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O que vai acontecer com o mercado depois das treasuries? Entenda

Os dois drivers da alta da bolsa estão na mesa

Por Renato Santiago

25 out 2023 14h49 - atualizado em 25 out 2023 02h50

Há pelo menos duas semanas estamos acompanhando de perto a decolagem e o voo das taxas pagas pelos títulos do tesouro dos Estados Unidos, vulgo treasuries. 

Na semana passada, essas taxas chegaram ao maior valor desde 2007 — 4,889% ao ano. 

Conforme você vem lendo por aqui, esse é o preço mais importante do mundo, usado como referência em todo tipo de mercado. No status quo das finanças contemporâneas, qualquer investimento, para ser considerado um bom negócio, precisa render mais que ele. 

Essa alta da taxa de juros americana é o que vem sugando a liquidez em todos os outros mercados. Afinal, se a taxa usada como referência por todos está mais alta, é natural que ela atraia o dinheiro dos investidores. Em outras palavras, o dinheiro vem saindo das bolsas e indo para esses títulos, que além de estarem pagando mais, são menos arriscados que ações. Esse é o mecanismo que explica em parte várias das quedas diárias que a bolsa brasileira vem tendo ultimamente. 

Essa história da alta você já conhece. 

Mas é possível que agora comecemos a contar uma história de estabilização, ou mesmo de queda. Anteontem as taxas de juros americanas começaram a dar um alívio que, na visão de alguns, pode ser atribuída a um tuíte.

Culpa do Bill Ackman ou não, as taxas dos treasuries vêm caindo, conforme o gráfico abaixo, dos últimos dois dias, da Bloomberg. Na tarde de ontem, a taxa era de 4,83% ao ano para o título de dez anos.

Cedo ou tarde os treasuries vão, no mínimo, se estabilizar, em qualquer patamar que seja. Quando isso acontecer, os investidores vão olhar de novo para a bolsa e esperar encontrar o que?

Para responder a essa pergunta, é preciso lembrar o que o mercado achava da Bolsa antes de os títulos do tesouro americano dominarem as análises. 

Os mais atentos vão se lembrar que havia uma expectativa positiva baseada no corte da Selic, que já vem acontecendo, e na pausa da alta dos juros nos Estados Unidos, que também já vem acontecendo. Ou seja, os dois drivers de alta da bolsa ainda estão na mesa.

Quando este semestre começou, portanto antes do protagonismo dos títulos americanos, o Santander fez um estudo mostrando como as ações da bolsa tinham performado em períodos de um a 24 meses após o começo dos ciclos de queda de juros. Os resultados estão na tabela abaixo.

Como você pode perceber, em quase todos os dez ciclos de queda de juros a bolsa subiu. Em média, essa alta foi de 21,26% após um ano e de 42,85% após dois anos. Nos dois casos, a bolsa só estava no vermelho em relação 24 meses após o início da queda de juros em duas oportunidades, em 2011 e em 2000. 

É claro que projeções devem ser vistas pelos investidores justamente como aquilo que são: projeções, baseadas na história, e não fatos consumados. Neste momento, no entanto, parece justo já começar a pensar em como será o mundo com uma taxa de juros americanas mais estável, mesmo seu nível terminal sendo hoje desconhecido. Para tudo isso, os dados históricos são muito úteis.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br