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O que esperar de Trump em 2025, segundo Marcos Troyjo
A nova administração de Trump promete transformar os Estados Unidos em um ambiente fiscal mais alinhado aos mercados emergentes, potencialmente aumentando sua atratividade para investimentos estrangeiros diretos
Donald Trump, eleito para mais um mandato como presidente dos Estados Unidos, retorna à Casa Branca com uma abordagem que promete mudanças significativas no cenário global. Diferentemente de sua primeira gestão, Trump agora possui um domínio detalhado da máquina governamental americana, uma equipe alinhada por critérios de lealdade e um Congresso majoritariamente favorável a suas políticas, tanto no Senado quanto na Câmara. Esses fatores, aliados a um plano estratégico bem definido para seus primeiros 100 dias, indicam que sua administração será marcada por grandes medidas internas de impacto mundial.
Essa é a visão de Marcos Troyjo, renomado economista, diplomata e ex-presidente do BRICS. Na quinta (26), ele participou do episódio #165 do Market Makers Podcast, trazendo 7 tendências que vão moldar o mundo em 2025.
Confira abaixo as perspectivas da gestão Trump para o ano que vem na visão de Troyjo:
Eficiência, desburocratização e cortes de Impostos
Uma das promessas centrais de Trump é um grande esforço para aumentar a eficiência governamental. Para isso, ele convidou Elon Musk, reconhecido por sua habilidade em gerenciar projetos complexos, para chefiar uma unidade especial do governo com status ministerial. Este movimento simboliza a busca por desburocratização, desregulamentação e, principalmente, cortes de impostos.
Atualmente, os Estados Unidos possuem uma carga tributária de 27% do PIB, superior à média de 23% registrada nos mercados emergentes, mas inferior às taxas praticadas pelos países da OCDE, como as economias nórdicas, Japão e Austrália. Países como o Brasil, por exemplo, apresentam uma carga tributária cerca de 10 pontos percentuais acima da média dos emergentes.
A nova administração de Trump promete transformar os Estados Unidos em um ambiente fiscal mais alinhado aos mercados emergentes, potencialmente aumentando sua atratividade para investimentos estrangeiros diretos. Essa política tributária busca criar um novo modelo competitivo, reduzindo a distância fiscal entre os EUA e seus “primos ricos”, como os europeus, e aproximando-os das economias emergentes.
Reindustrialização e estratégias geoeconômicas
Uma das prioridades declaradas é a reindustrialização dos Estados Unidos. Essa estratégia visa atrair cadeias produtivas e setores industriais de volta ao território americano, alavancando vantagens comparativas como a redução de impostos. Essa política reflete o conceito de “near-shoring” e “friend-shoring”, que já se mostraram tendências globais. Empresas que antes produziam na China, por exemplo, estão redirecionando suas operações para locais mais próximos ou para países aliados, como o Reino Unido.
Entretanto, o custo dessa transformação não será baixo. O deslocamento das cadeias produtivas exige investimentos significativos em capital e infraestrutura, o que pode pressionar os balanços das empresas e até gerar impactos inflacionários.
O longo período de globalização que marcou a economia global entre a queda do Muro de Berlim e a crise de 2008 funcionou como uma “represa” que manteve juros e inflação baixos. Mas o mundo mudou: agora, em um mundo em que esses dois indicadores estão crescentes, essa dinâmica se inverte.
Impactos econômicos e políticos globais
A economia americana, que deve iniciar 2025 com um PIB de quase 29 trilhões de dólares, mantém-se como uma força dominante no cenário global. Desde a crise do Lehman Brothers, o PIB per capita dos Estados Unidos praticamente dobrou em relação ao da zona do euro, refletindo uma taxa de inovação mais robusta e maior crescimento da renda mesmo em estados historicamente menos desenvolvidos. Em contraste, a China, com um PIB de 18,5 trilhões de dólares, enfrenta desafios para acompanhar o ritmo americano.
Troyjo compara a situação ao “gráfico da boca de jacaré” – uma metáfora para a crescente disparidade entre as economias dos EUA e da China, que começou a se acentuar novamente em 2018. Esse aumento no peso relativo da economia americana refuta as previsões de declínio do país, indicando que, ao menos no curto prazo, os EUA continuarão liderando o cenário global.
Trumpulência
Se Troyjo fosse resumir o que espera da gestão Trump 2.0 em uma palavra, seria “Trumpulência”, que combina as ideias de “turbulência” (no sentido de chacolejar o xadrez geopolítico e econômico global) e “opulência” (construção de riqueza).
Afinal, embora a agenda de Trump prometa impulsionar a economia americana, ela também carrega riscos, como o aumento de tensões bilaterais e potenciais efeitos colaterais nas cadeias produtivas globais. A busca por eficiência e competitividade pode elevar os custos de produção e intensificar a volatilidade dos mercados financeiros.
Uma nova era para os Estados Unidos
Com um mapa claro de ações para o governo e apoio político significativo, Trump retorna ao poder em um momento de transformações econômicas e geopolíticas. Sua administração promete remodelar as políticas fiscais e industriais, reforçando o papel dos Estados Unidos como motor da economia global. Ao mesmo tempo, os desafios associados à implementação dessas políticas – desde impactos inflacionários até tensões comerciais – indicarão se a “trumpulência” levará à prosperidade ou à instabilidade.
A partir de 2025, o mundo observará de perto as ações de um presidente que retorna com um plano ambicioso para redefinir os rumos dos Estados Unidos e do cenário internacional. Como Trump conduzirá esse novo mandato será decisivo não apenas para os americanos, mas para a ordem global como um todo.