Notícia

6min leitura

icon-book

O que Omaha me ensinou

Market Makers na conferência da Berkshire Hathaway

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

06 May 2024 10h19 - atualizado em 06 May 2024 10h19

“Não só espero que vocês venham no ano que vem, como espero que eu venha no ano que vem.”

Warren Buffett, na Conferência da Berkshire deste ano

Esta CompoundLetter será dividida em duas partes: na primeira, uma breve reflexão pessoal sobre por que gosto e aprendo tanto com interações presenciais; na segunda parte, as “primeiras impressões” do que aprendi na conferência da Berkshire Hathaway, em Omaha, onde eu e meu sócio Matheus Soares estivemos presencialmente na última semana.

Parte 1: a reflexão pessoal

“Você é Thiago, que nem o jogador da seleção brasileira. Gosta de futebol?”, perguntou pra mim Tej Adidam, professor da Universidade de Nebraska. Ele estava ao meu lado no VIC (Value Investing Conference), que aconteceu dentro da universidade na semana que antecede a conferência anual da Berkshire Hathaway (eu estava lá pela 1ª vez acompanhando o super evento do Warren Buffett).

“O Buffett é muito simpático, ele faz um evento todos os anos com os alunos da universidade, mas só os estudantes podem perguntar. Os professores não podem fazer perguntas”, disse Tej, que irá nesse ano em sua 19ª conferência.

No VIC, tive aulas com grandes nomes, como Robert Cialdini (autor de livros sobre persuasão) e Mario Gabelli (um dos value investors mais respeitados do mundo). Gabelli mostrou o quanto está preocupado com o futuro da dívida pública americana e disse que só há três formas de resolver isso: corte de gastos, aumento de impostos e inflação. Como o primeiro não vai acontecer e o segundo tem espaço limitado, só resta a 3ª alternativa.

O evento também me permitiu conhecer pessoas incríveis, como o dinamarquês Peter Gustafson, um discípulo fiel de Buffett (“eu só copio o que o Buffett faz. Se eu decidisse virar jogador de futebol, eu imitaria o que Ronaldo ou Neymar fazem”, disse). Gostei muito quando ele falou sobre a importância de se conhecer para se tornar um investidor. Ele, por exemplo, disse não ser um “gênio do excel” e costuma normalizar estimativas otimistas. Já saber disso lhe ajuda a evitar tais armadilhas.

Conheci vários outros investidores, como um gestor americano de small caps focado em investimento ativista (quando você tenta mudar a empresa de dentro pra fora), e um sueco que fundou a Splitan Invest, também conhecida como “Berkshire Hathaway sueca”, cujo valor de mercado cresceu em 60x desde 1997 (a Berkshire cresceu “só” 20 vezes nesse período).

A cada nova interação, um insight de investimento ou um novo aprendizado que pode ser útil pra já ou pode ficar acomodado no meu cérebro para, talvez no futuro, virar uma nova ideia. Pessoas de diferentes países, idades, princípios, costumes… tudo isso acaba virando aprendizado.

É o lance da “esponja” que eu escrevi na newsletter da semana passada: estar sempre com a “esponja” conectada, absorvendo tudo ao seu redor, faz essas interações pessoais valerem muito a pena.

A viagem trouxe muitos aprendizados para mim e pro Matheus. Esses aprendizados, conforme serão absorvidos, vão sendo implementados em nosso processo de análise e tomada de decisão. É o “compounding do conhecimento” atuando da forma mais empírica possível.

As melhores ideias de investimentos não surgem da noite pro dia, assim como os aprendizados de mercado não acontecem da noite pro dia. É preciso digerir o conhecimento obtido, conectá-lo ao seu processo e ver o que deve ser implementado. 

Esta CompoundLetter não trouxe nenhum super insight – ou talvez trouxe.

Parte 2: As primeiras lições da conferência da Berkshire Hathaway

Listei abaixo os 3 itens que achei mais pertinente, mas chamei ela de “primeiras lições” pois há muita coisa ainda que eu só descobrirei que virou uma lição mais pra frente (a ideia da “esponja” citada acima).

1. A Berkshire sem Munger: foco na sucessão

Os temas “sucessão” e “mortalidade” deram o tom do evento. Sendo a primeira conferência após a morte de Charlie Munger, Buffett tocou no assunto de diferentes formas, e isso passou por enfatizar a importância do Greg Abel, vice-presidente de todas as operações ex-seguradora e escolhido para ser o seu sucessor: além de falar por bastante tempo, Abel também conduziu a assembleia de acionistas (que ocorre depois da conferência) e esteve ao lado do Buffett o tempo todo no evento.

Mas Buffett claramente sentiu a ausência de seu grande parceiro: na primeira vez que ele foi passar a palavra para Abel, chamou-o sem querer de “Charlie”, gerando aplausos efusivos da plateia. “Estou tão acostumado… eu já me controlei algumas vezes, vou ter esse lapso de novo”, disse Buffett.

2. O motivo “fiscal” para a venda de 13% da Apple

Antes de começar a conferência, foi divulgado o resultado do 1º trimestre de 2024 da Berkshire Hathaway, que mostrou uma diminuição em 13% na posição que a empresa tem em Apple (de US$ 174,3 bilhões para US$ 135,4 bilhões). A venda tem menos a ver com uma descrença à tese (Buffett inclusive disse que a Apple ainda é uma empresa melhor do que American Express e Coca-Cola) e mais a ver com um possível aumento de impostos nos EUA:

Buffett acredita que um aumento de impostos virá em breve e inclusive defendeu essa ideia (“não me incomoda nem um pouco preencher esse cheque – e eu realmente espero que, com tudo o que a América fez por todos vocês, não deveria incomodá-los que façamos isso”). Com isso, ele prefere vender as ações da Apple agora a um imposto de 21% do que correr o risco de ter um encargo maior ano que vem.

A reflexão que fica aqui: se Buffett, com seu poder de influência sobre outros investidores, resolve vender ações agora para fugir de um possível imposto, poderiam outros investidores fazerem o mesmo, tirando assim o ímpeto dos investidores por comprar ações?

3. Caixa de quase US$ 200 bilhões até junho

Com a venda das ações da Apple, o caixa da Berkshire chega a quantia recorde de US$ 189 bilhões. Buffett disse que dada as condições atuais do mercado (juros altos, inflação elevada, riscos geopolíticos), não vê problema em acumular todo esse dinheiro, que deve aumentar até US$ 200 bilhões ao longo deste trimestre corrente.

Episódio ao vivo: lições diretas de Omaha

Nesta quinta-feira (9) às 18h faremos um episódio AO VIVO no Market Makers para falar sobre os aprendizados obtidos durante toda a viagem em Omaha, e não apenas da conferência da Berkshire.

Além dos dois dias de curso que tivemos (e que vamos compartilhar os aprendizados), vamos colocar na pauta as centenas de horas que passamos nas últimas semanas consumindo tudo sobre Warren Buffett, Charlie Munger e as conferências anteriores da Berkshire.

Eu e Matheus vamos preparar um material bem especial e, por ser ao vivo, vamos responder as perguntas enviadas pelos espectadores.

Então coloca na agenda e inscreva-se no nosso canal (clique aqui) pra não perder esse encontro que teremos na quinta-feira (9) às 18h.

Compartilhe

Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br