mercado], tapar o ouvido e desenvolver suas teses, fazer coisas únicas, eu to certo não interessa o preço, vou comprar porque está barato; ‘ah, mas quando vai subir?’ sei lá, só Deus sabe, então vou comprar e vou carregar aquela posição até o dia que o mercado acordar e entender que aquele negócio está barato e não ficar tentando acertar o tri, o semestre. […] A gente nunca olha tri, eu não sei o que mercado pensa, se o balanço vai ser melhor do que o que o mercado espera ou pior. Eu olho zero. Eu não sei quanto que o mercado projeta pra nenhuma empresa do meu portfólio, se a empresa vai entregar mais ou menos do que o que o mercado está projetando. Se a ação vai subir, qual vai ser a reação do mercado, se vai subir ou cair, pouco me importa.

Octávio Magalhães, da Guepardo

Alavancagem

“Um fundo [de investimento] nada mais é do que uma holding, cheio de subsidiárias embaixo. Se todas as minhas subsidiárias embaixo do fundo estão alavancadas, logo a minha holding está alavancada também e vice-versa. Quando eu ponho 25% do meu fundo numa empresa desalavancada, é muito menos arriscada, muitas vezes, do que você ter 10% do fundo numa empresa mega alavancada. No final você tem que ver quanto de dinheiro você está alocando naquilo porque no final a dívida mais o equity [patrimônio/valor de mercado] é a sua alocação. Sua alocação nunca é só o equity. Nunca são só as ações da bolsa. São as ações mais a dívida que você está tomando.”

Octávio Magalhães, da Guepardo

“Uma empresa que não tem alavancagem, se a gente errar 1% no valor da empresa como um todo, vou errar em 1% no valor do acionista. Se não tem alavancagem, 100% valor da empresa igual a 100% valor do acionista. Então avaliei em R$ 100, se ela não vale R$ 100 e vale R$ 99, o valor do acionista que era R$ 100, será R$ 99, errei por 1%. Agora vamos imaginar uma empresa que vale R$ 100, mas na verdade desses R$ 100 ela é bastante alavancada, então R$ 80 é dívida e R$ 20 é o valor do acionista. Se eu errar R$ 1, ela não vai valer R$ 100, ela vai valer R$ 99, a parte da dívida continua R$ 80, então o valor do acionista cai de R$ 20 para R$ 19, então em vez de cair 1%, vai cair 5%. Então, consequentemente, uma empresa que tem mais alavancagem tem mais probabilidade de eu superestimar o valuation.”

Camilo Marcantonio, da Charles River

Margem de segurança

“A disciplina é pra você realmente comprar o que está barato com desconto. Nada mais é o desconto do que a tua margem de segurança. Quer dizer, pra você errar o mínimo possível as suas projeções, você precisa ter um desconto grande. Por exemplo, estou projetando um câmbio X, ou um PIB Y para aquela empresa, ah o PIB veio pior do que o que projetava, isso vai mudar pouquinho o fluxo de caixa versus o tamanho do desconto que eu to comprando. […] Por isso que o macro acaba não sendo tão importante. Eu não olho o macro, pra mim pouco interessa se o câmbio vai ser R$ 5,50 / R$ 5,50 / R$ 5,30 ou vai pra R$ 6,00. Pouco interessa. Isso daí vai mudar muito pouco versus o tamanho do desconto que eu estou comprando. A minha margem de segurança é o principal.” 

Octávio Magalhães, da Guepardo

“Empresas muitas vezes de retorno sobre o capital muito elevado, são empresas muito boas. Só que essas empresas têm muito risco de serem atacadas. Exatamente por ter um retorno sobre o capital [ROIC] muito alto, a concorrência vai tentar atacar, talvez outros setores vão tentar atacar, tem risco de regulação se o governo puder regular. Por que você regula uma empresa de alto ROIC? Por mais que você diminua o retorno dela, ela vai continuar investindo, então você como governo não perde investimento. Tem várias questões de empresas com alto ROIC, quando pensa em médio e longo prazo, ela pode ter mais riscos.”

Camilo Marcantonio, da Charles River

Empresas de commodities

“Se eu achar um shopping center com o mesmo desconto do valor intrínseco de uma empresa de commodities, normalmente eu estou investindo no shopping center porque o risco é muito menor para o mesmo retorno.”

Octávio Magalhães, da Guepardo

“Eu acho que empresas de commodities são menos arriscadas do que empresas que tenham marca e que tenham possivelmente um ROE elevado. Deixa eu explicar essa minha visão que liga bastante com o que falamos de processo e maneira de investir. A gente avalia na perpetuidade uma empresa. O que eu to falando vale para o que a gente faz. Se você for avaliar uma empresa por dois anos e usar um múltiplo, acho que a coisa é diferente. Se eu tivesse que avaliar em dois, eu também acho muito mais previsível em dois anos uma empresa de marca forte, que eu consiga avaliar se a coleção dela está boa, se tem concorrência, se não tem, do que uma empresa de commodities. Commodities agrícolas, por exemplo. Tem que prever não só a commodity, como o dólar, e se vai chover ou não vai chover, se a colheita vai ou não ser boa, obviamente as incertezas no curto prazo são maiores. Agora, quando a gente olha perpetuidade, a maior parte do valor está no médio e longo prazo.”

Camilo Marcantonio, da Charles River

“Somos agnósticos, não temos nenhum tipo de preconceito. ‘Ah, eu não invisto em estatal’. Nos últimos três, quatro anos, a Petrobras foi uma posição muito relevante do nosso fundo, Eletrobras, Sabesp, Banco do Brasil. […] Muitos fundos não gostam de investir em commodities, a gente gosta de investir em commodities. 

Christian Faricelli, da Absolute Investimentos

Governança corporativa

“Empresa de dono é muito melhor que corporation desde que o dono também seja bom. Tem dono que também é maluco, que não respeita o minoritário ou a governança é ruim. Tem donos e donos. Quando você tem uma empresa de dono e o dono é bom, sabe alocar capital, sabe gerir, tem uma estratégia bem desenhada, tem um time bom, pessoas boas, é muito bom porque você tem uma garantia que a empresa vai continuar com uma estratégia e gestão boa. […] Quando o dono é ruim, você tem uma garantia que o negócio será ruim pelos próximos 10 a 15 anos. O dono só vai te garantir uma coisa boa ou ruim. Então quando você tem o dono lá, é mais fácil você projetar se a empresa é boa ou ruim. Quando é corporation, como você não tem essa garantia, vira uma coisa parecida com a política porque muda o dono, muda o acionista de referência. […] A gente gosta quando a empresa tem um líder de referência”

Octávio Magalhães, da Guepardo

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br